Da edição n.º 535, de 19 de março de 2018, do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (http://revcom.us/a/535/while-you-were-being-led-to-fixate-on-pennsylvania-election-en.html em inglês ou http://revcom.us/a/535/mientras-llevaban-a-la-gente-a-obsesionarse-por-las-elecciones-en-pensilvania-es.html em castelhano).
Enquanto as pessoas estavam a ser levadas a focarem-se nas eleições na Pensilvânia, o inexorável monstro fascista de Trump avançou a toda a velocidade
Enquanto as cadeias televisivas MSNBC e CNN, os Democratas de topo e a comunicação social não-fascista em geral centravam a atenção das pessoas numa eleição para o Congresso na Pensilvânia e em vários escândalos na Casa Branca, na semana passada, um Donald Trump “incentivado” e o regime dele avançavam a toda a velocidade, empurrando os EUA para ainda mais próximo de um fascismo total e o mundo para mais próximo da guerra. Eis nove exemplos.
1. Trump nomeia o belicista Mike Pompeo para seu Secretário de Estado
Na terça-feira, Trump demitiu o Secretário de Estado Rex Tillerson e nomeou um belicista fanático para ocupar o lugar dele: Mike Pompeo, atual diretor da CIA. Pompeo é um fundamentalista cristão que defendeu que houvesse uma guerra de preempção contra a Coreia do Norte e escarneceu das negociações. Ele quer confrontar o Irão de uma maneira agressiva, incluindo abandonar o acordo nuclear que os EUA e outras potências assinaram com esse país. Isto poderá acontecer já em meados de maio, momento em que Trump tem de renovar ou anular o tratado. Pompeo tem mesmo defendido que um ataque militar ao Irão seria relativamente fácil de fazer. O presidente do liberal Conselho Nacional Iraniano-Americano chamou à nomeação de Pompeo “uma receita para a guerra”1
2. Trump nomeia uma torturadora efetiva para encabeçar a CIA
Nesse mesmo dia, Trump nomeou Gina Haspel para encabeçar a CIA. Em 2002, Haspel geria pessoalmente o programa de interrogatórios numa prisão secreta – ou “local escuro” – na Tailândia, estabelecido com o objetivo expresso de torturar pessoas que os EUA alegam ser “terroristas”. Haspel supervisionou os “interrogatórios” em que pessoas sequestradas pelos EUA eram despidas, espancadas, atiradas contra as paredes, obrigadas a passar fome e mantidas acordadas durante dias infindáveis. Às vezes, eles eram encerrados durante várias horas em caixas parecidas com caixões. Ela supervisionou a tortura da água [“waterboarding”] de Abd al-Rahim al-Nashiri, deixando-o à beira do afogamento em três momentos diferentes – uma forma aterradora de abuso quase universalmente condenada como tortura. Em 2005, Haspel tentou encobrir estes crimes ordenando a destruição de 92 vídeos que documentavam esses horrendos “interrogatórios”.
Com estas medidas, Trump tem agora um “gabinete de guerra”, num momento em que estão à porta importantes acontecimentos – a renovação do tratado com o Irão e a cimeira proposta para maio com a Coreia do Norte.
3. Trump viaja até a Califórnia e intensifica a campanha nazi contra os imigrantes
Trump utilizou a primeira viagem dele à Califórnia como presidente para intensificar o ataque genocida dele aos imigrantes. Trump foi diretamente para um local perto da fronteira com o México para ver protótipos do muro que pretende construir. Trump jurou “restabelecer a lei e a ordem” e justificou a venenosa campanha dele de “os Estados Unidos em primeiro lugar” contra as pessoas que atravessam a fronteira para fugirem à devastação que o imperialismo norte-americano despejou sobre as pátrias deles com mentiras racistas e desumanizadoras, descrevendo-os como animais que impõem um fardo aos Estados Unidos com “crime, tráfico de droga, fraudes à segurança social e encargos para as escolas e os hospitais”.
