Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 28 de Junho de 2010, aworldtowinns.co.uk

Israel e os EUA: Quem é a ferramenta de quem?

Obama e Netanyahu na Casa Branca
Obama e Netanyahu na Casa Branca: cumplicidade com os crimes de Israel (Foto: Pete Souza/White House)

Os professores norte-americanos de política internacional John Mearsheimer e Stephen Walt, que são críticos do apoio norte-americano à expansão dos colonatos israelitas e aos seus ataques ao Líbano e a Gaza, alegam que “o poder inigualável do lóbi de Israel” distorce a política externa dos EUA. Muitas pessoas indignadas com esses crimes foram influenciadas por um artigo deles que ainda está em grande circulação, “O Lóbi de Israel”, publicado originalmente em 2006 na The London Review of Books (disponível em lrb.co.uk/v28/n06/john-mearsheimer/the-israel-lobby) e mais tarde expandido num livro publicado em 21 países.

O trabalho deles contém muita informação útil sobre os vínculos entre os EUA e Israel. Contudo, a sua teoria de base vira a realidade de pernas para o ar. A verdade é que Israel existe em grande parte graças aos EUA, porque representa um papel essencial no domínio norte-americano sobre o Médio Oriente e na sua actual tentativa de “estabilizar” uma situação injusta e inaceitável. Ao alegarem que os “interesses norte-americanos” ficariam melhor servidos com um apoio menos acrítico a Israel, Mearsheim e Walt não estão realmente a confrontar a natureza dos EUA — um país capitalista monopolista cuja riqueza e poder estão indissoluvelmente ligados a um império global de exploração e opressão. Nem lidam inteiramente com a natureza de Israel enquanto estado de colonos cuja própria existência é tão defensável como a do regime do apartheid na África do Sul.

Isto debilita grandemente a sua crítica da ligação EUA-Israel e redu-la a um idealismo. Isto é particularmente perigoso numa altura em que os EUA estão a tentar ter ambos os lados da moeda, fazerem tudo o que lhes for possível para apoiarem a continuação da existência e agressão de Israel e, ao mesmo tempo, tentarem aparecer como amigos dos palestinianos.

Apesar da sua proeminência académica, estes dois estudiosos têm sido alvo de uma campanha sionista de ódio e boicote intelectual, sobretudo nos EUA. É vergonhoso que tantos escritores e figuras públicas que explodem face a qualquer crítica a Israel tenham tentado silenciar Mearsheimer e Walt, cravando-lhes a etiqueta de anti-semitismo. Mas, apesar de os dois se considerarem amigos críticos de Israel, a verdade é que, tal como os seus atacantes perceberam e eles não, assim que se começa a analisar Israel do ponto de vista da justiça para todos, todo o projecto sionista pode ser posto em causa.

De facto, o seu argumento é essencialmente semelhante à ideia demasiadamente comum entre as massas populares do mundo e dos próprios EUA, de que os crimes norte-americanos no grande Médio Oriente e fora dele podem ser explicados através dos “grupos judeus de pressão”, e não de um sistema que basicamente não pode funcionar de nenhuma outra forma.

A seguinte resposta a Mearsheim e Walt foi escrita em Abril por Stephen Maher, que se descreve a si mesmo como estudante graduado da Escola de Serviço Internacional da American University que viveu na Cisjordânia. Reproduzimo-la do blogue dele, rationalmanifesto.blogspot.com/2010/04/us-hegemony-not-lobby-behind-complicity.html, e de electronicintifada.net/v2/article11232.shtml. Embora não partilhemos de alguns elementos importantes da sua análise, saudamos a sua conclusão fundamental e o seu método de ter em conta todos os factos e testar as ideias face à realidade.

A hegemonia norte-americana, e não “o lóbi”, por trás da cumplicidade com Israel

Por Stephen Maher

Muitos dos críticos de Israel culpam um “lóbi de Israel” pela quase total cumplicidade dos EUA na anexação, colonização e programas de limpeza israelitas na Cisjordânia ocupada. Essa cumplicidade mantém-se até aos dias de hoje, apesar da “disputa” que rebentou após o governo israelita ter humilhado o vice-presidente norte-americano Joe Biden ao anunciar a construção de 1600 unidades de colonatos na Jerusalém Leste ocupada quando ele estava de visita ao país. Na realidade, apesar da aparente indignação expressa por altos responsáveis da Casa Branca, a administração tornou claro que a sua crítica a Israel permanecerá puramente simbólica. Contudo, tal como veremos, a tese do lóbi pouco contribui para explicar a política externa dos EUA no Médio Oriente.

