Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 16 de Novembro de 2009, aworldtowinns.co.uk
O texto que se segue é um comunicado da Frente Democrática Revolucionária da Índia (
Índia: Parem a “Operação Caçada Verde”!
Resistamos à guerra do governo indiano contra o povo!
Defendamos as massas que lutam pela sua terra, a sua vida e o seu sustento!
O ex-Presidente norte-americano George W. Bush declarou a “Guerra ao Terrorismo” a pretexto do 11 de Setembro e atacou o Iraque e depois o Afeganistão, para que o imperialismo norte-americano pudesse capturar o petróleo, o gás e outros recursos naturais desses países estrangeiros. Também o primeiro-ministro da Índia fez uma declaração aberta de “guerra contra o terrorismo” após o 26 de Novembro. P. Chidambaram [Ministro do Interior incumbido da “Operação Caçada Verde”] anunciou muito recentemente a decisão do governo de desencadear uma ofensiva militar, submetendo-se aos ditames dos EUA. Desta vez, a ofensiva visa as pessoas deste país, aqueles que estão entre os mais destituídos e explorados. Isto apenas visa facilitar a entrega dos recursos naturais do país à pilhagem e ao saque das grandes empresas estrangeiras, embora finja visar o restabelecimento do domínio soberano do estado indiano nas regiões de influência maoista.
Um dos principais defensores desta guerra contra o povo é o [primeiro-ministro] Manmohan Singh, que era um economista no Banco Mundial controlado pelo imperialismo norte-americano, antes de entrar para a política activa. Até ao dia em que se tornou ministro das finanças do governo da UPA [agora encabeçada por Singh], P. Chidambaram era membro da Direcção da Vedanta, a multinacional mineira britânica. Também foi advogado da Enron, a famigerada empresa norte-americana de energia. Singh e Chidambaram têm sido ardentes defensores do investimento estrangeiro no país, os dois principais agentes do imperialismo norte-americano no país. A 18 de Junho de 2006, o primeiro-ministro fez uma declaração no parlamento, pronunciando que “o ambiente para o investimento estrangeiro será severamente afectado se o extremismo de esquerda continuar a florescer e a expandir-se nas regiões do país ricas em minérios”. Os despojos desta guerra declarada pelo governo de Manmohan Singh contra o povo vão ser entregues aos países imperialistas, e em particular ao imperialismo norte-americano.
Fronteiras dentro do próprio país: Muito da mesma forma como o governo dos EUA enviou 150 mil soldados para ocuparem o Iraque e 100 mil para o Afeganistão, o governo indiano também está enviar 100 mil membros das suas tropas para fazerem uma guerra nas regiões do centro e leste do país, com objectivos semelhantes em mente. Só que desta vez o alvo é o nosso próprio povo, no nosso próprio território. É como se o governo tivesse declarado que uma parte deste país é terra estrangeira e estivesse agora a enviar as suas forças armadas para a ocuparem. Além do exército e da força aérea indianos, dezenas de milhares de elementos armados da polícia, CRPF, ITBP, IRB, Força de Tarefas Especiais, Rifles Rashtriya, etc. [várias forças especiais e a polícia paramilitar] esta a ser mobilizados para participarem nesta guerra total. O ministério do interior e o ministério da defesa estão a supervisionar conjuntamente esta guerra, sob as ordens de oficiais de alta patente do exército. Coronéis e brigadeiros do exército estão a organizar Escolas de Guerra na Selva no Chhattisgarh e a treinar as tropas para enfrentarem o povo. Os famigerados Rifles Rashtriya, sob o comando directo do exército indiano, bem como o ITBP e o BSF, cujo objectivo é defender as fronteiras do país, estão a ser deslocados pelo governo central para esta ofensiva militar. Estão a ser requisitados helicópteros da força aérea, entre os quais helicópteros blindados “Garud”. O governo está a disponibilizar para esta guerra mais de Rs. 7300 crores [cerca de 1,5 mil milhões de dólares] do dinheiro arduamente ganhado pelas massas trabalhadoras.
