Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 28 de Setembro de 2015, aworldtowinns.co.uk

O seguinte texto é da Organização de Mulheres 8 de Março (Irão-Afeganistão) (8mars.com).

Não às fronteiras, não às nações, não à discriminação de género
– Esta situação já não é tolerável, temos que iniciar uma luta dinâmica!

Refugiados

A imagem de “Aylan”, a criança síria de três anos que ficou a dormir para sempre, cansada pelo “jogo de morte” nas costas do Mediterrâneo, fez estremecer o mundo e recordou-nos que estas condições já não são toleráveis. Aylan chegou às notícias por um breve momento através das lentes das máquinas fotográficas quando já não estava vivo, ao mesmo tempo que, de acordo com as estatísticas, neste mesmo momento há mais de 20 milhões de refugiados que precisam de um abrigo seguro para viverem. A história deles é um testemunho da insuportável e vergonhosa catástrofe que a humanidade está a enfrentar. Trata-se de pessoas que tiveram de sofrer as atrocidades da migração, do desterro e da falta de abrigo e avançaram para uma rota de morte para fugiram a ocupações, a guerras reaccionárias, à opressão nacional, racial, religiosa, sexual e outras... bem como à destruição do seu meio ambiente, tudo para conseguirem obter uma vida melhor para eles e para os filhos deles!

Embora a migração dificilmente seja um fenómeno novo, esta vaga de milhares de pessoas desesperadas tem forçado a comunicação social e os políticos, que a princípio se mantiveram deliberadamente em silêncio, a falar sobre esta “catástrofe humanitária”, sobretudo nos países que são o destino da maioria das pessoas que procuram asilo. Alguns deles mostram demagogicamente simpatia por estas pessoas e fingem apoiá-las, enquanto outros insistem claramente em políticas antimigração e de incitação à guerra. Chegou-se a um ponto em que Angela Merkel, a líder da austeridade económica na Europa e que é responsável por pressões destruidoras das pessoas das classes mais baixas – sobretudo os “estrangeiros” – está a apresentar-se flagrantemente como “anjo salvador” dos refugiados. O objectivo dela não é a simpatia e a compaixão para com os refugiados, mas antes absorver os sírios, que já antes estiveram no topo do Médio Oriente, como parte de uma força laboral profissional e instruída, para que eles possam reconstruir a Alemanha capitalista atingida pela crise, ou então torná-los, como outros “estrangeiros”, parte de um “exército laboral de reserva” para ajudar a baixar os salários através do trabalho “legal” e “ilegal”, e assim aumentar a rentabilidade, e também para alimentar o fogo de tendências racistas e anti-estrangeiros entre os partidos e grupos fascistas. A solução que a Grã-Bretanha e a França oferecem para terminar a vaga de imigração é bombardear um pouco mais a Síria, o que apenas significa maior destruição no inferno vivo onde estes viajantes antes viviam e onde muitas pessoas que não têm possibilidade de escapar continuam apanhadas. Os Estados Unidos da América, o líder mundial na guerra, no crime e nas mortes, especialmente no Médio Oriente, propuseram-se aceitar dez mil refugiados sírios para não ficarem atrás da brigada “humanitária”! Eles estão a manter um significativo silêncio sobre o facto de a crise síria ser, em primeiro lugar, o resultado do objectivo norte-americano de construir um “Grande Médio Oriente” com as suas invasões do Afeganistão e do Iraque. Agora que a zona se tornou num pântano para os EUA, o qual nenhuma solução imperialista alguma vez poderá terminar, todos os líderes destes crimes de guerra estão a defender os seus próprios interesses e a encobrir, por entre a agitação global, as suas mãos criminosas e manchadas de sangue.

Todos eles evitam a realidade de saber PORQUE é que milhares de mulheres, homens, crianças, velhos, jovens, deficientes, doentes, etc., estão a atravessar fronteiras a pé ou em barcos de borracha de baixa qualidade, ou ainda apinhados em comboios ou camiões de transporte de carne para fugirem, mortos ou vivos? Qual é a razão para a falta de abrigo e a miséria destas pessoas? Quem são os culpados?

Não será em primeiro lugar o sistema capitalista patriarcal que é honrosamente apoiado pelas Suas Excelências (estes políticos) que estão de facto a tentar salvá-lo a qualquer preço? Não será que a razão para esta inundação de refugiados que fogem do Médio Oriente e do Norte de África se encontra na interferência e nas guerras promovidas por estes imperialistas, que assinaram as ordens de tiro da conflagração que se tem espalhado dia-a-dia, com toda a região agora em chamas?

