Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 16 de agosto de 2017, aworldtowinns.co.uk
O que está por trás da loucura das ameaças de Trump de “fogo e fúria” contra a Coreia do Norte
O seguinte artigo, datado de 10/13 de agosto de 2017, é da edição online do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA:
- revcom.us/a/503/behind-the-madness-of-trumps-threats-of-fire-and-fury-in-korea-en.html em inglês e
- revcom.us/a/504/los-motivos-de-la-locura-de-las-amenazas-de-trump-de-fuego-y-furia-en-corea-es.html em castelhano.
A ameaça de Donald Trump de atacar a Coreia do Norte com “fogo e fúria e (...) um poder como este mundo nunca antes viu” colocou o mundo à beira de uma guerra nuclear. Como escrevemos imediatamente após essas ameaças, “Isto é todo um outro nível de brutalidade, belicosidade e loucura por parte de Trump. Não é possível exagerar o perigo que enfrentamos: este presidente fascista pôs agora potencialmente em causa o próprio futuro da humanidade.”
A ameaça de Trump despejou gasolina num conflito que já causou um quase inimaginável sofrimento e mortes na península coreana. Na Guerra da Coreia (1950-1952), os EUA bombardearam até à saturação a Coreia do Norte e destruíram todos os edifícios com mais de dois andares, e massacraram entre três e cinco milhões de pessoas, cerca de 30% da população daquele país. Depois de a guerra ter terminado num beco sem saída, o regime fantoche instalado pelos EUA na Coreia do Sul impôs uma brutal repressão fascista durante décadas. E os EUA nunca reconheceram o regime norte-coreano como legítimo, e armaram o regime sul-coreano com mísseis de última geração e um enorme exército orientado para invadir o Norte. Os EUA têm mais de 20 mil tropas norte-americanas estacionadas na fronteira entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul.
A ameaça incendiária de Trump surge por cima das atrozes sanções da ONU que visam impor um sofrimento generalizado e paralisar o regime. E surge após as ameaças do Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, H. R. McMaster, a 5 de agosto, de que os EUA poderiam iniciar uma “guerra preventiva” contra a Coreia do Norte. Com “preventiva” McMaster quer dizer literalmente que os EUA atacariam primeiro – desencadeando uma guerra não provocada, o que seria uma violação de todos os princípios básicos do direito internacional. Mais, os EUA e a Coreia do Sul estão a fazer “jogos de guerra” extremamente provocatórios que simulam uma guerra com a Coreia do Norte.
Quem ameaça quem? E por quê?
O regime norte-coreano não é nem socialista nem revolucionário, é explorador e repressor. Mas representa um problema para os governantes do império norte-americano que estão a enfrentar um mundo de crise e desafios vindos de muitos lados. Os governantes da Coreia do Norte têm desafiado as ameaças norte-americanas, e 15 anos depois de George Bush ter colocado esse regime na lista do “Eixo do Mal” (juntamente com o Iraque e o Irão), o regime norte-coreano continua intacto. A classe dominante dos EUA considera isto inaceitável, especialmente num momento em que a posição do imperialismo norte-americano como única superpotência do mundo está a ser desafiada por forças que vão desde a Jihad fundamentalista islâmica a potências regionais que fazem demonstrações de força ao perceberem as debilidades do império norte-americano, a rivais em ascensão como a Rússia e a China (com as quais a Coreia do Norte se alinha).
Tudo isto é inaceitável para a classe dominante norte-americana no seu conjunto, e todas as administrações dos EUA tentaram debilitar, isolar e desalojar o regime norte-coreano. Mas Trump, como fascista, não pode aceitar que nenhuma outra potência desafie diretamente o poder dos EUA. Um adepto de Trump disse ao canal televisivo de notícias Fox News: “Ele está a dizer que não testem a América e não testem Donald J. Trump. (...) Nós não somos apenas uma superpotência. Fomos uma superpotência, agora somos uma hiperpotência. Ninguém no mundo, e em especial não a Coreia do Norte, está perto de desafiar as nossas capacidades militares.”
A Coreia do Norte deixou repetidamente claro – e mesmo os peritos da classe dominante dos EUA geralmente o reconhecem – que o seu programa nuclear não tem como objetivo lançar o primeiro ataque (o qual não faria sentido, dada a sua muito limitada capacidade em comparação com as milhares de armas nucleares que os EUA têm). Como escrevemos recentemente, “se a Coreia do Norte não vai lançar o ‘primeiro ataque’, então por que representa uma ameaça tão grande e por que são as suas ações ‘perigosas’ ou ‘provocatórias’? A única resposta lógica é que o desenvolvimento de armas nucleares e mísseis poderia servir de facto como fator dissuasor, e fazer com que a Coreia do Norte fique menos vulnerável à hostilização e a possíveis ações militares agressivas, por parte dos EUA e seus aliados. Pelo que, na realidade, o regime de Trump e Pence, agora ao comando do imperialismo norte-americano, está a ameaçar e a praticar atos que podem conduzir a uma grande guerra – possivelmente nuclear – porque um adversário está a fazer coisas que podem torná-lo menos vulnerável à hostilização e à agressão desses imperialistas!”
