O seguinte texto é a tradução de um artigo datado de 15 de novembro de 2015 do Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (revcom.us/a/413/a-terrorist-attack-in-paris-a-world-of-horrors-and-the-need-for-another-way-en.html em inglês ou revcom.us/a/413/un-ataque-terrorista-en-paris-un-mundo-de-horrores-y-una-necesidad-de-otro-camino-es.html em castelhano).
Um ataque terrorista em Paris, um mundo de horrores
e a NECESSIDADE DE UM OUTRO CAMINHO
“O que vemos em contenda aqui, com a Jihad de um lado e o McMundo/McCruzada do outro, são estratos historicamente obsoletos da humanidade colonizada e oprimida contra estratos dominantes e historicamente obsoletos do sistema imperialista. Estes dois polos reacionários reforçam-se um ao outro, ainda que ao mesmo tempo se oponham um ao outro: se alinharmos com qualquer um destes ‘obsoletos’ acabamos por fortalecer os dois.”
Ainda que esta seja uma formulação muito importante e seja crucial para se compreender muita da dinâmica que domina as coisas no mundo neste período, ao mesmo tempo temos de ser claros em relação a qual destes "historicamente obsoletos" causa mais danos e constitui a maior ameaça à humanidade: são os “estratos dominantes e historicamente obsoletos do sistema imperialista”, e em particular os imperialistas norte-americanos.
Bob Avakian, O BÁsico 1:28
A 13 de novembro, ataques simultâneos em Paris tiraram a vida a pelo menos 129 pessoas. O ISIS – o movimento islamita armado reacionário que agora controla parte da Síria e do Iraque – aparentemente assumiu o “crédito” por estes ataques. As vítimas eram pessoas quotidianas normais. Estavam a comer em cafés, a assistir a um jogo de futebol ou a caminhar na rua. Eram pessoas de todo o tipo, de França e de todo o mundo. A natureza horrenda e arbitrária das mortes – incluindo o massacre de 89 pessoas fechadas numa sala de concertos onde estava a tocar uma banda rock – só pode ter visado criar uma atmosfera de caos social e medo. E o ataque foi claramente levado a cabo com conhecimento de que seria invocado pela França e pelos EUA para supostamente justificar novas vagas de repressão e guerra. O cruel horror dos ataques de Paris deve ser inequivocamente denunciado.
Ao mesmo tempo, o presidente francês declarou que era um “ato de guerra” e que iria retaliar com uma resposta “impiedosa”. Devemos ser claros. Esta ameaça da França – e as formas como este ataque tem invadido a comunicação social e a vida política nos EUA desde que ele foi levado a cabo – são extremamente sinistras. Isto significa quase certamente uma coisa: mais guerra e ataques militares no Médio Oriente vindos de França, de outras potências europeias e dos próprios EUA, levando ainda mais vidas e criando muitos mais refugiados a acrescentar aos literalmente milhões que atualmente procuram desesperadamente sobreviver, e que frequentemente perdem as vidas nesse processo.
E assim, a dinâmica de pesadelo em que milhares de milhões de pessoas se encontram apanhadas hoje irá intensificar-se e escalar. O mundo grita por um outro caminho. Para se chegar a esse outro caminho, temos de entender em primeiro lugar as causas fundamentais da dinâmica que ESTÁ a decorrer.
Um MUNDO de horrores
Uma vez mais, devemos ser claros: O ataque em Paris teve como objetivo reforçar uma agenda reacionária através da propagação do terror. Foi cruel e injusto e horrendo.
Tal como o foi o bombardeamento norte-americano do hospital dos Médicos Sem Fronteiras no Afeganistão a 3 de outubro – um ato consciente de terrorismo patrocinado pelo estado – que destruiu um hospital desesperadamente necessário e assassinou uma dúzia de médicos corajosos, juntamente com voluntários de todo o mundo e doentes afegãos. Desde 2001, a invasão e ocupação norte-americana do Afeganistão levou à morte de dezenas de milhares de civis. E a invasão e ocupação norte-americana do Iraque – que foi o cadinho em que o ISIS se formou e cresceu – matou diretamente muitas dezenas de milhares de pessoas e causou “indiretamente” a morte a centenas de milhares mais.
Tal como o foi o atentado terrorista pelo qual o ISIS assumiu o crédito, num bairro pobre xiita de Beirute, no Líbano, a 12 de novembro. Visou uma comunidade onde as forças islâmicas aliadas do governo sírio, do Irão e da Rússia têm uma base de apoio – mas as bombas visaram e mataram dezenas de civis. A guerra multilateral entre as potências e forças reacionárias em contenda na Síria já resultou em 250 000 mortes e mais de 12 milhões de pessoas foram deslocadas das suas casas para campos de refugiados ou para a perigosa jornada para a perseguição e os campos de concentração na Europa.