Anos depois de Noam Chomsky, Stephen Zunes, Walter Russell Mead e muitos outros terem publicado as suas críticas à tese de Stephen Walt e John Mearsheimer do “lóbi de Israel”, muitos dos mais fortes críticos de Israel continuam a atribuir a política externa dos EUA no Médio Oriente à influência do lóbi. Dada a prevalência do argumento do lóbi de Israel e ao mais recente confronto diplomático entre os EUA e Israel, é importante revisitar as falhas da tese e atribuir devidamente o comportamento dos EUA às grandes concentrações de poder político e económico interno que verdadeiramente dirigem a política norte-americana.

A política externa dos EUA no Médio Oriente é semelhante à que é feita noutras partes do mundo, em regiões livres dos efeitos supostamente corruptores do “lóbi”. O exagerado nível do apoio que os EUA dão a Israel é uma resposta racional à importância estratégica particular do Médio Oriente, a principal região produtora de energia do mundo. Ao construir Israel como aquilo a que Noam Chomsky se refere como “base militar norte-americana offshore”, os EUA conseguem proteger o seu domínio sobre muitos dos remanescentes recursos energéticos do mundo, o que é uma importante alavanca de poder global. Como veremos, aqueles que culpam o lóbi pela política dos EUA uma vez mais compreendem mal os interesses estratégicos dos EUA no Médio Oriente e o papel central de Israel na sua defesa.

A geopolítica e a relação EUA-Israel

Um argumento central da tese do “lóbi de Israel” é que o “lóbi”, qualquer que seja a sua definição, molda de uma forma esmagadora a política dos EUA no Médio Oriente. Desta forma, se o argumento fosse verdadeiro, os seus defensores teriam que mostrar que há algo de qualitativamente único na política dos EUA no Médio Oriente quando comparada com a sua política noutras regiões do mundo. Contudo, após uma análise cuidada, descobrimos poucas diferenças entre as pretensas distorções causadas pelo lóbi e aquilo que é frequentemente chamado de “interesse nacional”, definido pelas mesmas concentrações de poder interno que definem a política externa dos EUA noutros lugares.

Há estados em todo o mundo que prestam a Washington serviços semelhantes aos de Israel, ao projectarem o poder norte-americano nas respectivas regiões, e cujos crimes em defesa dos interesses de Washington são abertamente apoiados e protegidos da condenação internacional. Veja-se por exemplo os 30 anos de apoio norte-americano aos horrores da invasão e ocupação indonésia de Timor-Leste. Além do uso da violação e da fome como armas de guerra e de um horrível regime de tortura, o presidente indonésio Suharto chacinou 150 mil pessoas numa população de 650 mil. Essas atrocidades foram inteiramente apoiadas pelos EUA, incluindo o fornecimento do napalm e das armas químicas indiscriminadamente usadas pelo exército indonésio, o qual foi inteiramente armado e treinado pelos EUA. Como disse Bill Clinton, Suharto era “o nosso tipo de homem”.

Daniel Patrick Moynihan, o embaixador norte-americano na ONU na altura da invasão indonésia, escreveu depois que “o Departamento de Estado desejava que as Nações Unidas mostrassem ser totalmente ineficazes em qualquer medida que fosse tomada” para acabar com a carnificina dos timorenses, um objectivo que ele levou a cabo com um “êxito não desprezável”. No entanto, esse apoio não se deveu à influência de um “lóbi da Indonésia”. Em vez disso, os estrategas já em 1958 tinham identificado a Indonésia como uma das três regiões estrategicamente importantes do mundo, devido à sua riqueza petrolífera e ao seu importante papel como ligação entre os Oceanos Indico e Pacífico.

