Publicado no jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA, revcom.us/a/584/intersectionality-feel-good-make-believe-en.html (em inglês a 2 de março de 2019) e revcom.us/a/585/la-interseccionalidad-fantasia-reconfortante-es.html (em castelhano a 4 de março de 2019).
Uma breve definição
A interseccionalidade é um sistema de pensamento que teve origem num artigo escrito por Kimberlé Crenshaw, que assinalou que era insuficiente o anterior quadro através do qual as mulheres negras iniciavam processos legais contra a discriminação. Isto devia-se a que as mulheres negras sofrem uma discriminação tanto por serem negras como por serem mulheres, e há circunstâncias únicas nisso causadas pela intersecção destas duas formas de discriminação.
Com o tempo, o termo interseccionalidade foi expandido a uma epistemologia (ou seja, um método de busca do conhecimento) e a um programa político. Na primeira dimensão, a interseccionalidade baseia-se na epistemologia posicional — a noção de que a maneira como as pessoas compreendem a verdade depende das experiências de vida diretas delas como membros de um grupo social (ou da intersecção de grupos sociais) e que varia de indivíduo para indivíduo em função dessa experiência. Politicamente, a interseccionalidade defende que liderar a luta contra as formas específicas de opressão é uma competência do grupo que é oprimido; que aqueles que não pertencem a esse grupo não devem fazer essa análise ou crítica; e que qualquer aliança se deve basear em que os diferentes grupos se “mantenham na sua faixa de rodagem”. Muitas vezes assume a forma de postular que aqueles que sofrem as mais formas diferentes de opressão possuem o maior discernimento e devem liderar com base nisso.
O que as pessoas pensam faz parte da realidade objetiva, mas a realidade objetiva não é determinada pelo que as pessoas pensam.
Bob Avakian, O BÁsico 4:11
Política de identidade e privilégio
Alguma vez repararam que o único privilégio de que não falam estes traficantes da “política de identidade” é o privilégio norte-americano? — o privilégio que vem de viverem nos Estados Unidos, um país que saqueia o mundo e cuja riqueza e poder se baseiam numa exploração e numa opressão brutais em todo o mundo, apoiadas pela violência massiva das forças armadas norte-americanas. Estes traficantes querem tudo o que puderem obter desse privilégio. Em oposição a isso, o que as massas da humanidade precisam é de eliminar todo este sistema vampiro, pondo fim a toda a exploração e opressão.
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em inglês ou em castelhano
Vamos ao básico: Precisamos de uma revolução. Qualquer outra coisa é, em última análise, uma tolice.
Ora, isto não significa que não nos unamos a pessoas em todos os tipos de lutas que não tenham por objetivo uma revolução. Sem dúvida que precisamos de fazer isso. Mas, francamente, é ridículo proferir qualquer outra solução para estes problemas e infâmias monumentais e monstruosos. E precisamos de tomar a ofensiva e mobilizar um número cada vez maior de elementos das massas para acabar com estas tolices e trazer para primeiro plano a verdadeira solução, e responder às questões e, sim, às acusações que surgem em resposta a isto, ao mesmo tempo que temos que aprofundar a nossa base científica para fazermos isto. E a questão é: não só nós temos que fazer isto, como também temos que mobilizar, libertar dos grilhões e liderar, e capacitar um cada vez maior número de elementos das massas a fazerem isto. Eles têm que ser inspirados, não só com a ideia geral da revolução, mas com um mais profundo entendimento, uma sólida base científica, de porquê e como a revolução é de facto a resposta a tudo isto.
Bob Avakian, O BÁsico 3:1
Interseccionalidade: Um faz-de-conta reconfortante nos espaços “consciencializados” do império
Por Nayi Duniya
Bem-vindos à terra da interseccionalidade — onde um enquadramento aparentemente radical e universal pode compreender e atravessar múltiplas opressões sofridas por milhares de milhões de pessoas neste planeta, sem a “desordem” de se derrubar o sistema que gera e impõe estas opressões; onde a verdade é determinada, e a injustiça é corrigida, designando os mais oprimidos como a autoridade e a liderança das lutas por reformas; onde as divisões sociais mais fundamentais e mais profundas e os golfos do desequilíbrio no mundo, como os que existem entre as nações ricas e as nações pobres, são efetivamente ignorados e onde as “intersecções” que são identificadas e as “experiências diretas” que são partilhadas por diferentes “faixas” são consideradas suficientes para mudar o mundo.
