Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 24 de outubro de 2017, aworldtowinns.co.uk
Introdução do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar: Em celebração do 100º aniversário da Revolução Russa, reproduzimos o seguinte excerto de um artigo mais longo intitulado Não sabes o que crês que “sabes” sobre... A Revolução Comunista e o VERDADEIRO Caminho para a Emancipação: A Sua História e o Nosso Futuro.
A versão integral está disponível em revcom.us/a/323/you-dont-know-what-you-think-you-know-en.html (em inglês) e revcom.us/a/323/no-sabes-lo-que-crees-que-sabes-es.html (em castelhano). Versões eBook em inglês estão disponíveis através da editora Insight Press nas lojas Amazon.com, Apple/iBooks, Barnes & Noble, eBooks.com, Independent Publishers Group (IPG) e Kobo. Uma versão em formato PDF em castelhano está disponível em aurora-roja.blogspot.com/2015/11/no-sabes-lo-que-crees-que-sabes-sobre.html.
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Em celebração do 100º aniversário da Revolução Russa
Não sabes o que crês que “sabes” sobre...
A Revolução Comunista e o VERDADEIRO Caminho para a Emancipação:
A Sua História e o Nosso Futuro
Uma entrevista a Raymond Lotta (Excerto)
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1917 — A revolução abre caminho na Rússia
Pergunta: Então falemos da revolução bolchevique e das condições na sociedade russa. Na maioria das escolas, nem sequer se ensinam os factos básicos.
Raymond Lotta: Chama-se revolução bolchevique porque o Partido Comunista originalmente se chamava bolchevique (a palavra, que significa “maioria”, refere-se à maioria das forças agrupadas em torno de Lenine que resolveram criar um partido da revolução).
A revolução russa ocorreu na turbulência da Primeira Guerra Mundial, que começou em 1914 e durou até 1918. Foi uma guerra em que dois blocos das grandes potências imperialistas lutaram um contra o outro. Um bloco incluía a Grã-Bretanha, a França e os EUA (e a Rússia fazia parte dessa aliança); e o outro era encabeçado pela Alemanha com os aliados dela. Eles estavam a lutar pela supremacia global, em particular pelo controlo das regiões coloniais oprimidas de África, Ásia e Médio Oriente.
Foi uma guerra monstruosa, mecanizada, moderna. Os combatentes foram atacados com gás, torpedos, minas, bombardeados com artilharia que nunca tinham visto, metralhados. Foi uma chacina a uma escala nunca antes vista na história humana — 10 milhões de pessoas foram mortas e outros 20 milhões de pessoas ficaram feridas.11
Quando a Rússia entrou na guerra, todos os principais partidos na Rússia e a maior parte dos principais partidos na Europa apoiaram a guerra em nome do patriotismo — todos menos o Partido Bolchevique liderado por Lenine. Este assumiu uma posição internacionalista, treinando as pessoas a verem como essa guerra não servia os interesses da humanidade oprimida e apelando às pessoas nos países imperialistas a se levantarem em revolução e derrotarem os seus próprios governos.
A maior parte da sociedade russa desse tempo era constituída por camponeses. Eles tinham pequenas parcelas de terra em que muitos deles trabalhavam (quase como os meeiros do Sul dos Estados Unidos). As condições de vida eram muito atrasadas e as pessoas estavam presas à tradição. Os camponeses faziam as sementeiras de acordo com o calendário religioso. As mulheres enfrentavam condições horrivelmente opressoras.
As cidades eram locais de habitações abarrotadas e doenças.
A Rússia era um império. A etnia russa dominante tinha colonizado várias zonas e regiões da Ásia Central (como o Uzbequistão) e também tinha subordinado regiões mais desenvolvidas como a Ucrânia. A Rússia era conhecida como “prisão de nacionalidades”. As nacionalidades não russas constituíam cerca de 45 por cento da população, mas as culturas minoritárias eram violentamente reprimidas e os idiomas delas não podiam ser ensinados nem falados nas escolas.
A Rússia era uma sociedade autocrática e repressiva. O poder do czar era baseado na polícia secreta, nas prisões e na vigilância.