Ao encararmos a amarga realidade que estes refugiados sentem nos seus próprios ossos, nunca devemos esquecer que as guerras civis no Iraque e na Síria são a continuação do militarismo dos EUA e dos aliados deles, o qual visa assegurar as próprias vantagens deles. Eles destruíram o Afeganistão em nome da “liberdade para as mulheres afegãs”, de levarem a “democracia” e de “combaterem os talibãs”. Agora que os talibãs se tornaram parceiros deles no poder, as mulheres são mais oprimidas que nunca e a “democracia” é uma charada demagógica que é repetida a cada par de anos nas eleições. A mesma amarga história de destruição, fragmentação e deslocação ocorreu no Iraque, onde emergiram grupos fundamentalistas islâmicos, assegurando que os povos do Iraque e da Síria não iriam ver um único dia de paz.

Dos 18 milhões de sírios, 230 mil foram mortos, 11 milhões de pessoas foram deslocadas, 3 milhões de crianças não podem frequentar a escola e mais de 4 milhões de pessoas fugiram atravessando as fronteiras do país. Quase quatro em cada cinco refugiados sírios são mulheres ou crianças. 145 mil famílias de refugiados vivem no Líbano, na Jordânia, no Egipto e mesmo no Iraque, um quarto das quais emigraram sob a liderança ou a protecção de uma mulher. As mulheres tiveram de defender as suas famílias contra a pobreza extrema, o medo de serem encarceradas, as ameaças e a violência constante, o desprezo e as violações.

Isto dá-nos apenas um vislumbre das condições das mulheres sírias sem casa que, como sempre, são as primeiras vítimas das guerras e ocupações, e que, além de enfrentarem os perigos e ameaças do inimigo, também enfrentam outros tipos de ameaças, crueldade e violações dos próprios homens que estão a partilhar o mesmo destino. Elas debatem-se com perigos e ameaças a cada momento, com menos recursos à disposição delas. Muitas mulheres têm sido sequestradas e vendidas para a escravatura sexual ou para os florescentes mercados de prostituição destes países, por vezes a milhares de quilómetros das casas e das famílias delas, debaixo do controlo de redes mafiosas de prostituição na Europa e nos EUA, ou tornam-se escravas domésticas. As mulheres geralmente também têm a responsabilidade pelas crianças e, devido à discriminação sexual, quando os barcos sobrelotados se viram, faltam-lhes as técnicas e a capacidade de nadar, pelo que juntamente com os seus filhos elas tornam-se nas principais vítimas do mar. Este é não só o destino das mulheres sírias mas também o destino de muitas mulheres das Honduras, da Nigéria, do Myanmar, etc., que viajam para outros países imperialistas como os EUA e a Austrália, ou mesmo para países mais pobres como a Turquia e o Líbano. Hoje em dia, os destinos de milhões de refugiados e mulheres, que foram deslocados em todo o mundo sem esperança nem futuro, estão entrelaçados.

Uma coisa é certa: os culpados de todos estes deslocamentos, mortes, ausência de abrigo, violações, violência sexual, sequestros, etc., são os imperialistas patriarquistas europeus e norte-americanos que têm ajudado ou fomentado a formação de correntes fundamentalistas islâmicas no Médio Oriente e no Norte de África para preservarem e estabilizarem os seus próprios privilégios e que estão hoje a apoiá-las e a fortalece-las. Apesar da oposição político-ideológica que eles têm em relação a estes grupos religiosos retrógrados, não só os imperialistas não têm deixado de os apoiar, como também têm mantido a principal fonte de equipamento militar deles. Os privilégios deles são preservados pela sobrevivência deste sistema, o qual se baseia na opressão e exploração à custa de matarem e deslocarem milhões de pessoas nesta região e em todo o mundo.

Todas as pessoas que gritam “Abram as portas, queremos ar fresco!” pelas ruas da Europa precisam de poder compreender a mensagem desta migração: “Esta vida não merece compaixão”. As pessoas que têm aberto as portas e os corações delas a estes refugiados cansados e desesperados de hoje devem poder liderar um movimento que garanta um mundo em que não haja fronteiras, nacionalidades, discriminação de género, arame farpado, campos de acolhimento, prisões, guerras, balas, bastões, discriminação, opressão, exploração, fome, destruição, ausência de abrigo, exílio, ameaças, violações. Um tal movimento tem de ir para além da compaixão, da clemência e da ajuda humanitária e tem de se envolver numa luta revolucionária e fundamental! Deve ser um movimento que tenha o potencial para gerar esse mundo e nós, as mulheres e activistas da Organização de Mulheres 8 de Março, vemo-nos a nós mesmas como parte desta luta para o estabelecer.

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