Isto é um reconfortante mundo de faz-de-conta de pessoas “consciencializadas”, supostamente de “olhos bem abertos”. No mundo real do sofrimento horrendo — e desnecessário — é uma cruel piada infligida a milhares de milhões de seres humanos. O mundo é um horror para a imensa maioria das pessoas — opressão e exploração de povos inteiros, guerras genocidas e violência na esfera íntima, expulsão de milhões de pessoas das suas casas devido a conflitos e ao aquecimento global. Este mundo é moldado e tem o selo de um sistema: o sistema do capitalismo-imperialismo.
Como disse Bob Avakian:
Vamos ao básico: Precisamos de uma revolução. Qualquer outra coisa é, em última análise, uma tolice.
De O BÁsico, Das palestras e textos de Bob Avakian (BA) 3:1
A interseccionalidade é um enquadramento para classificar e adjudicar diferentes formas de opressão que só podem fazer com que o mundo fique tal como ele é hoje, com as pessoas a lutarem entre si sobre territórios e privilégios. Com a sua “epistemologia posicional”, não permite uma necessária e possível análise das dinâmicas motrizes subjacentes que são as causas sistémicas desta horrenda opressão — sentida na carne e vivida por milhares de milhões de pessoas! Não há NADA “radical” na interseccionalidade, nem quanto ao problema (as raízes da opressão) nem quanto à solução (o que tem que se fazer para o erradicar de uma maneira fundamental e para o deixar para trás). Fazer isso requer a ciência, requer olhar além da superfície para as causas essenciais e as dinâmicas motrizes que lhes estão subjacentes, tal como elas historicamente evoluíram, funcionam e continuam a mudar.
Será que alguém diagnostica e cura qualquer doença grave como o cancro ou o ébola baseando-se apenas nas experiências de vida “interseccionais” expressas por cada paciente, limitando-se aos sintomas e sofrimento deles, em vez de aplicar a ciência — investigando as causas subjacentes, como as mutações genéticas ou os germes, e os correspondentes tratamentos e, neste contexto, aprendendo dos pacientes e trabalhando com eles?
A realidade social objetiva existe de facto e não é simplesmente uma compilação adjudicada de narrativas, muito menos é determinada pelo que as pessoas pensam, ainda que isso seja uma parte dela. As sociedades, tal como todos os fenómenos naturais, surgem, mudam e deixam de existir — e a ciência pode ser aplicada à sociedade, tal como à natureza, para se compreender as dinâmicas motrizes subjacentes e os múltiplos caminhos de desenvolvimento dentro dessas dinâmicas.
São estas as questões que devem ser confrontadas e aprofundadas: quais são as verdadeiras ligações e dinâmicas entre as relações de produção capitalistas e as formas de opressão social profundamente enraizadas nesta sociedade, como a opressão dos negros, das mulheres, das pessoas LGBTQ e dos imigrantes? Podemos libertar-nos de uma forma de opressão sem nos libertarmos das outras? Será que isso requer uma revolução que derrube todo este sistema, ou podemos fazer algo menos que isso? Como se pode fazer uma verdadeira revolução num país como os Estados Unidos? Que tipo de sociedade é necessária e possível para substituir esta? Será possível chegar, e como fundamentalmente se chega, a um mundo que elimine toda esta opressão, exploração e divisões sociais antagónicas e emancipe toda a humanidade? Como é que vemos isso, como parte de um processo mundial?
Há abordagens e respostas a todas estas questões, concentradas nos avanços históricos desenvolvidos por Bob Avakian (BA). A descoberta científica que Marx fez sobre como se desenvolvem as sociedades e sobre a possibilidade de um futuro sem divisões de classe nem todas as formas da opressão, e os contínuos desenvolvimentos desse entendimento através de toda uma primeira vaga de revoluções comunistas, que foram avanços histórico-mundiais para a humanidade. Mas houve significativos aspectos da teoria e da prática que vão contra o caráter e as metas do comunismo, fundamentalmente científicos e emancipatórios. BA resolveu isto e desenvolveu todo um novo enquadramento para emancipar toda a humanidade, o novo comunismo. Portanto, sim, há um enquadramento radical e científico, não só capaz de abranger as múltiplas opressões que sofrem milhares de milhões de pessoas neste planeta, como também de traçar o caminho para as eliminar!