A Primeira Guerra Mundial intensificou todo o sofrimento da sociedade. Cerca de 1,5 milhões de russos morreram na guerra e três milhões ficaram feridos. As pessoas passavam fome. A guerra provocou uma “crise de legitimidade” na sociedade russa... e instalou-se um clima revolucionário. Os operários revoltaram-se e fizeram greves por melhores condições de vida. As mulheres tomaram as ruas. Muitos soldados recusaram-se a reprimir os protestos e a amotinação expandiu-se. O czar foi derrubado.12
Mas o novo governo não fez nada para mudar as condições básicas de vida das massas populares... e fez acordos secretos com os imperialistas britânicos e franceses para manter a Rússia na guerra.
Lenine e o papel vital da liderança comunista
O filme de 1928, Outubro, realizado por Sergei M. Eisenstein (em inglês).
P: Mas, muitas vezes diz-se que os bolcheviques estavam a conspirar nos bastidores e que basicamente fizeram um golpe de estado em outubro de 1917.
RL: Isso é um absurdo. O Partido Bolchevique liderado por Lenine estava preparado para agir e liderar como nenhuma outra força na sociedade russa. Tinha força nas bases e organização nos comités de fábrica, nas forças armadas, nos sovietes. Estes eram assembleias ilegais e antigovernamentais representativas dos operários que disputavam o poder nas cidades e nas grandes vilas...
O programa e a perspetiva bolcheviques tiveram um amplo e profundo eco numa sociedade em crise, em convulsão e à procura de uma direção. O Partido Bolchevique liderou as massas populares a verem o que estava por trás das várias manobras desse novo regime. Formulou as reivindicações de “terra, paz e pão” que respondiam às necessidades básicas do povo numa situação de horrível sofrimento e privação — mas para as quais nenhum outro partido tinha resposta. E, em outubro, Lenine e os bolcheviques lideraram as massas numa insurreição. Foi a Revolução de Outubro.13
P: Mas, repito, da maneira como isso é descrito, os bolcheviques só estavam a consolidar as rédeas do poder para eles mesmos.
RL: Reparem, estava a ser criado um novo poder de estado. De imediato, o novo governo promulgou dois decretos espantosos. O primeiro deles retirou a Rússia da guerra e exigiu o fim da chacina — e apelou a uma paz sem conquistas nem anexações. O segundo decreto autorizou os camponeses a tomarem as vastas propriedades rurais da coroa czarista, das classes aristocráticas proprietárias rurais e da igreja (ela própria proprietária de grandes extensões de terras).
Mas o que estava a acontecer teve um significado maior. Essa “longa noite de trevas”, essas trevas de exploração e opressão estavam a ser eliminadas. Pela primeira vez desde o surgimento da sociedade de classes, a sociedade ia deixar de estar organizada em torno da exploração. E isto teve repercussões em todo o mundo.
Na Europa, soldados, marinheiros e trabalhadores exaustos pela continuação da guerra seguiam as notícias do que estava a acontecer na nova sociedade. Na Alemanha, em Kiel e em Hamburgo, os marinheiros rebeldes da armada alemã revoltaram-se contra as ordens para continuarem a guerra. Em 1918, iniciaram-se insurreições em vários pontos da Europa Central — e foram cruelmente reprimidas. Houve muitos países na Europa em que emergiram situações revolucionárias, e em alguns deles houve revoluções. Mas em nenhum outro lugar, para além da Rússia, a revolução venceu e manteve-se. Uma grande parte da razão para isso foi não haver um genuíno partido de vanguarda nessas sociedades. Mas, devido à influência de Outubro, novas organizações comunistas propagaram-se em diferentes pontos do mundo. E os bolcheviques assumiram o ponto de vista de propagar a revolução, e promoveram o marxismo e a organização de um partido de vanguarda. Com base nisto, foi formado um novo organismo internacional que coordenou a atividade dos partidos e organizações comunistas em todo o mundo — um enorme avanço para a revolução.
O capitalismo mundial nunca mais seria o mesmo. A história mundial tinha sido profundamente mudada.
P: Deste uma imagem dos que apoiavam a revolução comunista na Rússia. E por quê. Mas não houve algumas pessoas que se opuseram ferreamente a esta revolução?
RL: Sim. Houve uma guerra civil entre 1918 e 1921. O país foi lançado num estado de quase caos e colapso.
Apenas alguns meses depois da insurreição de 1917, as forças reacionárias dentro da Rússia, que representavam a velha ordem derrubada, lançaram uma investida contrarrevolucionária contra o novo regime. Catorze potências estrangeiras, entre as quais os Estados Unidos, intervieram com tropas e ajuda militar em apoio da contrarrevolução. Reparem, em outubro de 1918, quando estava a ser celebrado o primeiro aniversário da Revolução, três quartos do país estavam nas mãos das forças contrarrevolucionárias. Pensem nisso.