4. Trump ataca os dirigentes da Califórnia
Trump também utilizou a viagem dele para atacar as políticas liberais do estado e dos responsáveis Democratas. Trump acusou o Governador Jerry Brown por este fazer um trabalho “terrível”, alegando que o estado estava “fora de controlo”. Insultou demagogicamente as cidades santuário que dão aos imigrantes algum grau de proteção contra a agenda fascista e anti-imigrantes do regime de “Fazer com que os Estados Unidos voltem a ser brancos”. Disse que “as cidades santuário estão a proteger um grupo horrível de pessoas, em muitos casos criminosos. E o que aconteceu em Oakland [cuja presidente da câmara avisou antecipadamente os imigrantes das rusgas da Agência de Imigração] foi uma desgraça para a nossa nação. E nós simplesmente não podemos deixar que isso aconteça.” Isto acontece por cima das ameaças da semana anterior de processar e encarcerar o presidente da câmara de Oakland. Isto não é apenas uma disputa política entre Democratas e Republicanos, antes faz parte da agenda mais geral do regime de Trump e Pence para esmagar qualquer oposição de todos os setores da sociedade e impor a sua dominação e controlo totais – um fascismo total.2
5. A reunião de Trump ao estilo do KKK
“Ela é uma pessoa de baixo QI.” Foi isto que Trump disse sobre a congressista da Califórnia Maxine Waters, uma das responsáveis políticas negras mais proeminentes do país, numa das reuniões dele ao estilo do KKK, a 10 de março na Pensilvânia ocidental. “Vocês já a viram? Vocês já a viram?” Trump continuou a falar como se estivesse a falar de um animal de circo em vez de uma mulher negra. Nessa reunião, Trump também alegou que 52 por cento das mulheres tinham votado nele. Na realidade, 52 por cento das mulheres brancas votaram em Trump – o comentário dele mostra quem é que na cabeça dele conta como ser humano e “eleitor legítimo”. O veneno racista e misógino de Trump tem-se tornado tão perigosamente normalizado que mal fez ondas na comunicação social.3
6. DeVos diz que o problema são “as crianças individualmente”, ou seja, os jovens negros e latino-americanos; o regime de Trump restringe as proteções aos direitos civis dos estudantes
Nos Estados Unidos, os estudantes negros, latino-americanos ou de outras cores – mesmo nas escolas primárias – são muito mais severamente castigados que os estudantes brancos. Isto tem sido comprovado em inúmeros estudos. É possível encontrar online vídeo atrás de vídeo de estudantes – sobretudo negros – a serem atirados ao chão, espancados e até algemados por delitos menores, às vezes até em escolas primarias! Mas a Secretário da Educação de Trump, Betsy DeVos, nega que haja qualquer forma de racismo! No programa televisivo 60 Minutes, ela defendeu que os castigos severos que atingem desproporcionadamente os jovens de cor não são racismo – “tudo se resume a crianças individualmente” – por outras palavras, o problema são os jovens negros, latino-americanos ou de outras cores. E agora o regime de Trump e Pence está a avançar para anular as diretrizes do Departamento da Educação que tinham começado a abordar as práticas disciplinares racistas. A desculpa do regime: as diretrizes relaxaram a disciplina e conduziram aos tiroteios nas escolas – uma mentira. A realidade: o regime está totalmente empenhado na re-imposição do racismo aberto e da supremacia branca nas escolas e em toda a sociedade.4
7. Reduz o acesso das mulheres aos contracetivos
O regime de Trump e Pence não está só a atacar o direito ao aborto; está a bloquear o direito ao acesso a contracetivos. O Gabinete de Assuntos da População do Departamento de Saúde e Serviços Humanos anunciou recentemente que ia cortar o financiamento aos serviços de planeamento familiar de que milhões de mulheres pobres dependem para terem acesso a preservativos. Em vez disso, iria promover e financiar métodos não científicos e inseguros de controlo da natalidade, como o chamado método do ritmo e a abstinência até ao matrimónio. Isto não é nada mais que forçar as mulheres a se tornarem incubadoras, impossibilitadas de impedir gravidezes não desejadas. A re-imposição das brutais grilhetas do sistema patriarcal e o forçar as mulheres, sobretudo as brancas, a terem mais filhos é crucial aos olhos dos supremacistas brancos para manterem os Estados Unidos como um país predominantemente branco. Isto anda de mãos dadas com o programa do regime de Trump e Pence de “Fazer com que os Estados Unidos voltem a ser brancos”.5
8. As tarifas “os Estados Unidos em primeiro lugar” de Trump – alterar a ordem mundial e preparar-se para a guerra
Trump anunciou grandes aumentos das tarifas (impostos) sobre o aço e o alumínio importados – anulando acordos há muito existentes entre as potências internacionais e alterando as atuais relações económicas e comerciais. Justificou isto como sendo “uma questão de necessidade para a nossa segurança”. Isto intensificou ainda mais a crescente competição dos EUA com a China e outras potências mundiais para dominarem o comércio internacional. E faz parte de uma competição geopolítica mais vasta sobre que potência irá dominar – uma competição que irá intensificar enormemente o perigo de uma guerra inter-imperialista. Isto ocorreu em conjunto com outras medidas comerciais e económicas tomadas na semana passada. Assegurar a produção de aço e alumínio também é essencial para a expansão massiva das forças armadas norte-americanas que Trump iniciou, sobretudo para a sua capacidade nuclear.6
9. Nomeia uma alma gémea fascista e capitalista como principal conselheiro económico
Trump também contratou Larry Kudlow como seu principal conselheiro económico. Kudlow refletiu perfeitamente a mentalidade fascista e capitalista que é a alma de Trump ao fazer um comentário depois de um enorme terremoto e um tsunami terem atingido o Japão em 2011, matando cerca de 20 mil pessoas. No canal televisivo por cabo CNBC, Kudlow fez notar o facto de os mercados financeiros nos EUA não parecerem ter sido afetados: “O custo humano aqui parece ser muito pior que o custo económico e podemos estar gatos por isso.”7
Trump: “Estou realmente num ponto em que estou a chegar muito perto de ter o governo e outras coisas que quero.”