Em algumas regiões, como a América Latina onde estados clientes dos EUA como a Guatemala, as Honduras e El Salvador e exércitos terroristas como os Contras nicaraguenses passaram anos a assassinar camponeses indefesos que pediam os mais elementares direitos humanos, a ameaça é sobretudo a do “desafio vitorioso”, ou seja, a de um país que desafie as ordens dos EUA e tenha sucesso. Caso os EUA o tolerassem, diz a lógica, isso iria incentivar a resistência às suas ordens noutros lugares. O perigo subjacente a esse desafio — chamado pela Oxfam de “a ameaça de um bom exemplo” — é o de que um país implemente um modelo vitorioso de desenvolvimento independente, recusando os ditames dos EUA e tentando dirigir os seus muito necessários recursos para servir as necessidades da sua população em vez dos investidores estrangeiros ricos.

Este pensamento está profundamente institucionalizado e é visível na política internacional dos EUA desde os primórdios da era imperial moderna após a II Guerra Mundial. Durante a guerra, desde muito cedo que se tornou claro que, em resultado dela, os EUA iriam emergir como a potência mundial dominante e, portanto, o Departamento de Estado e o Conselho para as Relações Externas começaram a planear criar uma ordem internacional no pós-guerra em que os EUA “detivessem um poder incontestado”. Uma das formas como planearam fazê-lo foi através da conquista do controlo dos recursos energéticos globais, sobretudo os da Arábia Saudita, na época referidos pelo Departamento de Estado dos EUA como “o maior prémio material da história”.

Como aconselhou o “czar do petróleo” de Franklin Roosevelt, Harold Ickes, o controlo do petróleo era “a chave para a ordem política do pós-guerra”, dado que uma grande disponibilidade de energia barata era essencial para abastecer as economias capitalistas industriais do mundo. Isto significou que, com o controlo do petróleo do Médio Oriente, e em particular das vastas reservas sauditas, os EUA podiam manter a sua mão sobre a válvula que iria alimentar as economias da Europa, do Japão e de muito do resto do mundo. Como disse o estratega norte-americano George Kennan, isso daria aos Estados Unidos “o poder de veto” sobre os actos dos outros. Mais recentemente, Zbigniew Brzezinski também discutiu o “peso crítico” de que os EUA desfrutam em resultado do seu poder de estrangulamento sobre o fornecimento de energia.

Assim, no Médio Oriente não é simplesmente um “desafio vitorioso” que os EUA temem, nem meramente um desenvolvimento independente. Estas preocupações também estão presentes, mas há uma dimensão adicional: se alguma força ameaçar o controlo norte-americano sobre os recursos petrolíferos, será posta em risco uma importante fonte do poder global dos EUA. Durante a Administração Nixon, estando o exército norte-americano atolado no Vietname e sendo improvável uma intervenção directa no Médio Oriente em defesa dos seus interesses estratégicos vitais, a ajuda militar ao Irão pré-revolucionário (que actuava como agente regional dos EUA) disparou rapidamente. A conclusão da Amnistia Internacional em 1976 de que “nenhum país tem um registo de direitos humanos pior que o Irão” foi ignorada e o apoio dos EUA aumentou, não devido a um “lóbi” do Irão nos EUA, mas apenas porque esse apoio protegia os interesses dos EUA.

Preocupações estratégicas também levaram os EUA a apoiar outros regimes opressores e reaccionários, incluindo as piores atrocidades de Saddam Hussein. Durante o genocídio do Anfal contra os curdos, as forças iraquianas usaram armas químicas fornecidas pelos EUA contra os civis curdos, matando provavelmente 100 mil pessoas e destruindo cerca de 80% das aldeias do Curdistão iraquiano, ao mesmo tempo que os EUA agiam de forma a bloquear a condenação internacional dessas atrocidades. Uma vez mais, apoiar crimes que servem o “interesse nacional” estabelecido pelas grandes multinacionais e pelas elites dominantes e protegê-los da crítica internacional é a regra, e não a excepção.

Não é coincidência nenhuma que as relações entre os EUA e Israel se tenham cristalizado depois de Israel ter destruído, num ataque preventivo em 1967, o regime nacionalista independente de Gamal Abdel Nasser, acabando definitivamente com o papel do Egipto como centro de oposição ao imperialismo norte-americano. Desde antes da II Guerra Mundial que a Arábia Saudita tem servido alegremente de “fachada árabe”, encobrindo a mão do verdadeiro poder dominante na península arábica, para usar a terminologia colonial britânica. Com a retórica nacionalista árabe de Nasser a “virar toda a região contra a Casa de Saud”, a ameaça que ele representava ao poder dos EUA era séria. Em resposta, o Departamento de Estado concluiu que o “corolário lógico” da oposição dos EUA ao nacionalismo árabe era o “apoio a Israel” como única força fidedigna pró-EUA na região. A destruição e humilhação do regime de Nasser por Israel foi assim uma grande vantagem para os EUA e mostrou a Washington o valor de uma aliança forte com um Israel poderoso.

