Esta linha temporal foi traduzida para português (com algumas notas adicionais) pela paginavermelha.org a partir da edição especial n.º 323, de 24 de novembro de 2013 e atualizada a 30 de abril de 2014, do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA, disponível em inglês em revcom.us/en/a/323/real-history-communist-revolution-en.html e em castelhano em revcom.us/es/a/323/verdadera-historia-de-la-revolucion-comunista-es.html. Esta linha temporal complementava a entrevista a Raymond Lotta, “Não sabes o que crês que “sabes” sobre... A revolução comunista e o VERDADEIRO caminho para a emancipação: A sua história e o nosso futuro”.
A VERDADEIRA História da Revolução Comunista
A efémera Comuna de Paris de 1871, a revolução russa de 1917-1956 e a revolução chinesa de 1949-1976 foram levantamentos titânicos dos “escravos” modernos da sociedade contra os seus “amos”. Contra incríveis adversidades e obstáculos, e num intervalo de tempo que equivale a um nanossegundo da história humana, estas revoluções realizaram coisas extraordinárias — e mudaram o curso da história humana. Pela primeira vez foi aberta uma brecha na longa noite de trevas da humanidade — o período em que a sociedade tem estado dividida em exploradores e explorados, opressores e oprimidos. Toda uma nova forma de sociedade começou a ser criada.
O Manifesto Comunista
Do início a meados do século XIX
O capitalismo tornou-se dominante na Europa e trouxe tumultuosas mudanças políticas, económicas e sociais. As revoluções lideradas pela burguesia (os capitalistas) sacudiram a velha ordem, mas apenas a substituiu por novas formas de exploração e opressão. Da Inglaterra à Rússia, dezenas de milhões de operários foram violentamente expulsos dos campos para cidades em rápida expansão. Entre os operários, a morte por cólera e outras doenças era generalizada. Um milhão de russos morreu na epidemia de cólera de 1847-1851. Era comum as crianças — muitas vezes órfãs — trabalharem 12 a 14 horas por dia em fábricas.
1848
Karl Marx e Friedrich Engels publicaram o Manifesto Comunista, o qual revelou pela primeira vez que “a existência de classes está ligada apenas a fases do desenvolvimento histórico determinado da produção”.* Um outro mundo muito melhor era possível para toda a humanidade. O Manifesto Comunista apelava a que os operários de todos os países se unissem para derrubar o capitalismo e estabelecer sociedades socialistas com o objetivo de criar um mundo sem classes.
A Comuna de Paris
1871
Em março, os operários, juntamente com membros da classe média e de outros setores da população de Paris, França, ergueram-se contra o regime capitalista. O exército francês foi expulso da cidade. Os revolucionários estabeleceram a Comuna de Paris. A Comuna separou a igreja e o estado. Os operários tomaram e passaram a gerir as fábricas abandonadas pelos capitalistas. A Comuna tinha como meta entregar a toda a população o poder de governarem a sociedade. As mulheres desempenharam um importante e heroico papel na insurreição e no breve desenvolvimento da Comuna.
O velho regime reagrupou as suas forças militares e lançou um ataque selvagem contra a Comuna. A Comuna foi afogada em sangue e a mensagem do velho regime era clara: nunca mais os que nada têm se voltarão a erguer, nunca mais o socialismo e o comunismo chegarão ao poder.
A Comuna anunciou ao mundo que os oprimidos e explorados estavam a ocupar o palco da história para escalarem às alturas da emancipação humana. Marx apoiou entusiasticamente a Comuna. Viu-a como uma primeira tentativa histórica de criar uma nova forma de governo de classe e um novo modo de governação — os esboços iniciais da ditadura do proletariado. Mas ele também salientou que uma das fatais fraquezas da Comuna foi ela não ter agido decisivamente para estilhaçar e desmantelar completamente a velha máquina do estado, concentrada no exército permanente do velho regime. Para estabelecer todo um novo sistema económico e social é necessário criar um novo poder de estado que possa impor a vontade dos anteriormente oprimidos e explorados.