O novo estado proletário estava isolado a nível internacional e havia uma aguda escassez de alimentos e armamento.14
Pode ver-se aqui o papel vital da liderança de vanguarda. O partido assumiu a responsabilidade pela coordenação das ações militares. Desenvolveu políticas económicas para satisfazer as necessidades sociais e manter unida a sociedade. Dirigiu a criação de novas instituições sociais. A imprensa revolucionária e outros meios de comunicação disseminaram o marxismo e a perspetiva socialista de uma nova economia, novas instituições políticas e novos valores. Isto alimentou todo um novo “discurso” emancipador na sociedade — e isto foi um fator muito poderoso e positivo na criação de um novo ambiente.
A nova sociedade estava a enfrentar uma violenta investida internacional. Sim, a economia esteve por vezes à beira do colapso, e as pessoas estavam a sofrer. Mas a liderança comunista manteve-se forte e levou a cabo a tarefa de expandir, consolidar e mobilizar a sua base entre aqueles que queriam defender a libertação com tudo o que tinham. E as pessoas puderam mobilizar-se e pôr-se de pé porque agora havia novos órgãos de poder estatal proletário que exprimiam a vontade e a determinação delas.
Um novo tipo de poder
P: Que queres dizer com “órgãos de poder estatal proletário”?
RL: Isso é uma questão excelente e central. Nas sociedades capitalistas, os exércitos, os tribunais, a polícia, as prisões e — mesmo na cúpula — o poder executivo, tudo isto está ao serviço dos capitalistas. Estes órgãos reprimem as pessoas quando elas se põem de pé — vejam o que fizeram ao movimento Ocupar, por exemplo — ou mesmo antes de elas se porem de pé, só para que elas “saibam o lugar delas” na sociedade capitalista — como nas ações policiais de “parar e revistar” em Nova Iorque e noutras cidades. Os parlamentos são apenas tribunas de falatório, lugares que permitem aos diferentes capitalistas em contenda debaterem as suas discordâncias e/ou que servem de inócuas válvulas de escape para o descontentamento das massas. Por isso pode dizer-se que são órgãos de poder do estado reacionário, ou órgãos de poder do estado burguês — ou seja, capitalista. Como já disse, é uma ditadura da burguesia, ou seja, da classe capitalista.
A revolução socialista tem de estabelecer novos órgãos de poder revolucionários que representem o proletariado. Estes órgãos de poder — que devem, com o passar do tempo, envolver um número crescente de pessoas tanto da base da sociedade como também de setores mais da classe média — terão de conseguir eliminar a contrarrevolução. Por exemplo, são necessárias forças de segurança pública — mas numa base completamente diferente, servindo fins completamente diferentes e com uma conduta completamente diferente da que temos hoje. Mas estes novos órgãos de poder também têm de ser capazes de apoiar as pessoas na realização de transformações em todos os campos, liderando-as e permitindo que elas organizem os seus esforços de criação de uma sociedade inteiramente nova numa base inteiramente nova. É isto o que significa a ditadura do proletariado.
As massas criaram novas práticas na situação realmente medonha de uma guerra civil total. Por exemplo, houve a prática do trabalho voluntário cooperativo, em que, sob terríveis pressões, as pessoas se juntavam para manter as condições de salubridade e higiene nas cidades. As pessoas estavam a mudar a natureza humana, trabalhando coletivamente e forjando novas relações baseadas na cooperação. E o novo estado estava a dar apoio a isto.
P: Nunca se ouve falar realmente nesta guerra civil quando se fala da revolução. Que aconteceu de facto?
RL: A contrarrevolução foi derrotada a grande custo. Durante a guerra civil, um milhão de pessoas morreu nos combates e mais três milhões morreram de doença. Nove décimos dos engenheiros, médicos e professores saíram do país. Alguns dos mais dedicados operários comunistas morreram nas linhas da frente. E a própria classe operária ficou imensamente reduzida em número — devido aos combates, às deslocações, à destruição e às pessoas que fugiram para as zonas rurais.
Os comentadores burgueses falam como se os bolcheviques tivessem assumido o controlo de um país que estava basicamente intacto e como se os imperialistas se tivessem limitado a olhar para ele de uma maneira benigna. Não, as coisas estavam num estado de quase ruína e os imperialistas e reacionários estavam a atacá-los. O primeiro embargo petrolífero do mundo foi aplicado ao novo estado soviético.