O tumulto no interior do regime de Trump e Pence e os despedimentos e demissões de vários altos funcionários não apontam principalmente para um “caos” e “desorganização” na Casa Branca ou que o regime de Trump e Pence se esteja a desmoronar. Eles fazem parte de uma luta muito aguda no topo da classe dominante norte-americana sobre se deve governar das maneiras tradicionais ou avançar para um fascismo total (incluindo, aparentemente, se deve avançar para guerras com a Coreia do Norte e o Irão). E, a semana passada, Trump e aqueles que estão a lutar por consolidar o fascismo fizeram enormes avanços. “Trump sente-se encorajado a se libertar das correntes que até agora o têm constrangido”, escreveu a revista Vanity Fair. Ele está inteiramente decidido a desfazer-se de todos os que não estão totalmente a favor o programa fascista dele. Depois de demitir Tillerson, disse: “Estou realmente num ponto em que estou a chegar muito perto de ter o governo e outras coisas que quero.”8
Tudo isto é extremamente sinistro, e mesmo assim os Democratas anunciaram que não se irão opor ao belicista lunático Pompeo nem à torturadora Haspel – desde que eles “comecem a endurecer as nossas políticas em relação à Rússia e a Putin”.9
Isto sublinha uma vez mais que, na luta contra o fascismo de Trump e Pence, os Democratas fazem parte do problema e não da solução. Acabar com esta ameaça grave e potencialmente existencial para milhões – e talvez milhares de milhões – de pessoas compete-nos a nós, e isto exige, de uma maneira cada vez mais urgente, esforços redobrados para organizar milhares e, em última instância, milhões de pessoas para expulsar do poder este regime fascista através de uma resistência e protestos políticos de massas e não violentos.
1. Para saber mais sobre Pompeo, ver “A escolha de Trump para a CIA: Mike Pompeo, um defensor da tortura e do fim do estado de direito”, no Revolution/Revolución de 21 de novembro de 2016 (em inglês ou em castelhano) Rex Tillerson, um ex-chefe da ExxonMobil, é um predador de classe mundial, mas quer gerir o império de maneiras mais tradicionais, incluindo a manutenção do acordo nuclear com o Irão e do acordo de Paris sobre o clima negociado pelo governo de Obama. Tillerson defendeu negociações com a Coreia do Norte e dizia-se que estava a trabalhar com o Secretário da Defesa Mattis para “fornecer ao presidente as opções militares de uma maneira retardada, aparentemente por temerem que o presidente pudesse escolher implementá-las de facto”. (Ênfase nossa.) Ver “Tillerson’s insubordination meant he had to go” [“A insubordinação de Tillerson implicou que ele tinha de sair”], Washington Post, 13 de março de 2018. Para mais informações sobre o acordo nuclear com o Irão, ver “Trump diz que o Irão está a violar o acordo nuclear: Uma manobra sinistra, uma escalada de gângster”, no Revolution/Revolución de 16 de outubro de 2017 (em inglês ou em castelhano). Para mais informações relativas ao acordo de Paris sobre o clima, ver “O regime de Trump e Pence retira-se do acordo de Paris sobre o clima: Colocando ‘os Estados Unidos em primeiro lugar’ – Queimando o futuro da humanidade”, no Revolution/Revolución de 5 de junho de 2017 (em inglês ou em castelhano).