O primeiro estado socialista do mundo
1914
Com a erupção da Primeira Guerra Mundial em 1914, os operários, os camponeses e outros foram enviados para as linhas da frente para se chacinarem uns aos outros numa guerra entre blocos encabeçados pela Alemanha, por um lado, e pela Grã-Bretanha e os Estados Unidos, que entraram mais tarde, por outro. Foi uma guerra imperialista pela supremacia global e em particular pelo controlo das regiões coloniais oprimidas de África, da Ásia e do Médio Oriente. Cerca de 10 milhões de soldados morreram nessa guerra.
O líder comunista russo V. I. Lenine lutou para que se defendesse e se aprendesse com a inspiradora experiência da Comuna de Paris, tanto dos seus pontos fortes como dos seus pontos fracos. Ele identificou a necessidade de um partido comunista de vanguarda, e criou-o — o qual ficou conhecido como partido bolchevique. Lenine e os bolcheviques salientaram-se entre todos os principais partidos da Europa pela oposição deles ao patriotismo de “unidade à volta da bandeira nacional” que atravessou vários setores das massas nos países imperialistas para que estas apoiassem e combatessem na guerra.
1917
Lenine chamou à Primeira Guerra Mundial uma guerra imperialista “de conquista, de pilhagem e de rapina”.† As pessoas na Rússia sofriam horrivelmente sob a tirania autocrática do czar (imperador). A Rússia era um país imperialista, mas a vasta maioria da população era constituída por camponeses desesperadamente pobres. Em outubro de 1917, Lenine e os bolcheviques lideraram uma insurreição armada de massas que afastou do poder o velho regime. A insurreição revolucionária baseou-se inicialmente nos operários das principais cidades da Rússia e estendeu-se depois às zonas rurais, unindo-se em especial aos mais pobres e mais oprimidos dos camponeses.
Os capitalistas atacam a nova sociedade
1917-1921
O novo governo revolucionário emitiu de imediato dois decretos portentosos. O primeiro retirou a Rússia da guerra e apelou ao fim da chacina e a uma paz sem conquistas nem anexações. O segundo decreto autorizou os camponeses a tomarem as vastas propriedades rurais do czar, das classes aristocráticas terratenentes e da igreja (que era uma grande proprietária de terras).
Estava a nascer um mundo novo — pela primeira vez desde o surgimento da sociedade de classes, uma sociedade deixou de estar organizada em torno da exploração. A revolução bolchevique reverberou e inspirou os oprimidos de todo o mundo. Os revolucionários em todo o mundo criaram partidos comunistas de vanguarda. A União Soviética foi furiosamente atacada pelas potências capitalistas-imperialistas — com calúnias e com armas. Catorze países estrangeiros invadiram-na para esmagarem a revolução e aliaram-se aos defensores reacionários da velha ordem da Rússia.
A guerra civil causou devastação durante três anos. As forças “vermelhas” soviéticas combateram heroicamente as forças “brancas” contrarrevolucionárias. Em 1921, o regime revolucionário já tinha sido estabelecido em toda a União Soviética.
A economia socialista soviética
Anos 1920
Lenine liderou a União Soviética até a sua morte em 1924. Depois da morte de Lenine, José Estaline, um grande revolucionário, liderou o povo soviético na construção de uma sociedade e uma economia socialistas. Em 1928, a União Soviética lançou o “I Plano Quinquenal”. Milhões de operários e camponeses foram entusiasmados pelo espírito de “estarmos a construir um mundo novo”. Nas fábricas e nas aldeias, as pessoas discutiam planos: como reorganizar a produção e a diferença que o facto de estar a ser construída uma economia assim traria às vidas delas — e às das pessoas em todo o mundo. As pessoas voluntariavam-se para ajudarem a construir vias férreas em regiões inóspitas. Os operários trabalhavam voluntariamente em longos turnos. Nas siderurgias, as pessoas cantavam canções revolucionárias a caminho do trabalho. Nunca antes na história tinha havido uma tal mobilização de pessoas para, de uma maneira consciente, atingirem metas económicas e sociais planeadas.
Tudo isso acontecia em extremo contraste com o mundo capitalista devastado pela Grande Depressão. A taxa de desemprego nos EUA em 1933 era de 24%. Na União Soviética, havia o que era essencialmente pleno emprego e o Partido Comunista mobilizou a sociedade para satisfazer as necessidades essenciais.