Tal como o foi o bombardeamento de uma festa de casamento no Iémen a 8 de outubro pelo regime armado pelos EUA e apoiado pela Arábia Saudita. Esta foi a segunda vez num mês que jatos de combate sauditas fizeram chover a morte numa festa de casamento no Iémen – desta vez matando 30 pessoas. Em finais de setembro, rockets sauditas atingiram uma outra festa de casamento no Iémen, matando 130 pessoas. O reinado saudita de terror tem como alvo a população civil em zonas controladas pelas forças anti-sauditas. E os sauditas têm levado a cabo uma guerra no Iémen desde o verão, usando bombas de fragmentação fornecidas pelos EUA – uma arma proibida na maior parte do mundo – para assassinar vários milhares de civis, entre os quais centenas de crianças.
Todo este ciclo de pesadelo desumano deve ser parado.
Dois polos reacionários de opressão
Os governantes dos EUA rotulam-se a si mesmos como os “tipos bons” globais em tudo isto. Eles encobrem o facto de que todo o sistema deles só pode funcionar e progredir através da intensa e trituradora exploração de literalmente milhares de milhões de pessoas, da pilhagem de toda a natureza e da opressão de povos inteiros e das mulheres, metade da humanidade. Eles insistem em que as pessoas se esqueçam da fundação deste império no genocídio e na escravatura, e em guerras infinitas pelo império em todo o mundo.
Os fundamentalistas islâmicos como o ISIS rotulam-se a si mesmo como a única oposição a isto. A oposição deles é uma oposição de opressores menores esfomeados por serem grandes. A sociedade que eles impõem é uma sociedade de brutal opressão das mulheres e de imposição violenta da ignorância e da superstição. Ninguém que tenha um pingo de sentido de justiça no coração deve ter qualquer coisa a ver com isso e na realidade deve opor-se a isso, vigorosamente. A humanidade é de facto capaz de algo muito maior: uma sociedade nova, sem exploração nem opressão.
Tal como dizemos no nosso sítio na internet e no nosso jornal, a toda a hora:
“Foi este sistema que nos trouxe à situação em que estamos hoje, e que aí nos mantém. E é através da revolução para nos libertarmos deste sistema que nós mesmos podemos fazer nascer um sistema muito melhor. A meta final desta revolução é o comunismo: Um mundo onde as pessoas trabalham e lutam em conjunto pelo bem comum. [...] Onde todas as pessoas contribuem com tudo o que podem para a sociedade e recebem de volta o que precisam para viver uma vida merecedora de seres humanos. [...] Onde não haja mais nenhuma divisão entre as pessoas, em que algumas governam e oprimem as outras, roubando-as não só dos meios para uma vida decente mas também do conhecimento e dos meios para realmente entenderem, e agirem para mudar o mundo.”
“Esta revolução é necessária e possível.”
E, como também dizemos: “Devido a Bob Avakian e ao trabalho que ele tem feito ao longo de várias décadas, fazendo o balanço da experiência positiva e negativa da revolução comunista até agora, e indo buscar ensinamentos a um vasto alcance da experiência humana, há uma nova síntese do comunismo que tem sido apresentada – há realmente uma perspetiva viável e uma estratégia para uma sociedade e um mundo radicalmente novos, e muito melhores, e há a liderança crucial que é necessária para levar a luta adiante por esse objetivo.”
Se estás a ler isto, se te encontras em agonia com o que aconteceu em Paris – ou com o que aconteceu antes em Kunduz ou em Gaza o ano passado ou em qualquer outro das dezenas e centenas de outros lugares – vais precisar de aprofundar isto. Este É realmente o caminho de saída da loucura, e todas as pessoas devem isto a si mesmas, aos seres humanos seus semelhantes e ao futuro, de realmente se envolverem nisto.
Ao mesmo tempo, neste mesmo momento, este ciclo de terror e horror deve ser eliminado. Ataques como o de Paris são repugnantes e devem ser denunciados. Mas nós não devemos alinhar, e antes devemos resistir às movimentações dos nossos governantes para se aproveitarem destes ataques para justificarem ataques ainda piores. Temos de resistir quando eles avançam para implementarem mais repressão (que eles alegam que nos irá “manter seguros”, mas que de facto apenas agrava o problema). Temos de resistir quando eles tentam fazer escalar as invasões, os ataques de drones e os bombardeamentos. Resistir quando eles propagam o patriotismo e o preconceito, incluindo os horrendos ataques aos imigrantes. Permanecer calado e cúmplice em tudo isto é contribuir para todo o ciclo e fortalecer ambos os lados no confronto reacionário do Ocidente contra a Jihad.
Na ausência de uma alternativa positiva e libertadora, e na ausência de uma oposição determinada e visível no “Ocidente”, os crimes dos EUA levam pessoas para os braços da Jihad reacionária. O que é necessário – e é moralmente correto – é uma oposição visível e determinada aos crimes do “nosso governo” por parte daqueles de nós que estamos nos EUA, em França e noutros países imperialistas. Romper para outro mundo, e sair do atual ciclo cruel requer que as pessoas em todo o mundo vejam que os governantes não falam por nós. E que nós estamos ao lado dos interesses da humanidade.