Mas o poder de estado foi preservado... e, por mais frágil que fosse, a União Soviética continuou a ser uma posição avançada da luta por um mundo novo. Tudo isto se deveu à liderança de Lenine e à existência de um partido de vanguarda.
Mudanças radicais: As mulheres
P: Mas há uma linha de ataque que sustenta que as emergências e as ameaças se tornaram numa desculpa para os bolcheviques simplesmente traírem as esperanças de pessoas.
RL: Reparem, era uma revolução que lutava pela sua sobrevivência, mas também era um poder de estado que lutava por levar avante uma revolução social. Veja-se o caso da opressão das mulheres.
A revolução agiu rapidamente para tomar medidas importantes. Aboliu todo o sistema de matrimónio sancionado pela igreja que tinha codificado a autoridade do homem sobre a mulher e os filhos. O divórcio passou a ser fácil de obter. Isto foi muito importante, pois proporcionou às mulheres uma maior liberdade social. Foi decretado o salário igual para trabalho igual. As maternidades passaram a fornecer os seus serviços gratuitamente; e, em 1920, a União Soviética tornou-se no primeiro país da Europa moderna a legalizar o aborto.15 Isto aconteceu muito antes de os países capitalistas desse tempo o terem feito, surgindo numa época em que o direito ao divórcio estava normalmente sujeito a todo o tipo de restrições religiosas, se é que era sequer permitido, e em que as mulheres em muitos países capitalistas nem sequer podiam votar ou tinham acabado de conquistar esse direito bastante básico — e isto aconteceu apenas alguns anos depois de as autoridades norte-americanas terem torturado as sufragistas encarceradas que estavam em greve da fome, alimentando-as à força.16 Muito ligado a isto em espírito está o facto de a União Soviética ter legalizado as relações homossexuais.
Em meados e finais dos anos 1920, também ocorreu uma outra coisa. Houve lutas contra os costumes patriarcais em algumas das repúblicas da Ásia Central. Muito disto estava ligado às opressoras leis islâmicas — a Xariá. As mulheres estavam a desafiar tudo isto e o estado socialista deu o seu apoio às mulheres (e aos homens esclarecidos) que participavam nessas lutas — e estava a encorajar de facto essas lutas.
O governo forneceu fundos às organizações locais de mulheres. Um grande foco da luta foi a oposição à prática dos casamentos arranjados que ainda persistia em diferentes regiões, e também à dos dotes nupciais — os pagamentos feitos entre as famílias dos noivos. Durante algum tempo, os comunistas das cidades foram para essas zonas para apoiar estas campanhas. Por vezes, isto tornou-se muito intenso, com forças retrógradas a atacar os organizadores. E houve mulheres ativistas locais a apresentar-se para a luta. Em 1927, foi lançada uma grande ofensiva contra a prática secular de obrigar as mulheres a usar véu — um símbolo da opressão, tanto no mundo de então como no de hoje, do controlo patriarcal sobre os rostos, os corpos e a humanidade das mulheres.17
Nos jornais e nas escolas soviéticas, houve um debate vivo sobre os papéis de género, o matrimónio e a família. Houve obras de ficção científica a imaginar novas relações sociais. E, francamente, quando se compara o que estava a acontecer na União Soviética com a situação de patriarquismo — de patriarquismo imposto — no resto do mundo de então e de agora, isto parece ficção científica!
Nunca antes uma sociedade se tinha proposto eliminar a opressão das mulheres, nunca antes a igualdade de género se tinha tornado num tão grande foco da sociedade. As pessoas precisam de saber isto. As pessoas precisam de aprender com isto. Precisamos de aprender com os pontos fortes disto, que foram de longe o aspecto principal, sobretudo neste período, e também precisamos de aprender com alguns dos pontos fracos da compreensão deles, dos quais falarei um pouco mais adiante.
Mudanças radicais: As nacionalidades minoritárias
P: Mencionaste as nacionalidades minoritárias. Como é que estavam a lidar com a discriminação? Obviamente, estamos aqui nos EUA, e o racismo está bem vivo. Mas os ativistas progressistas e radicais põem em causa se o socialismo, o comunismo, pode realmente lidar com a opressão racial e nacional.
RL: A revolução bolchevique criou o primeiro estado multinacional do mundo baseado na igualdade das nacionalidades.