Da prisão de nações à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
Dos anos 1920 a meados dos anos 1930
A Rússia pré-revolucionária tinha sido um império — conhecido como “prisão de nações”. A nacionalidade russa dominante tinha colonizado zonas e regiões da Ásia Central (como por exemplo o Uzbequistão) e também tinha subordinado regiões mais desenvolvidas como a Ucrânia. As nacionalidades não russas constituíam cerca de 45% da população, mas as culturas minoritárias eram violentamente reprimidas e os idiomas delas não podiam ser nem falados nem ensinados nas escolas. O povo judeu era periodicamente sujeito a “pogroms” antissemitas semelhantes aos linchamentos feitos por turbas nos EUA.
Depois da vitória da revolução em 1917, a maioria destas nações e nacionalidades ficou unida na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Foram dedicados recursos a elevar os níveis de vida das nacionalidades da Ásia Central e à promoção das suas culturas antes reprimidas e excluídas. O sistema de ensino, a comunicação social e as instituições culturais elevaram a consciência sobre as condições dos povos oprimidos e combateram os preconceitos. O novo estado proibiu oficialmente o antissemitismo.
A libertação da mulher na União Soviética
Dos anos 1920 a meados dos anos 1930
Nos primeiros 10 anos da revolução bolchevique, uma vasta revolução social transformou a sociedade soviética. Os homens deixaram de ter uma autoridade patriarcal absoluta sobre as mulheres e os filhos ao abrigo da lei. As mulheres passaram a receber um salário igual. Os cuidados de maternidades eram fornecidos gratuitamente. A União Soviética foi o primeiro país da Europa moderna a legalizar o aborto. Todas estas mudanças foram momentosas por direito próprio, mas faziam parte de uma visão mais vasta e de uma missão para construir um mundo novo livre de toda a exploração e opressão.
Um grande foco da transformação socialista na União Soviética foi a libertação da mulher. Um momento alto: no Dia Internacional da Mulher em 1927, o Partido Comunista lançou um movimento para eliminar as tradições profundamente arraigadas e brutalmente opressoras impostas às mulheres nas repúblicas soviéticas da Ásia Central, entre as quais o casamento de meninas crianças com velhos e o de os homens terem múltiplas esposas. No Uzbequistão, no Tajiquistão e no Azerbaijão, o estado revolucionário apoiou as mulheres a se libertarem das pesadas roupas feitas de crina e algodão que as cobriam da cabeça aos pés e que as mulheres e as meninas muçulmanas com mais de 9 ou 10 anos eram forçadas a usar na presença de homens que não fossem da família delas.
A Segunda Guerra Mundial e a União Soviética
1933-1938
Hitler e os nazis chegaram ao poder na Alemanha em 1933. Em finais dos anos 1930, a União Soviética ficou na mira do poderoso exército imperialista alemão que estava motivado a esmagar e dominar a União Soviética. A nova sociedade socialista enfrentava uma situação extremamente perigosa.
1939-1945
Em 1939 rebentou a Segunda Guerra Mundial entre dois blocos de potências imperialistas que buscavam redividir violentamente o mundo. Os blocos em contenda eram encabeçados pelo Japão e pela Alemanha, por um lado, e pelos EUA e a Grã-Bretanha, pelo outro.
A União Soviética derrotou as tropas invasoras alemãs em 1943 na épica Batalha de Estalinegrado. Cerca de 26 milhões de cidadãos soviéticos perderam a vida na Segunda Guerra Mundial. A União Soviética saiu vitoriosa mas sofreu uma grande devastação.
1956
Após a morte de Estaline em 1953, novas forças burguesas (capitalistas-imperialistas) no interior do Partido Comunista manobraram para tomar o poder. Em 1956, Nikita Khrushchev, um alto responsável do partido e do governo, consolidou o domínio de uma nova classe capitalista e liderou a sistemática reestruturação da União Soviética numa sociedade capitalista, ainda que se tenha continuado a chamar socialista. Isto representou o fim do primeiro estado proletário.