O governo está a preparar-se para receber também a ajuda da recolha de informações dos satélites de defesa dos EUA. Também em Lalgarh, que o secretário do interior tem designado como “laboratório de operações conjuntas do exército”, foram utilizados satélites-espiões dos EUA para esquadrinharem Borpelia, Kantapahadi, Ramgarh e outras zonas adjacentes. Em Setembro de 2009, o ministro do interior Chidambaram fez uma visita de estado de quatro dias aos EUA. Pouco depois do seu regresso dessa viagem, foi desencadeada a “Operação Caçada Verde” nas regiões do norte, sul e leste de Bastar. Pelo menos 19 camponeses adivasis foram brutalmente assassinados durante essa operação. Vale a pena notar que muitas equipas de organizações de segurança dos EUA visitaram secretamente o Chhattisgarh para avaliarem os preparativos da guerra. O governo indiano também está em consulta permanente com os oficiais do exército dos EUA que estão a comandar a guerra imperialista contra o Afeganistão e o Noroeste do Paquistão.
A pilhagem empresarial para a obtenção de super-lucros é a verdadeira motivação por trás desta guerra: De 2001 em diante, houve uma disputa entre vários governos estaduais para se ultrapassarem uns aos outros nos convites aos investidores estrangeiros e às grandes casas empresariais compradoras do país para os seus respectivos estados e para assinarem centenas de acordos e Memorandos de Entendimento (MoUs). No próprio Jharkhand, nos últimos nove anos foram assinados mais de 100 MoUs pelo governo do estado com a Mittal, a Jindal, a Tata, a Rio Tinto e outras grandes empresas estrangeiras e indianas, envolvendo projectos mineiros, fábricas de aço e alumínio e de produção de electricidade, barragens, e por aí adiante. Também no Orissa, empresas como a Vedanta, a POSCO, a Tata, a Hindalco, a Jindal e a Mittal estão de olho nos recursos naturais inexplorados. O governo BJP [fundamentalista hindu] do Chhattisgarh já concluiu acordos com a Essar, a Tata, a Rio Tinto e outras grandes empresas semelhantes para a instalação de Zonas Económicas Especiais (SEZs) no sector mineiro. Só nesses três estados e até Setembro de 2009, foram concluídos acordos de investimento em vários projectos no valor de Rs. 873 896 crores [cerca de 19 mil milhões de dólares].
Os camponeses, que dependem largamente da terra, das florestas e dos rios para o seu sustento, sobretudo os adivasis, recusaram-se a entregar os seus recursos à pilhagem empresarial. Organizaram-se contra a expropriação forçada de terras para esses grandes projectos. Também os maoistas, que têm lutado contra as classes dominantes pela concretização de uma transformação revolucionária do actual sistema de exploração e pela libertação das massas oprimidas, construíram uma forte resistência contra esses projectos antipopulares.
O movimento maoista tem organizado com êxito as massas para lutarem pela anulação desses acordos e MoUs, para resistirem à incursão das grandes empresas e pelo estabelecimento de um poder revolucionário do povo que garanta os direitos das massas sobre as terras e os recursos naturais em muitas dessas regiões.
O governo intensificou a sua investida contra o povo assim que os acordos e MoUs foram concluídos e os adivasis em particular tornaram-se subsequentemente no alvo do terror estatal. A Salwa Judum [a milícia local organizada pelo estado] no Chhattisgarh, deixada à solta, resultou em centenas de adivasis mortos, violados e mutilados, milhares de casas queimadas e mais de setecentas aldeias abandonadas. Houve crianças decapitadas, cadáveres de camponeses adivasis mutilados e pendurados em árvores e a violação foi usada como forma de repressão estatal. Cerca de 300 mil adivasis foram forçados a abandonar as suas aldeias, dos quais mais de cinquenta mil foram forçados a ficar em campos da Salwa Judum. O primeiro desses campos policiais foi financiado pela Essar. Na região de Singhbhum, no Jharkhand, que atraiu o maior número de acordos de investimento empresarial, foi estabelecido um reinado de terror estatal pela “Nagarik Suraksha Samiti”. O “Comité Tritiya Prastuti” foi usado em Balumath para esmagar a resistência contra a instalação de uma unidade de produção de energia pelo Grupo Empresarial Abhijit. Também no Orissa, foi criada a chamada “Shanti-Sena”, que complementa os mercenários arruaceiros das grandes empresas, para atacar a resistência popular.