O novo estado socialista reconheceu o direito à autodeterminação — ou seja, o direito de uma nação oprimida a se separar de um império ou de uma nação dominante e a obter a independência. Por exemplo, a Finlândia, que no império russo foi mantida numa posição subordinada, tornou-se independente. A constituição soviética de 1924 deu uma configuração formal a uma união multinacional de repúblicas e regiões autónomas. Foi por isso que houve a União Soviética — a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a qual incluía 12 grandes repúblicas nacionais e 25 regiões autónomas (e muitos distritos e outras unidades de menor dimensão). O novo governo central reconheceu o direito à autonomia — e isto queria dizer autogoverno — nas repúblicas e nas regiões.
Um decreto de 1917 concedeu a todas as nacionalidades minoritárias o direito ao ensino nos seus idiomas maternos em todas as escolas e universidades.18 Aconteceram coisas incrivelmente estimulantes nos anos 1920 e início dos anos 1930. Foram atribuídas formas escritas a muitas nacionalidades minoritárias que não tinham línguas escritas. O estado soviético dedicou recursos consideráveis à produção em massa de livros, revistas e jornais nas regiões minoritárias, à distribuição de filmes e ao apoio a grupos folclóricos.
Foram publicados livros em mais de 40 idiomas não russos. Paremos um pouco aqui. Que está a acontecer neste momento nos Estados Unidos? Vemos campanhas em vários pontos do país a defender “só inglês”! Compare-se isto com a União Soviética. Nos anos 1920, os russos estavam a ser encorajados a aprender idiomas não russos — e o chauvinismo grã-russo, semelhante aos privilégios e à dominação dos brancos norte-americanos, foi pública e fortemente condenado como influência nociva na sociedade.
A política de nacionalidades requeria uma “liderança local” nos novos territórios nacionais. A ideia era criar líderes vindos das populações dessas regiões. E foram feitos todos os tipos de esforços para treinar dirigentes do partido e administradores do governo, das escolas e das empresas oriundos das nacionalidades anteriormente oprimidas.19
Pôs-se fim à perseguição do povo judeu — o qual, a propósito, durante o regime czarista tinha sido confinado na sua esmagadora maioria a uma zona específica chamada “zona de colonato” e periodicamente sujeito a “pogroms” semelhantes aos linchamentos por turbas nos EUA. Depois da vitória da revolução, o novo estado proibiu oficialmente o antissemitismo. Os judeus passaram a ingressar em profissões das quais tinham sido banidos durante muito tempo e a ocupar importantes posições de autoridade na administração do estado. Foram criadas companhias de teatro que representavam em iídiche. Durante a guerra civil, a liderança bolchevique combateu a influência das ideias antijudaicas entre vários setores dos camponeses e outros.20
Este espírito de combate à opressão nacional e encorajamento ativo da diversidade étnica permeou a União Soviética inicial. Foi uma das características definidoras da nova sociedade e do novo estado.
Nessa altura, em que outro lugar no mundo estavam a acontecer coisas como estas? Uma resposta curta: em lugar nenhum. Mas nós sabemos, ou pelo menos as pessoas deveriam saber, qual era a situação nos Estados Unidos. A segregação era a regra. As Jim Crow [leis de segregação racial] estavam em pleno vigor. Durante esse tempo, o Ku Klux Klan marchou pelas ruas de Washington, DC, com vestimentas cerimoniais completas e a prática dos linchamentos por turbas aterrorizava os afro-americanos no Sul dos Estados Unidos. E, no “Norte esclarecido”, as turbas brancas andavam à solta pelas cidades, assassinando 23 negros só em Chicago num frenesim de 7 dias em 1919, um dos 25 ultrajes semelhantes cometidos só nesse verão — no mesmo ano em que os “vermelhos” estavam envolvidos numa guerra civil para criarem um novo mundo no que viria a ser a União Soviética.21
Quando Paul Robeson — o grande ator, cantor e radical afro-americano — visitou pela primeira vez a União Soviética no início dos anos 1930, ficou profundamente impressionado com os esforços da revolução para eliminar os preconceitos raciais e nacionais e profundamente emocionado pessoalmente pela maneira como foi tratado tanto pelos funcionários como pelas pessoas comuns na nova sociedade socialista. Na União Soviética, as minorias étnicas não estavam a ser linchadas como acontecia nessa altura com os negros no Sul dos Estados Unidos.22 A nova União Soviética não era um lugar onde estavam, e ainda estão, a ser produzidos e defendidos como ícones cinematográficos filmes racistas como O Nascimento de Uma Nação (que enaltecia o Ku Klux Klan) e E Tudo o Vento Levou (que pintava de cor-de-rosa a cultura das plantações brancas). A nova cultura na União Soviética estava a promover a igualdade entre as nacionalidades e a celebrar o heroísmo das pessoas que combatiam a opressão.