Os comunistas em todo o mundo foram confrontados com a necessidade de fazer o balanço, de aprender e de avançar a partir desta experiência. Este grande desafio foi assumido por Mao Tsétung, o líder da Revolução Chinesa.
A China antes da revolução
Antes da revolução de 1949, as grandes potências capitalistas tinham esquartejado e dominado económica e militarmente a China. A grande maioria do povo chinês era constituída por camponeses pobres, sujeitos ao domínio cruel e arbitrário dos todo-poderosos proprietários rurais. Com uma frequente escassez de alimentos e uma selvagem exploração, muitas vezes os camponeses enfrentavam a fome, por vezes acabando por vender os próprios filhos para que os outros membros da família pudessem sobreviver. As mulheres estavam sujeitas a espancamentos, aos casamentos arranjados, à prostituição forçada e aos pés enfaixados, uma prática em que os pés das meninas eram brutalmente embrulhados e deformados para os manter pequenos e “atraentes” para os homens. A situação nas cidades era desesperada. Antes da Segunda Guerra Mundial, em Xangai eram recolhidos das ruas 25 mil cadáveres por ano. Num país de 500 milhões de habitantes, só havia 12 mil médicos treinados em medicina ocidental. Morriam quatro milhões de pessoas por ano devido a doenças infecciosas e parasitárias. A esperança de vida era de 32 anos. Havia 60 milhões de viciados em drogas.
Foi perante esta situação que o povo chinês fez a revolução.
A revolução chinesa triunfa
1921
Mao Tsétung ajudou a fundar o Partido Comunista da China — a liderança de vanguarda para a revolução chinesa.
1934
Mao liderou 100 mil combatentes do Exército Vermelho e organizadores comunistas na Longa Marcha — uma perigosa travessia de 9600 quilómetros por pântanos e montanhas para se reagruparem e se reorganizarem face a uma massiva repressão e para propagarem a revolução. Eles combateram os senhores da guerra e os exércitos reacionários. Só 10 mil pessoas conseguiram chegar ao fim da marcha, em Yenan, no noroeste da China, mas a revolução conseguiu avançar. Mao, agora o líder claro do Partido Comunista da China, desenvolveu e aplicou uma via para a tomada do poder a nível nacional e para o estabelecimento do socialismo — uma via que incluía uma estratégia militar de guerra popular prolongada.
1937-1945
Em 1939, rebentou a Segunda Guerra Mundial. Em 1937, os japoneses tinham invadido e ocupado grande parte da China. Neste contexto, e com os olhos postos no objetivo da tomada do poder a nível nacional, Mao e o Partido Comunista lideraram a guerra contra a ocupação japonesa. As forças japonesas foram derrotadas em 1945. De imediato, rebentou uma guerra civil entre as forças lideradas pelos comunistas e as forças reacionárias do Kuomintang, apoiadas pelos imperialistas norte-americanos. Após quatro anos de intensos combates, a revolução chinesa triunfou em 1949.
O novo poder de estado na China
1949-1957
A revolução chinesa estabeleceu um novo poder de estado, uma forma da ditadura do proletariado, no centro do qual estava a aliança entre operários e camponeses. Este novo poder de estado protegeu os direitos do povo, reprimiu a contrarrevolução e tornou possível uma transformação global da sociedade e o apoio à revolução mundial. Nas cidades e nos campos foram estabelecidas novas instituições a todos os níveis da sociedade, lideradas pelo Partido Comunista mas envolvendo milhões e milhões dos anteriormente explorados a tomarem a iniciativa para transformar e administrar a sociedade.
Com o poder de estado, foi feita uma reforma agrária como movimento revolucionário de massas. Uma nova lei do matrimónio deu às mulheres o direito a se divorciarem. Foram lançadas campanhas de massas nos campos da saúde e do ensino e foi erradicado o vício generalizado do ópio.
O Grande Salto em Frente
1958-1960
Na China socialista, foi iniciado o Grande Salto em Frente. Nas zonas rurais, as comunas juntaram dezenas e dezenas de milhões de camponeses para trabalharem coletivamente a terra. Além disso, as comunas combinavam atividades económicas, políticas, sociais, administrativas e de milícias.
