Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 21 de Setembro de 2009, aworldtowinns.co.uk

Colômbia:
“Imperialistas ianques e todas as suas bases militares — rua!”

O texto que se segue é a tradução de um comunicado das Brigadas Anti-Imperialistas da Colômbia. Para saber mais sobre a questão das bases norte-americanas na Colômbia como parte de uma ofensiva continental, ver o SNUMAG de 31 de Agosto de 2009.

A denúncia por parte de alguma comunicação social da oferta do governo de Uribe para deixar as forças armadas norte-americanas terem bases na Colômbia revelou apenas uma parte da realidade. Essa oferta de deixar os militares ianques usarem as bases é esperada há um ano, desde o desfile de vários representantes dos EUA que cá vieram, entre os quais o Almirante Michael Mullen, Chefe Conjunto de Pessoal das forças armadas. E coincide com os interesses do lacaio Uribe que, desde a véspera da invasão do Iraque em Janeiro de 2003, tem vindo a clamar que a máquina de guerra imperialista se desloque para a América do Sul, sobretudo para a Colômbia (El Espectador, 16 de Janeiro de 2003). Ele anunciou o ano passado que “não havia nenhum obstáculo a também aceitar uma força internacional, caso necessário, porque as nossas políticas de segurança são de total boa-fé” (BBCMundo.com, 21 de Janeiro de 2008).

Centenas de soldados e agentes ianques (chamados de “contratados de segurança” pela comunicação social) circulam pelas cidades e campos da Colômbia, aconselhando as forças armadas no combate ao movimento de guerrilha, na protecção dos investimentos das empresas transnacionais imperialistas, no apoio político e militar a um dos seus mais fiéis lacaios e no reforço da sua presença na região. O imperialismo visa mudar-se da base de Manta, na costa equatoriana [de onde os EUA acabam de ser forçados a sair] para a sua própria base em Tres Esquinas, no departamento colombiano de Caqueta (preparada desde 2000, integrando o Plano Colômbia), actualizar a base de San Andres (um centro de treino técnico para o sistema ianque de radar em toda a região) e renovar a base de Palanquero.

O mês passado, o Congresso dos EUA atribuiu 46 milhões de dólares para estas últimas instalações, fundamentais para um melhor posicionamento estratégico a nível global na disputa dos EUA com os seus actuais ou potenciais rivais pela manutenção do controlo do mundo. Os planos do Pentágono já listam há vários anos Palanquero como base dos EUA. A sua actividade não se limitará a operações de combate aos narcóticos e a sua zona de intervenção estender-se-á para além da região andina. O seu objectivo é estabelecer uma base cujo alcance de “mobilidade aérea” (com os aviões de transporte C-17) cubra todo o continente sul-americano e “tenha dois objectivos: apoiar a implementação da estratégia de combate regional e apoiar a rota de mobilidade para África” (“Estratégia Global de Mobilidade”, livro branco do Comando de Mobilidade Aérea da força aérea norte-americana). O Almirante Mullen não estava apenas a utilizar palavras ocas quando disse na Colômbia em Janeiro de 2008 que a relação entre Washington e Bogotá era vital tanto para a região como para o mundo.

Além disso, o Plano Colômbia (e os seus herdeiros, o Plano Patriota e o Plano Victoria), inicialmente planeados para a “guerra às drogas” e depois para a “guerra ao terrorismo”, também integra planos mais vastos de controlo regional, como o Plano Puebla-Panamá [um plano militar dos EUA para o México e a América Central] e a Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Regional na América do Sul. Não é por acaso que desde o ano passado os imperialistas ianques têm estado a reactivar a IV Frota Naval, com o objectivo de assegurar o controlo militar regional em que se baseiam esses planos económicos, planos não só para a integração regional mas também para integrar a região no mercado mundial.