Os Estados Unidos e a União Soviética eram dois mundos diferentes.
As artes
P: Tens-te centrado principalmente nas mudanças económicas e políticas. Mas que estava a acontecer no campo das artes?
RL: Bem, primeiro, as coisas de que acabei de falar são definitivamente políticas — mas isto também abarcava as maneiras como as pessoas se relacionavam umas com as outras na vida social, e mesmo como pensavam sobre o mundo e sobre si mesmas. E isto também teve reflexos nas artes. Desde a chegada da revolução ao poder em 1917 aos anos 1920 e início dos anos 1930 houve uma tremenda vitalidade artística na União Soviética. Foi muito debatido o papel, o propósito e o caráter da arte revolucionária ao contribuir para a construção de uma nova sociedade e um novo mundo.
Foram produzidas inovações de nível mundial nas artes. Estou a falar de importantes artistas visuais de vanguarda como Rodchenko e Malevich, de cineastas como Eisenstein e Dovzhenko23 — os quais estavam a criar obras muito impressionantes inspiradas por uma re-imaginação radical do mundo, por um desejo de refazer radicalmente o mundo — e a fazerem isto através de todo o tipo de técnicas novas e sem precedentes, como a montagem em filme.
Reparem, estive a ouvir a curadora de uma recente exposição no Museu de Arte Moderna [de Nova Iorque] sobre o movimento de arte abstrata do início do século XX. Ela foi entrevistada na televisão e perguntaram-lhe onde é que, nessa altura, essa arte estava de facto a influenciar a sociedade. E ela fez uma piada: Sabe, o único lugar no mundo onde a vanguarda alguma vez teve poder de estado... foi a União Soviética. Ela estava a ser subtil, mas estava a assinalar uma coisa real.
Os artistas na União Soviética estavam a criar obras incríveis e pioneiras como parte de uma ousada transformação da sociedade e das consciências. Um famoso arquiteto projetou estruturas para exprimir o internacionalismo; outros arquitetos e urbanistas estavam a repensar o traçado das cidades e das habitações, para promoverem o espírito comunitário e a cooperação — envolvendo mesmo coisas como o redesenho do mobiliário doméstico.
Estavam a chegar ao público pontos de vista e debates de todo o tipo — questões sobre a importância e o papel da arte ou a relação entre a experimentação artística e as novas relações sociais. Havia todo o tipo de grupos e associações de artistas e trabalhadores culturais, publicações, manifestos e proclamações.
E a inovação artística de nível mundial e a exploração teórica juntaram-se às necessidades das massas e, se quiserem usar a expressão, aos “atos quotidianos”. Especialmente nas artes visuais, onde se fizeram grandes inovações na arte dos cartazes, na litografia, que contribuíram para a batalha pela alfabetização dos camponeses.
Houve campanhas de massas para eliminar a iliteracia, e muito rapidamente a população soviética atingiu elevados níveis de literacia.
Houve campanhas de saúde pública — ou seja, sobre coisas básicas como encorajar as pessoas nas zonas rurais a terem hábitos básicos de higiene — em que os artistas visuais foram chamados a ajudar a encontrar formas de comunicar as mensagens. E estes enfeitaram comboios com grafismos ousados.
Havia muitos teatros ao ar livre, um teatro para as massas. Havia artistas a participar em festivais de rua e em desfiles — estes eram formas muito populares de expressão cultural das massas. Os poetas e os satiristas tinham muitos seguidores entre as massas.24
O que quero salientar é que a União Soviética foi um lugar entusiasmante, um lugar fantástico onde estar nos anos 1920 e início dos anos 1930. Como nenhum outro lugar no planeta.
José Estaline
P: Nunca se ouve falar realmente dessas coisas. Qual foi o papel de Estaline em tudo isso? E talvez também possas falar sobre o papel dele em geral. A visão convencional diz que ele era uma espécie de lunático ou tirano.