A “epistemologia posicional” ou a aplicação da “análise interseccional” nem sequer abordam estas questões críticas — e são obstáculos a este processo tão necessário. Naturalmente, há “intersecções” entre estas formas de opressão, porque elas ocorrem no contexto de um sistema mundial do capitalismo-imperialismo, mas agir a partir da “posição” ou das “narrativas”, mesmo as dos mais oprimidos, não entende o sistema subjacente, nem como todas estas relações sociais opressoras estão entrelaçadas com a história desta sociedade e com a natureza deste sistema. A classe, abordada como uma “identidade interseccional”, não é nem um substituto nem a essência (nem permite sequer que se comece a compreendê-los) do capitalismo-imperialismo como sistema global de relações de produção que coloca o seu selo nas relações sociais e nas ideias do momento.
Sem a ciência e sem uma abordagem científica para se chegar às causas fundamentais, ao que é necessário para eliminar isto pela raiz e criar um sistema e uma sociedade radicalmente diferentes, TODA a resistência e lutas são canalizadas de volta ao próprio sistema que é, em primeiro lugar, a fonte desta opressão. Sem isto, mesmo as mais sinceras e melhores das intenções, discernimentos, análises e lutas estarão restringidas ou serão metidas numa camisa-de-forças, devido à ausência fundamental de se ver para além do modo de produção capitalista, para além da permanência deste sistema. As narrativas e experiências vividas dos oprimidos, silenciadas durante demasiado tempo, têm um papel crítico — mas, neste contexto, para fazer uma revolução e eliminar tudo isto, para emancipar toda a humanidade, e não para “conseguir a minha parte” ou ficar por cima num mundo “consciencializado”!
É revelador que o privilégio norte-americano esteja ensurdecedoramente ausente da matriz interseccional da opressão do mundo “consciencializado”, não sendo mencionados os “espaços seguros”, nem sequer tendo em conta que os Estados Unidos estão no topo desta cadeia alimentar parasitária do capitalismo-imperialismo! Enquanto se centram no “eu” e na “minha” opressão, onde estão os 7 mil milhões de pessoas — no Iraque, no Afeganistão, na Líbia, na América Central e do Sul ou no Bangladexe —, os milhares de milhões de pessoas nas fábricas de exploração extrema, nas minas e nos campos que fornecem os nossos alimentos, as nossas roupas e a nossa tecnologia? E a lista podia continuar e continuar...
Nos espaços “consciencializados” dos Estados Unidos, a abordagem “posicional” são meros guias para adjudicar as migalhas dos despojos, do saque do império, e não um quadro para a emancipação de toda a humanidade. Para aqueles que tentam aplicar a interseccionalidade através das fronteiras sem tentarem eliminar pela raiz o fosso entre os países imperialistas e o terceiro mundo, e o papel dos Estados Unidos no topo disso, isto é, no melhor dos casos, uma fantasia e, no pior, uma apologia do imperialismo, que concentra a essência: de estar “consciente”, com os olhos supostamente bem abertos, sem mudar fundamentalmente a maldita coisa!
Um desafio e um convite
Não precisamos que mais pessoas sejam manipuladas — dissipando o seu desejo de uma verdadeira mudança para seguirem traficantes ou rufiões de escola que tentam converter “identidades” oprimidas em capital político, por vezes com um verniz aparentemente radical como o “abolicionismo” que encobre ilusões nefastas e reformas sem sentido, e outras vezes promovendo candidatos do Partido Democrata que são criminosos de guerra da classe dominante. Não precisamos da legitimação do “direito a falar” e da “liderança” através da identidade e da narrativa, mas sim que nos julguem pelo conteúdo do que dizemos e de para onde estamos a ir.
O que é urgentemente necessário: mudar radical e fundamentalmente o mundo e todas as suas relações sociais opressoras. Isto requer um diálogo e um debate sérios sobre a reforma em oposição à revolução: qual é a fonte destes horrores e qual é a solução, qual delas irá emancipar toda a humanidade e qual será um mero rearranjo do mesmo sistema!
Cada pessoa de consciência deve envolver-se com o seguinte Apelo:
“Pensas que estás consciente... Mas estás a dormir durante um pesadelo — Não é possível reformar este sistema, é necessário derrubá-lo!”
A digressão “Organiza-te para uma VERDADEIRA Revolução”
Mais informações:
revcom.us/a/582/the-get-organized-for-an-actual-revolution-tour-en.html (inglês);
revcom.us/a/582/la-gira-organicese-para-una-revolucion-real-es.html (castelhano).