A energia e a criatividade das pessoas foram mobilizadas e libertadas. As comunas trabalharam para recuperar terras, plantar árvores, construir estradas e erigir projetos de irrigação e controlo de cheias. O uso de tratores e outra maquinaria tornou-se mais racional porque a terra era propriedade coletiva. Foram desenvolvidas indústrias de pequena escala, tais como fábricas de fertilizantes e cimento e pequenas centrais hidroelétricas. Os camponeses começaram a dominar a tecnologia e o conhecimento científico. Destas e de outras maneiras, foram reduzidos os fossos entre a cidade e o campo, entre os camponeses e os operários e entre o trabalho intelectual e o trabalho manual.
A culpa de uma grande fome em 1959-60 tem sido atribuída às comunas. Mas a realidade é que as comunas não foram a causa dessa fome. E, por volta de 1970, em grande parte devido às mudanças tornadas possíveis pelas Comunas Populares, a China já tinha resolvido o seu ancestral problema da fome. Isto deveu-se a as comunas e toda a economia socialista terem estabelecido um sistema fiável de produção e distribuição de alimentos ao povo, pela primeira vez na história da China.
A opressão da mulher foi desafiada. As cozinhas, refeitórios e infantários comunais permitiram a entrada das mulheres na batalha pela criação de uma nova sociedade. Os velhos hábitos e valores que ainda persistiam, como a superstição e o fatalismo, foram combatidos, bem como os costumes feudais, como os matrimónios arranjados.
As comunas representaram um grande salto na participação direta das massas em todas as esferas da sociedade e na transformação das relações entre as pessoas.
Mao lança a Revolução Cultural
1966
Em parte com base no balanço da restauração do capitalismo na União Soviética, Mao viu que o Partido Comunista poderia ser transformado num instrumento de uma nova classe exploradora. E, de facto, houve uma aguda luta na liderança do Partido Comunista entre um núcleo de revolucionários liderados por Mao e, por outro lado, alguns altos dirigentes do partido e do estado — os “seguidores da via capitalista” —, os quais tinham vindo a ganhar força e a trabalhar para derrubar o socialismo e restaurar o capitalismo.
Em 1966, para lidarem com isto, Mao e o núcleo revolucionário lançaram a Grande Revolução Cultural Proletária. A Revolução Cultural marcou um passo em frente na resolução de um problema histórico-mundial da revolução comunista — o de impedir a contrarrevolução, mas de uma maneira que permitia que as massas desempenhassem o papel decisivo e consciente na transformação da sociedade e a se transformarem a elas mesmas: que não fosse uma remoção, vinda de cima, dos seguidores da via capitalista. Através de uma luta política e ideológica de massas liderada pelo núcleo revolucionário do partido, as massas desempenharam um papel decisivo na eliminação política dos centros do poder burguês no interior do Partido Comunista. A Revolução Cultural tinha a ver com o revolucionamento de toda a sociedade e a transformação da maneira de pensar e dos valores das pessoas.
A retoma do poder político
1966-1969
Os jovens ativistas revolucionários, os Guardas Vermelhos, desempenharam um papel chave no início e na disseminação da Revolução Cultural. Esta luta foi plena de invenção e inovação: concentrações de rua, protestos, greves e manifestações. Por todo o país surgiram dazibaos [“cartazes de grandes carateres”]. Estes incluíam cartazes de protesto com letras grandes colados por todo o lado, nos quais as pessoas criticavam as políticas e os líderes. Foram disponibilizadas instalações públicas para reuniões e debates. Floresceram jornais de pequena circulação. Só em Pequim, houve mais de 900 jornais. O estado revolucionário disponibilizou materiais e instalações para atividades políticas e debates.
1967-1968
A Revolução Cultural teve uma nova reviravolta. Quarenta milhões de operários em todo o país envolveram-se em intensas e complexas lutas de massas para retomarem o poder às administrações municipais e organizações do partido entrincheiradas e conservadoras. Houve paragens laborais e, por vezes, lutas para que o trabalho não parasse.
A “Tempestade de Janeiro” em Xangai
1967
Xangai, outono de 1966: nas fábricas havia cerca de 700 organizações. As forças revolucionárias mobilizaram-se e os seguidores da via capitalista contra-atacaram, tentando desacreditar os revolucionários e comprar o povo com aumentos salariais.