RL: Há aqui muito de que falar. Há, e aqui uso a expressão do historiador Arno Mayer, uma “demonização ritualizada” de Estaline.25 E deixem-me dizer abertamente... as pessoas que se limitam a aceitar esta “demonização ritualizada” e que a repetem... são vítimas de uma “lavagem ao cérebro”.
Temos de repor a verdade e de olhar para os indivíduos e os acontecimentos de uma maneira científica, compreendendo o verdadeiro contexto: o que estava a acontecer na sociedade e no mundo; como é que eles compreendiam o que estavam a enfrentar; e, com base nisto, quais eram as metas e objetivos deles. Em suma, temos de desmistificar.
Estaline foi um revolucionário genuíno. Os tipos de mudanças sociais radicais que ocorreram na sociedade soviética que eu tenho vindo a descrever — tudo isto esteve muito ligado à liderança de Estaline. Lenine morreu em 1924 e José Estaline assumiu a liderança do Partido Comunista na União Soviética. Ora, a questão que se colocava em meados dos anos 1920 era: É possível construir o socialismo na União Soviética? É possível fazê-lo numa sociedade que era económica e culturalmente atrasada?
A expectativa de Marx era de que as revoluções socialistas iriam irromper primeiro nos países capitalistas mais avançados — porque aí havia uma grande classe operária industrial e uma economia industrial moderna que poderiam servir de base a uma economia e uma sociedade socialistas desenvolvidas. Mas não foi assim que a história se desenvolveu.
Lenine disse: Certo, não temos o que teoricamente se estava à espera que fosse a base desenvolvida para o socialismo... estas são as cartas que nos saíram, temos de construir o socialismo e criar uma base melhor... e temos de promover a revolução mundial. E a União Soviética desempenhou o papel de iniciador da formação de uma associação de partidos comunistas — que foi a III Internacional Comunista.
Mas os desafios de facto aumentaram e intensificaram-se. Após uma década de revolução, em 1927, a União Soviética ainda estava só, como único estado proletário no mundo... e não havia nenhuma certeza de que viessem a ocorrer revoluções noutros países. Por isso, repito, será que era possível resistir e levar a cabo a transformação económica e social socialista?
Estaline deu um passo em frente e lutou pelo ponto de vista de que, nestas circunstâncias, a União Soviética podia e devia seguir a via socialista. Se não o tivesse feito, a União Soviética, o primeiro estado socialista do mundo, não iria conseguir sobreviver. Não iria conseguir ajudar a revolução noutros lugares. Fazer menos que isso iria desperdiçar os sacrifícios de milhões de pessoas na União Soviética e trair as esperanças da humanidade oprimida em todo o mundo. Era esta a orientação pela qual Estaline estava a lutar — e Estaline liderou complexas e agudas lutas para socializar a propriedade da indústria e coletivizar a agricultura.
A construção de uma economia socialista
P: Estás a referir-te ao debate sobre a construção do “socialismo num só país”?
RL: Sim. Nessa altura, e isto foi em finais dos anos 1920, Estaline viu a construção socialista na União Soviética como parte e contribuição para o avanço da revolução mundial. E ele e outras pessoas na alta liderança estavam à espera de uma nova maré da revolução, sobretudo na Alemanha. Eles pensavam que a União Soviética poderia ajudar a desencadear essa nova vaga — embora continuasse a haver a necessidade de “avançarem sós” durante algum tempo.
P: Podes descrever resumidamente a situação económica na União Soviética em meados dos anos 1920?
RL: A agricultura ainda era atrasada e não conseguia alimentar a população de uma maneira fiável. A indústria era limitada e não podia fornecer as fábricas e as máquinas necessárias para modernizar a economia. A Rússia tinha sido uma sociedade em que os intelectuais eram um minúsculo segmento da população, em que apenas uma diminuta fatia da população tinha estudos superiores em tecnologia ou artes liberais. E havia, como sempre, a iminente ameaça de um ataque imperialista.
Eram estas as contradições económicas e sociais reais enfrentadas por seres humanos reais que estavam a tentar refazer a sociedade e o mundo.
O estado soviético sob a liderança de Estaline tomou medidas para criar um novo tipo de economia. Pela primeira vez na história moderna, a produção social estava a ser levada a cabo de uma maneira consciente segundo um plano concebido para satisfazer as necessidades do povo e moldado por objetivos e metas sociais globais de acabar com a opressão e a pobreza e mudar o mundo... um plano que era coordenado como um todo. Isto foi um extraordinário passo em frente. A produção deixou de estar dependente do que poderia gerar lucro a um capitalista.