Correm rumores de que Trump irá demitir em breve o conselheiro nacional de segurança McMaster e o irá substituir pelo sanguinário John Bolton, que recentemente escreveu um artigo de opinião titulado “O caso legal para sermos os primeiros a atacar a Coreia do Norte” e diz que Trump deveria emitir um ultimato “desarmem ou então” no encontro dele com o presidente da Coreia do Norte, Kim Jong-un.
2. Ver “Trump e Sessions intensificam os ataques aos santuários para imigrantes – Isto é intolerável! Deve ser parado”, no Revolution/Revolución de 12 de março de 2018 (em inglês ou em castelhano); e “O ‘caso do memorando’ – um ato rumo a uns Estados Unidos fascistas”, no Revolution/Revolución de 5 de fevereiro de 2018 (em inglês ou em castelhano).
3. Ver “Trump again questions Maxine Waters’ intelligence, says she’s ‘very low IQ’” [“Trump questiona novamente a inteligência de Maxine Waters e diz que ela tem um ‘QI muito reduzido’”], CNN, 11 de março de 2018; ver também, Eugene Scott, “Trump’s repeat attacks on Maxine Waters’s IQ are familiar” [“Os repetidos ataques de Trump ao QI de Maxine Waters são familiares”], Washington Post, 11 de março de 2018.
4. Ver “Black Students More Likely to Be Arrested at School” [“Os estudantes negros têm uma maior probabilidade de serem presos na escola”], Education Week, 24 de janeiro de 2017; “Police Assault on Black Students in Kentucky Sparks Calls for Reform” [“Os ataques policiais a estudantes negros no Kentucky desencadeiam apelos a reformas”], Programa de Justiça Racial da ACLU, 21 de novembro de 2017; e Michelle Goldberg, “Will Betsy DeVos Expand the School-to-Prison Pipeline?” [“Irá Betsy DeVos expandir a via direta da escola para a prisão?”], New York Times, 12 de março de 2018.
5. Ver “The Trump Administration’s Backward Attitude Toward Birth Control” [“A atitude retrograda do governo de Trump em relação ao controlo da natalidade”], New York Times, 8 de março de 2018.
6. Em janeiro, o Departamento de Comércio de Trump publicou dois relatórios que concluíram que os EUA precisam de expandir e proteger a produção doméstica de aço e alumínio. Os relatórios dizem que os EUA estão a importar aço “em quantidades tais (...) e em circunstâncias tais” que isso “ameaça lesar a segurança nacional”. Por “segurança nacional” querem dizer, acima de tudo, a capacidade de os EUA reterem a capacidade de produzirem enormes quantidades de armas nucleares modernas, na eventualidade de um conflito internacional e uma disrupção do comércio mundial. Mas também significa que a indústria norte-americana do aço é essencial ao desenvolvimento de um “economia doméstica mais forte” que capacite os EUA a competirem e vencerem a nível internacional na disputa económica. Os relatórios recomendam tarifas sobre o aço da Rússia, da China e de vários outros países.
7. Ver “The most insensitive comment about Japan earthquake on TV?” [“O comentário mais insensível na televisão sobre o terremoto no Japão?”], Chicago Tribune, 18 de março de 2018.
8. Ver “‘Trump Is Going for a Clean Reset’: Fuming in the West Wing, Trump Prepares to Defenestrate Cuck Allies and Go Full MAGA” [“‘Trump vai avançar para um reinício total’: Fumegando na Ala Oeste, Trump prepara-se para defenestrar os aliados tipo Cuck e impor plenamente o ‘Fazer com que os Estados Unidos sejam novamente grandiosos’”], Vanity Fair, 9 de março de 2018; e “Trump Wants Them Out of There,: After Swinging the Axe at Tillerson, Trump Mulls What to Do With McMaster, Sessions, Jared, And Ivanka” [“Trump quer pô-los fora dali: Depois de baixar o machado sobre Tillerson, Trump pondera o que fazer com McMaster, Sessions, Jared e Ivanka”], Vanity Fair, 14 de março de 2018.
9. “Despite Torture-Loving Pasts, Schumer Not Pushing Democrats to Oppose Pompeo or Haspel” [“Apesar do passado deles de defesa da tortura, Schumer não está a promover que os Democratas se oponham a Pompeo ou a Haspel”], Common Dreams, 14 de março de 2018.