Os operários revolucionários, com uma liderança maoista, uniram vastos setores da população da cidade. Em janeiro de 1967, romperam o controlo dos seguidores da via capitalista que administravam a cidade. Tomaram o principal edifício municipal, ocuparam as centrais de comunicações e começaram a organizar a distribuição de bens essenciais na cidade. Foi a “Tempestade de Janeiro” de Xangai.
As pessoas organizaram discussões e debates de massas sobre como administrar a cidade e que estruturas políticas melhor serviriam as metas da revolução. Experimentaram novas instituições de governação política em toda a cidade.
“As mulheres levam aos ombros metade do céu”
1966-1976
A luta contra a opressão da mulher constituiu uma grande parte da “revolução dentro da revolução”. As campanhas de massas lançadas durante a Revolução Cultural criticaram o pensamento feudal confuciano e capitalista que defende divisões exploradoras, opressoras e desiguais na sociedade.
Em contraste com a cultura do mundo atual que degrada as mulheres como fracas ou objetos sexuais, durante a Revolução Cultural, as óperas e ballets modelo colocavam as massas na frente e no centro do palco e tinham mulheres como personagens centrais, física e ideologicamente fortes. Popularizadas em todo o país, estas obras exprimiam as vidas das pessoas e o papel delas na sociedade e na história.
Milhões de jovens mulheres participaram na vasta luta revolucionária. As mulheres e os homens mobilizaram-se para combater a opressão da mulher como parte da construção de uma nova sociedade. E, ao construírem o socialismo, as mulheres foram libertadas porque “levam aos ombros metade do céu e devem conquistá-lo” — não só na luta contra a sua própria opressão, mas na luta para transformar e libertar toda a sociedade.
A arte revolucionária
1966-1976
Antes da Revolução Cultural, a cultura popular, como a ópera chinesa, era dominada por temas e personagens feudais e burgueses, e os seguidores da via capitalista no partido promoviam isso.
A Revolução Cultural desencadeou uma explosão de atividade artística entre os operários e os camponeses — poesia, pintura, música, contos e mesmo cinema. Os projetos de arte de massas e novos tipos de obras artísticas populares e colaborativas propagaram-se, incluindo às zonas rurais e às regiões mais remotas.
Foram organizadas brigadas de trabalhadores da cultura para viajarem até às regiões remotas, as quais levavam geradores acionados por bicicletas para projetarem filmes e trabalhavam com os camponeses para criarem e representarem peças e concertos. A vasta maioria da população — os camponeses chineses — nunca tinha visto um filme ou uma peça de teatro, nem tinham tido oportunidade de participar em atividades culturais a este nível. Houve artistas que se mudaram para as zonas rurais, vivendo e trabalhando — e aprendendo — com os camponeses e, por sua vez, ensinaram arte aos camponeses. Desta maneira, não só foi criada uma cultura revolucionária fresca e dinâmica, como estavam a ser eliminadas as divisões entre a cidade e o campo e entre os trabalhadores manuais e os artistas e intelectuais.
As “novas coisas socialistas”
1966-1976
O ensino foi radicalmente transformado durante a Revolução Cultural. Foram desafiados os métodos de ensino do tipo de “ensinar para os exames” e nas escolas foi fomentado o espírito crítico. O estudo foi combinado com a atividade produtiva. Novas políticas de admissão possibilitaram que os filhos dos camponeses e dos operários se inscrevessem nas universidades. Foi levada a cabo uma luta contra a ideia elitista burguesa de usar o conhecimento para vantagem competitiva sobre os outros e para o sucesso individual, o lucro privado e o prestígio. Em vez disso, o conhecimento passou a ser usado ao serviço da luta revolucionária para refazer a sociedade e o mundo em benefício da humanidade.
As “novas coisas socialistas” refletiam e promoviam as novas relações e valores socialistas. A investigação de “portas abertas” levou cientistas às zonas rurais para fazerem as suas experiências entre os camponeses. Os cientistas aprenderam sobre a vida dos camponeses e com as perguntas e análises deles; os camponeses aprenderam o método científico. As instituições de ensino e os institutos de investigação nas cidades desenvolveram relações de cooperação com as fábricas, os comités de bairro e outras organizações. As pessoas iam aos laboratórios e os laboratórios iam ter com as pessoas.