O governo de Uribe é claramente o principal aliado ianque na região. Isto é fundamental perceber quando se tem em conta o facto de que em países como a Venezuela, o Equador e a Bolívia, actuais ou potenciais rivais podem competir com a hegemonia económica e militar dos EUA. É este o contexto do papel do Brasil, que está a desenvolver uma aliança com a Rússia, a China e a Índia, e que também poderá incluir o México e a Argentina. Como os governos desses países não são cem por cento satisfatórios do ponto de vista do imperialismo norte-americano e da sua chamada democracia, e como estão a esforçar-se por se afastarem do seu jugo, os EUA consideram-nos uma ameaça e temem perder o controlo do seu “jardim das traseiras”. Os EUA acham que se podem armar até aos dentes, mas que os países oprimidos não o podem fazer, pelo que os porta-vozes dos imperialistas têm exprimido preocupação com o reforço do armamento na Venezuela e com o alegado apoio de Hugo Chávez aos guerrilheiros colombianos das FARC, queixando-se de que Chávez possa estar a promover uma “destabilização” da região a longo prazo.

“A guerra às drogas” é na realidade uma guerra contra o povo

Quando os vassalos colombianos dos EUA, Uribe e Padilla de Leon [chefe das forças armadas colombianas] anunciaram as bases, outros governos latino-americanos ficaram preocupados e muitos deles exprimiram a sua discordância. Representantes do imperialismo como a Secretária de Estado Hillary Clinton vieram acalmar a situação, dizendo coisas como “Os EUA não têm e não estão a tentar ter bases na Colômbia”, que as bases em que se vão instalar “não são permanentes” e que “o comando e o controlo das bases, bem como a sua segurança, continuam a ser da responsabilidade da Colômbia”. Os ianques estão a mentir, tal como sempre o fazem quando preparam o terreno para a guerra. Quando Clinton diz que “não têm bases”, é porque já as têm; quando diz que elas “não são permanentes” é porque os ianques já lá estão e aí pretendem continuar. A “Estratégia Global de Mobilidade” acima mencionada baseava-se no “Estudo de Requisitos de Mobilidade de 1995 — Revisão de Fundo”, o qual, nos “ajustes” feitos em 2000 e 2005, claramente categoriza a base de Palanquero como chave para a “Rota Sul”, rumo a África e daí ao Médio Oriente. O cinismo da Casa Branca sobre essas questões já é lendário. Quando apanhado a mentir sobre as chamadas “armas de destruição em massa” no Iraque, um alto responsável de Bush citou a declaração de Winston Churchill de que “Em tempo de guerra, a verdade é tão preciosa que deve ser sempre protegida por uma barreira de mentiras”.

Da mesma forma, a “guerra às drogas” inventada pelo governo Reagan nada tem a ver com impedir o tráfico de drogas. Ela visa fortalecer a máquina de repressão e controlo, sobretudo contra os jovens e os oprimidos nos EUA. A nível internacional, os imperialistas ianques usam a “guerra às drogas” para disfarçar intervenções militares, para controlarem outros países de uma forma mais firme e para desenvolverem esquemas e tramas locais e regionais. O imperialismo norte-americano está a olear as suas forças armadas e a manobrar para conquistar uma melhor posição para o futuro, seja a pretexto do combate ao tráfico de drogas ou ao terrorismo (que eles definem da maneira que querem). Eles erguem qualquer uma dessas duas bandeiras sempre que isso lhes convém, para esmagarem insurreições no volátil “jardim das traseiras” dos ianques. Já mandaram tropas para a fronteira mexicana. No passado, quando tinham lacaios imperialistas fidedignos a governar a Bolívia, mandaram aviões de transporte militares C-5 com helicópteros Blackhawk, aviões de radar Awacs, metralhadoras M-60, equipamento de comunicações e cozinhas móveis de combate. Esse foi o “modelo” usado para a introdução de tropas norte-americanas em todo o mundo, num planeta polvilhado por bases militares, ameaçando os países na órbita dos EUA para fazê-los assumir o custo e os riscos militares.