Esta importância regional única é uma das razões para o imenso nível de ajuda que Israel recebe, incluindo armamento mais avançado que o que é fornecido a outros estados clientes dos EUA. Fornecer a Israel a capacidade de usar uma força esmagadora contra qualquer adversário à ordem estabelecida tem sido um aspecto crucial da estratégia regional dos EUA. Também é importante que Israel é um aliado fidedigno — há poucas hipóteses de o governo israelita ser derrubado e as armas acabarem nas mãos de fundamentalistas islâmicos anti-ocidentais ou de nacionalistas independentes, como aconteceu no Irão em 1979.

Hoje em dia, com a crescente independência da Europa e com as famintas economias da Índia e da China a crescer a uma velocidade vertiginosa, juntamente com a sua demanda dos escassos recursos energéticos, o controlo sobre o remanescente é mais crucial que nunca. Na edição de Setembro de 2009 da Asia-Africa Review, Sun Bigan, ex-enviado especial da China ao Médio Oriente, escreveu que “os EUA sempre tentaram controlar a torneira do fornecimento global de petróleo” e sugeriu que, uma vez que Washington iria trabalhar para se assegurar que o petróleo iraquiano continua indubitavelmente sob o seu controlo, a China deveria olhar para outros lugares da região como fontes independentes de energia. “O Irão tem abundantes recursos energéticos”, escreveu Bigan, “e as suas reservas de gás são as segundas maiores do mundo, e todas elas estão essencialmente sob o seu próprio controlo” (ênfase adicionada).

É parcialmente em resultado desta independência que a importância estratégica de Israel para os EUA tem aumentado significativamente nos últimos tempos, em particular desde que a cruel ditadura do Xá do Irão, apoiada pelos EUA, foi derrubada em 1979. Com o Xá afastado, só Israel poderia aterrorizar a região para obedecer às ordens dos EUA e assegurar que os vastos recursos petrolíferos da Arábia Saudita continuam sob controlo dos EUA. A acrescida importância de Israel para a política norte-americana ficou claramente ilustrada quando a estratégia regional dos EUA foi alterada para “dupla delimitação” durante os anos de Clinton, com Israel a enfrentar tanto o Iraque como o Irão.

Com o Irão a desenvolver tecnologia que eventualmente lhe poderá permitir produzir o que a Quadrennial Defense Review de Fevereiro de 2010 se refere como “armas anti-acesso”, ou seja armas de destruição em massa que impeçam os EUA de poderem usar livremente a força em qualquer região do mundo, este é um momento crucial na luta de Washington para obter o controlo do Irão. Este confronto, que se deve ao desejo dos EUA de controlarem o seu petróleo e destruírem uma base de nacionalismo independente, torna o apoio dos EUA a Israel estrategicamente crucial.

O “lóbi” de Israel e a pressão dos EUA

Se aceitássemos a hipótese do “lóbi”, teríamos que concluir que os EUA se iriam submeter à vontade de Israel sempre que os interesses dos dois estados divergissem e iriam actuar contra o seu “interesse nacional”. Contudo, caso a política dos EUA no Médio Oriente estivesse a prejudicar o seu “interesse nacional”, como alegam os defensores da tese do lóbi, isso deveria querer dizer que essa política tem sido um fracasso. Isto leva-nos a perguntar: um fracasso para quem? Não para as elites dos EUA que garantiram o controlo dos principais recursos energéticos globais, ao mesmo tempo que esmagaram com êxito as tentativas de oposição, nem para o sistema de defesa, e certamente não para as empresas de energia. De facto, não só a política dos EUA no Médio Oriente é semelhante à noutras regiões do mundo, como tem sido um sucesso lucrativo e estratégico.