No que foi chamado o “movimento dos médicos pés-descalços”, jovens urbanos instruídos e jovens camponeses foram treinados em medicina preventiva e cuidados médicos básicos. Houve 1,3 milhões de médicos pés-descalços a viver nas zonas rurais e a contribuir para a resolução das necessidades básicas de saúde da população.
Servir o povo
1966-1976
Na China revolucionária, os artistas, os médicos, os trabalhadores técnicos e científicos e muitas outras pessoas instruídas foram chamados a ir para junto dos operários e dos camponeses: para aplicarem os seus conhecimentos às necessidades da sociedade, para partilharem a vida dos trabalhadores e para aprenderem com eles. Um grande número de jovens e profissionais responderam à chamada da Revolução Cultural para “servirem o povo” e irem para as zonas rurais e servirem de exemplo aos outros.
A última batalha de Mao
1973-1976
Mao continuou a avisar para o perigo da restauração capitalista. As massas tinham o poder de estado no socialismo, mas a revolução tinha de continuar. Mas o socialismo emerge com as cicatrizes da sociedade de classes e é necessário manter a luta para superar isto — ou então a sociedade será arrastada de regresso ao capitalismo, como acontece hoje na China. A Revolução Cultural durou 10 anos, atravessando complexas voltas e reviravoltas.
Quando Mao morreu em setembro de 1976, isso foi o sinal para os reacionários no interior do partido. Em outubro desse ano, eles organizaram um golpe militar. Agiram de imediato contra o núcleo revolucionário aos mais altos níveis do partido e deslocaram tropas para regiões chave do país. Houve resistência, mas a repressão foi rápida e severa, com um grande número de prisões e execuções.
O socialismo na China foi derrotado. A primeira etapa da revolução comunista tinha chegado ao fim.
Bob Avakian desenvolve uma nova síntese do comunismo
A derrota na China foi um verdadeiro ponto de viragem. Houve confusão, choque e desorientação entre todos aqueles que em todo o mundo tinham olhado para a China como modelo de inspiração. Foi nestas circunstâncias que Bob Avakian (BA), Presidente do Partido Comunista Revolucionário, EUA, avançou para preencher uma grande necessidade histórica: fazer um balanço tanto do que tinha acontecido na China como das responsabilidades que isso colocava aos genuínos revolucionários.
BA trouxe uma clareza científica a esta conjuntura crucial e começou a abrir e a traçar o caminho para avançar. Ele defendeu os grandes feitos de Mao e da revolução chinesa, ao mesmo tempo que investigou profundamente a experiência não só da China como de toda a primeira etapa da revolução comunista. Ele explorou profundamente e examinou criticamente a primeira etapa da revolução comunista e, de facto, de todo o projeto comunista. E, nas mais de três décadas que passaram desde a contrarrevolução na China, Bob Avakian desenvolveu e concebeu uma nova síntese do comunismo.
Devido a Bob Avakian e ao trabalho que ele fez durante várias décadas, fazendo o balanço da experiência positiva e negativa da revolução comunista até agora e aprendendo com um vasto leque de esferas da experiência humana, foi desenvolvida uma nova síntese do comunismo — há de facto uma perspetiva e uma estratégia viáveis para uma sociedade e um mundo radicalmente novos, e muito melhores, e há a liderança crucial que é necessária para levar avante a luta rumo a esse objetivo.
Notas
* Karl Marx, “Carta a Joseph Weydemeyer (5 de março de 1852)”, em Marx-Engels, Antologia Filosófica (Lisboa: Editorial Estampa, 1982), p. 195, também disponível em marxists.org/portugues/marx/1852/03/05.htm. [NT]
† V. I. Lenine, Prefácio às edições francesa e alemã de “O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”, em V. I. Lenine, Obras Escolhidas em seis tomos (Lisboa-Moscovo: Editorial “Avante!”-Edições Progresso, 1984), marxists.org/portugues/lenin/1916/imperialismo/prefacio.htm#P2. [NT]