Muita gente — e mesmo muita gente que se diz democrata, progressista, anti-imperialista ou de “esquerda” — vê o imperialismo como um fenómeno externo e não como uma relação de produção interna às economias dos países oprimidos. E muitos glorificam um nacionalismo estreito que hoje faz esvoaçar o trapo nacional e chama as pessoas a defenderem a chamada “soberania nacional”. Não se pode combater o inimigo ao mesmo tempo que se ergue a bandeira dele.

A Colômbia é, tal como todos os países da América Latina, dependente do imperialismo. É uma nação oprimida pelo imperialismo, sobretudo pelo norte-americano. Nunca foi verdadeiramente independente. Foi colónia do império espanhol e depois semicolónia britânica. Durante o último século, tem sido uma semicolónia do imperialismo norte-americano, o qual exerce o seu domínio nos campos económico, tecnológico, político, militar e cultural. A sua dependência económica, financeira, tecnológica e militar significa que não há nada de real na sua independência política. A dependência económica leva obviamente à dependência política.

O imperialismo não é uma palavra vazia e já fora de moda. É um sistema global de exploração e opressão que se tem mantido à custa do sofrimento e da exploração de centenas de países na Ásia, em África e na América Latina e da opressão dos povos do mundo. À sua disposição tem as suas próprias e inigualáveis máquinas de guerra e os exércitos lacaios das nações oprimidas e, quando acha isso necessário, organiza, treina e arma bandos paramilitares, “Contras”, “Mão Negra” e “Triplo A” para fazerem o seu trabalho sujo [trata-se de referências a vários esquadrões da morte organizados pelos EUA na América Latina]. E agora a Colômbia irá desempenhar um importante papel nos seus planos regionais. Entre 1999 e 2007, foram treinados 47 394 oficiais colombianos em escolas ianques, enquanto o total para todo o resto do hemisfério foi de apenas 52 221 (“Por debajo del radar”, LAWGEF, CIP e WOLA, 2007). A Colômbia é o maior recipiente de ajuda militar dos EUA depois de Israel e do Egipto. A embaixada ianque na Colômbia é actualmente a maior do mundo em termos de número de pessoal aí colocado — mais de 2000 pessoas! Este Plano Colômbia e as suas subsequentes modificações fazem parte dos planos estratégicos dos EUA para o domínio regional e global.

Hoje em dia, o imperialismo norte-americano é levado a manter os seus mercados, a controlar as suas fontes de energia e, em última análise, o seu domínio mundial e não quer que ninguém se ponha no seu caminho. Isto está intimamente relacionado com os seus planos militares para controlar e precaver os acontecimentos.

A presença de bases norte-americanas na Colômbia é um outro passo na transformação da Colômbia de neocolónia em quase colónia do imperialismo norte-americano. Estão a acumular-se nuvens negras sobre o horizonte do nosso país. Depois da noite negra marcada pelos massacres cometidos pelos paramilitares, pelos crimes do estado e por uma mistura de ditadura fascista e despotismo dos grandes proprietários feudais que se tem mantido no poder há sete anos, agora enfrentamos algo ainda pior — uma escalada da intervenção daqueles que já trouxeram tanto sofrimento aos povos do mundo.

Mas a opressão gera resistência e enquanto houver homens e mulheres revolucionários que lutem militantemente pela elevação da consciência do povo e pela criação de um verdadeiro e combativo movimento anti-imperialista e para o levarem ao nível da revolução, haverá a perspectiva de algo verdadeiramente novo. Temos que forjar hoje essa grande unidade combativa anti-imperialista de forma a criarmos as bases para conseguirmos expulsar os imperialistas e todos os seus lacaios da Colômbia e de toda a região, com o objectivo de desencadearmos um forte movimento de resistência dos povos do mundo e de elevarmos o seu nível para que ele possa fazer com que o imperialismo prove o pó da derrota.

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