As armas nucleares são inerentemente armas de destruição em massa que ninguém deveria ter. A Constituição para a Nova República Socialista na América do Norte (revcom.us/socialistconstitution/ em inglês e revcom.us/constitucionsocialista/ em castelhano), um plano para uma sociedade cujo objetivo é acabar com toda a exploração e opressão, salienta que a nova sociedade revolucionária não irá deter nem usar armas nucleares, e levará a cabo uma luta em todo o mundo para as proibir por completo. Mas a posição completamente ultrajante dos imperialistas norte-americanos é de que eles devem ter armas nucleares suficientes para destruir o mundo dez vezes, mas se qualquer país que não seja do seu agrado tentar obtê-las, então os EUA ficam autorizados a ameaçar e talvez mesmo a levar a cabo um ataque nuclear contra ele.
A loucura por trás da loucura
Um ataque militar aberto dos EUA à Coreia do Norte mataria muita gente nesse país e quase certamente resultaria num contra-ataque por parte do regime que mataria imediatamente dezenas de milhares de pessoas na Coreia do Sul (e muito possivelmente também milhares de tropas norte-americanas aí estacionadas). Além disso, a possibilidade de uma resposta nuclear da Coreia do Norte seria horrenda em si mesmo, mas também poderia pôr em movimento uma dinâmica que poderia envolver a China ou a Rússia e fazer escalar uma espiral até à beira de uma guerra nuclear mais vasta que colocaria em causa o próprio futuro da humanidade. Por isso, a doutrina militar da classe dominante dos EUA tem sido a de tentar usar sanções paralisadoras, o isolamento económico e diplomático, a sabotagem e ameaças militares constantes para pressionar a Coreia do Norte a abandonar o seu programa nuclear – indo até à beira da guerra, mas não cruzando essa linha. A preocupação dos governantes dos EUA não é o destino da humanidade, mas o perigo de que um ataque à Coreia do Norte pudesse ativar consequências extremas e impossíveis de prever para o sistema deles.
Com a sua belicosa ameaça, Trump atirou uma granada para cima disso. Independentemente de quão consciente ou inconsciente esteja Trump do que a ameaça dele representa, há uma lógica nesta loucura. Ele foi o monstro que perguntou repetidamente a um perito em relações externas: Se temos armas nucleares, por que não as podemos usar? Aos olhos dos fascistas trumpistas, fazer com que os Estados Unidos “voltem a ter grandeza” significa, como Trump declarou repetidamente durante a campanha eleitoral, fazer com que os “nossos” inimigos nos temam.
A lógica dessa lógica conduz à loucura de empurrar a humanidade para a beira de uma horrenda guerra que poderia espiralar a um nível inimaginável de mortes e destruição ou, através de uma decisão consciente, para um acidente ou cadeias inesperadas de acontecimentos.
Este pesadelo tem de ser travado – pelo povo
As tremendas incertezas envolvidas num ataque norte-americano ou numa guerra com a Coreia do Norte, com a possibilidade de as coisas poderem espiralar para fora do controlo dos EUA, tem provocado debate e conflito dentro da classe dominante, e mesmo entre o círculo interno de Trump. O jornal The New York Times relatou que Steve Bannon – o principal estratega de Trump e um fascista de linha dura – defende que o verdadeiro desafio aos EUA é a China, e que o regime se está a focar demasiado no conflito com a Coreia do Norte. Mas, apesar de todas as críticas e objeções dos Democratas, e das reservas de alguns dos principais atores do regime, neste momento não há nenhuma força dentro da classe dominante que vá parar Trump. Os Democratas, e possivelmente alguns Republicanos que têm sérias reservas em relação a Trump em relação aos riscos que estão a correr, têm mais medo das convulsões que envolveria parar Trump que do rumo que ele está a tomar. E, na ausência de um grande recrudescimento dos protestos e da resistência popular, a classe dominante norte-americana no seu conjunto quase certamente afastará qualquer divergência para cerrar fileiras e unir-se em torno de Trump em caso de conflito com a Coreia do Norte.
Por outro lado, caso haja um poderoso recrudescimento vindo de baixo que exija que em nome dos interesses da humanidade se PARE com esta roleta nuclear e que TODO O REGIME SEJA EXPULSO, então esse recrudescimento poderia interagir com as contradições e os conflitos na classe dominante de maneiras que criem oportunidades para expulsar de facto o regime.
É preciso que as pessoas ajam agora para deter este regime! Denunciando e protestando contra as movimentações para a guerra. E, da maior importância, com unidade em torno da Convocatória da Recusar o Fascismo, a partir de 4 de novembro: Em nome da humanidade, recusamo-nos a aceitar uns Estados Unidos fascistas! Este pesadelo tem de acabar: O regime de Trump e Pence tem de se IR EMBORA.
Além disso, todo o sistema que gerou este regime fascista precisa de ser derrubado com a maior brevidade possível. E, de muitas perspetivas, há uma necessidade de romper com a orientação de partir dos interesses dos EUA sob qualquer forma ou maneira.
Como diz Bob Avakian em O BÁsico:
Os interesses, objetivos e grandes desígnios dos imperialistas não são os nossos interesses – não são os interesses da grande maioria das pessoas nos EUA nem da esmagadora maioria das pessoas no mundo no seu conjunto. E as dificuldades em que os imperialistas se meteram na perseguição desses interesses devem ser vistas, e respondidas, não do ponto de vista dos imperialistas e dos interesses deles, mas do ponto de vista da grande maioria da humanidade e da necessidade básica e urgente da humanidade de um mundo diferente e melhor, de outro caminho.
– BAsics [O BÁsico] 3:8