A resistência popular e o movimento revolucionário têm resistido tenazmente aos ataques conjuntos da polícia, dos paramilitares e dos bandos de vigilantes e defendido os direitos do povo sobre as terras e os recursos naturais. As forças imperialistas, e em particular o imperialismo norte-americano e o seu “parceiro estratégico”, o governo indiano, desencadearam então esta nova ofensiva militar contra os habitantes dessas regiões, com motivações semelhantes àquelas com que os imperialistas norte-americanos entraram na guerra do Iraque e do Afeganistão: controlar e saquear os recursos minerais e naturais desses países.
O único caminho em frente é Estabelecer o Poder Popular: a luta do povo pelo direito às suas terras, florestas e recursos naturais tem sido permanente desde que as forças feudais e coloniais os tentaram desapropriar pela força ou pelo “domínio da lei”. Desde a altura da imposição da Lei da Floresta pelo colonialismo britânico, através da qual foi retirada aos adivasis a propriedade das suas florestas e terras, houve muitas gloriosas rebeliões que desafiaram o poder da Índia britânica. Os adivasis Ulugulan no Jharkhand, sob a liderança de Birsa Munda, os Bhumkal Vidroh em Bastar, liderados por Gundadhar, a rebelião de Ghumeswar no Orissa, etc., tudo isto teve como objectivo defender os direitos do povo sobre as terras e as florestas. Durante o movimento Naxalbari [a revolta camponesa dos anos 60 no Bengala Ocidental que deu origem ao movimento maoista na Índia], as massas oprimidas também lutaram pelo seu direito às terras e pelo estabelecimento do poder revolucionário do povo e pelo derrube da ordem social feudal. As massas deste país em geral e os adivasis em particular têm uma história de levar a cabo lutas persistentes e firmes contra a exploração e a opressão pelas classes dominantes.
Mesmo hoje em dia, as massas de todo o país, lideradas por movimentos populares, no Chhattisgarh, Jharkhand, Bihar, Orissa, Bengala Ocidental, etc., estão a marchar em frente, a levantar bem alto a bandeira da luta revolucionária de classes e a derrotar os ataques fascistas dos governantes reaccionários, um após outro. Seja a Operação Caçada Verde ou a Operação Siddhartha, a Salwa Judum ou a Harmad Vahini, Ranveer Sena, Sunlight Sena, C-60, Centenas Negras, Sendra, Cães Cinzentos, CRPF ou Naja, as massas combatentes do país têm-se levantado repetidamente para assegurarem uma resposta apropriada à repressão conjunta das forças feudais, da grande burguesia compradora e dos imperialistas.
O governo indiano tem que parar esta guerra que está a ser feita contra o povo do centro e leste da Índia e tem que retirar imediata e incondicionalmente as suas forças armadas dessas regiões. Todos os MoUs e acordos com multinacionais estrangeiras e grandes empresas indianas para a pilhagem dos recursos naturais do povo devem ser anulados e as terras expropriadas à força para esses projectos devem ser restituídas aos seus legítimos proprietários. Além disso, deve ser reconhecida a propriedade do povo sobre as terras e florestas. Caso contrário, o povo deste país revoltar-se-á contra esta guerra levada a cabo contra ele pelos governos central e estaduais e levará a cabo uma resoluta luta pelo estabelecimento do poder soberano do povo sobre os seus recursos, as suas fontes de vida e sustento. Esta luta não cessará enquanto o sonho de uma Índia verdadeiramente Democrática e Popular, idealizada por Bhagat Singh e por milhares de revolucionários martirizados, não se transformar em realidade.