Na realidade, a política dos EUA em relação a Israel e aos palestinianos não é obter o fim da ocupação, nem resultar no respeito pelos direitos dos palestinianos — de facto, é o principal factor responsável por impedir esses objectivos. Para os EUA, a “Operação Protecção Defensiva” de Israel em 2002 já tinha castigado suficientemente os palestinianos e a sua liderança, complacente e apoiada pelos EUA, pela sua intransigência em relação [aos Acordos de] Camp David. Embora a Autoridade Palestiniana já estivesse a agir como “subcontratada” e “colaboradora” de Israel, reprimindo a resistência à ocupação israelita, nas palavras parafraseadas do ex-ministro israelita dos negócios estrangeiros Shlomo Ben Ami, a política do ex-primeiro-ministro israelita Ariel Sharon de destruição deliberada das instituições palestinianas forneceu a oportunidade para as reconstruir e assegurar um ainda maior grau de controlo dos EUA.

Os programas de expansão dos colonatos e anexação ajudam a garantir o controlo israelita sobre as terras e recursos de água palestinianos mais valiosos, assegurando a Israel que continuará a ser uma sociedade dominante não facilmente pressionável pelos seus vizinhos. Para ajudar a atingir esses objectivos, os EUA protegem a expansão israelita atrás de um “processo de paz”, na esperança de que, passado um tempo suficiente, os palestinianos cada vez mais cederão o que antes era deles. A principal preocupação é manter a aparência de que os EUA e Israel estão ardentemente em cruzada pela paz, lutando contra os que se opõem a esse nobre objectivo. Embora seja verdade que as pessoas de toda a região estão horrorizadas e enfurecidas com os crimes israelitas, essa raiva é de pouca monta em comparação com os ganhos estratégicos de manter um aliado forte e dependente no coração do Médio Oriente.

A reconstituição de uma Autoridade Palestiniana ainda mais firmemente controlada, com o General Keith Dayton a supervisionar directamente as forças palestinianas de segurança, permitiram aos EUA atingir esses objectivos, ao mesmo tempo que reprimiam mais efectivamente a resistência à ocupação. Da mesma forma, a saída dos soldados israelitas de Gaza permitiu a Sharon uma mão livre para continuar a anexação da Cisjordânia ao mesmo tempo que era promovido a nível internacional como um “grande homem de paz”.

O tratamento dado a Israel pelos principais órgãos de comunicação social dos EUA também é a norma para todos os aliados dos EUA. A cobertura na imprensa comercial é previsivelmente distorcida a favor dos aliados oficiais dos EUA e contra os seus inimigos oficiais, um fenómeno que está bem documentado. Assim, os defensores da tese do lóbi estão a perder a floresta face às árvores. O que eles vêem como tratamento especial de Israel pela imprensa é na realidade apenas o funcionamento normal da comunicação social dos EUA e do estabelecimento intelectual, desculpando e defendendo os crimes dos aliados oficiais, ao mesmo tempo que diabolizam os seus inimigos oficiais.

É claro que isto não é o mesmo que defender que não há organizações nos EUA, como o Comité Judaico-Americano [AJC], a Liga Anti-Difamação [ADL] e o AIPAC [o grupo de lóbi Comité de Assuntos Públicos Israelo-Americanos], que tentam marginalizar a oposição à política israelita em todos os foros possíveis. Pelo contrário, eu estou a salientar que o poder desses grupos empalidece quando comparado a outros interesses e preocupações mais poderosas. Embora o AJC ou a ADL possam, por exemplo, mobilizar pessoas para o despedimento de um professor crítico de Israel, esse argumento é ampliado pela imprensa controlada pela elite porque, ao fazê-lo, servem os seus interesses. Da mesma forma, o AIPAC pode incitar sem vacilar o apoio do governo dos EUA a Israel, mas sem a aprovação de outros interesses mais poderosos, tais como as multinacionais da energia e o sistema de defesa, os esforços do AIPAC levariam a pouco. A política dos EUA, tal como a de outros estados, é racionalmente planeada para servir os interesses da classe dominante.

Israel não poderia manter as suas políticas agressivas e expansionistas sem a ajuda militar e o apoio diplomático dos EUA. Se a Administração Obama quisesse, poderia pressionar Israel a cumprir a lei e as resoluções internacionais, poderia juntar-se ao consenso internacional e impor uma solução de dois estados. Embora a tese do “lóbi de Israel” explique convenientemente porque não o fazem e absolva os decisores políticos dos EUA da responsabilidade da continuação do seu apoio ao apartheid, violência e anexação israelitas, pura e simplesmente não se mantém de pé perante um escrutínio mais profundo.

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