Falei da rutura com a “longa noite de trevas”. Ali, naquele único pedaço de terra libertada no mundo, cercado por potências imperialistas e reacionárias hostis, estava a ser feito algo totalmente radical. Em vez de serem explorados por uma minoria, dominados por uma minoria de proprietários — em vez de o produto social do trabalho e da energia das pessoas servir para a manutenção da divisão da sociedade em classes, agora havia uma economia ao serviço das necessidades da sociedade e da mudança revolucionária.
P: Mas a maneira como isso é retratado é que havia um plano diretor vindo de cima e imposto à sociedade.
RL: O I Plano Quinquenal da União Soviética foi lançado em 1928. O lema do I Plano Quinquenal era “estamos a construir um mundo novo”. Milhões de operários e camponeses foram incentivados por este espírito. Nas fábricas e nas aldeias, as pessoas discutiram o plano: a diferença que a construção de uma economia assim traria às vidas delas — e às das pessoas em todo o mundo. Nas conferências nas fábricas, as pessoas falavam sobre como reorganizar o processo de produção. As pessoas voluntariavam-se para ajudarem a construir vias-férreas em regiões inóspitas. Elas trabalhavam voluntariamente em longos turnos. Nas siderurgias, as pessoas cantavam canções revolucionárias a caminho do trabalho.26
Nunca antes na história tinha havido uma tal mobilização de pessoas para, de uma maneira consciente, alcançarem metas económicas e sociais planificadas.
E façamos novamente a pergunta: que estava a acontecer no resto do mundo? A economia capitalista mundial estava a elanguescer na Grande Depressão do início dos anos 1930 — com níveis de desemprego que atingiram os 20 e os 50 por cento. Em grandes cidades como Nova Iorque e Berlim, as pessoas estavam a passar fome, e se alguma vez viram o filme As Vinhas da Ira, têm uma imagem do que enfrentavam os pequenos agricultores nos EUA — o país mais rico do mundo.
De volta à União Soviética, também estava a acontecer a transformação da agricultura, a coletivização...
A luta nas zonas rurais
P: Essa é uma das coisas que as pessoas me indicam como uma coisa negativa.
RL: Bem, elas estão muito erradas. A coletivização respondeu a necessidades e contradições reais na sociedade — e à situação mundial que os soviéticos enfrentavam.
Temos de voltar à guerra civil de que já falei. Ela causou uma imensa destruição e desequilíbrios na economia e na sociedade. A situação era desesperada. Nas cidades e nas vilas, as pessoas passavam fome, a indústria mal conseguia funcionar e os camponeses estavam relutantes em cultivar porque durante a guerra o governo tinha canalizado grandes quantidades de produtos agrícolas para alimentar o exército e a população.
Foi necessário restabelecer e estimular a produção económica e reconstruir os transportes e as comunicações. A liderança revolucionária tomou algumas medidas, conhecidas como a Nova Política Económica, ou NEP. Estas incluíram a reintrodução de alguns mercados privados e várias formas de propriedade e atividade capitalistas — embora o estado socialista tenha mantido o controlo da grande indústria e da banca. E o investimento estrangeiro foi autorizado. Estas medidas eram vistas por Lenine e pela liderança revolucionária como um recuo temporário para reanimar a economia. A NEP conseguiu fazê-lo mas, com o passar do tempo, também deu origem a novos problemas.
Houve uma escassez de alimentos nas cidades, sobretudo com o crescimento da população urbana. As terras tinham sido redistribuídas aos camponeses após a tomada do poder em 1917. Mas, ao longo dos anos 1920, um setor dos camponeses ricos começou a ganhar força na economia rural que ainda era uma economia de pequenos proprietários de base privada. Os camponeses ricos, ou kulaks como eles eram chamados, tinham grandes extensões de terras e estavam a consolidar propriedades ainda maiores. E a NEP tinha dado origem a forças (a expressão popular era “homens NEP”) que dominavam a moagem e comercialização de cereais e o setor financeiro nas zonas rurais. A polarização social entre os kulaks e o campesinato pobre estava a aumentar.27
Estaline e outros membros da liderança sentiam que tinham de agir rapidamente para criar grandes unidades agrícolas nas zonas rurais. Isto iria incrementar a produtividade e cercar os kulaks. Também iria acelerar a “proletarização” dos camponeses, levando mais pessoas para as cidades e a indústria e atenuando as tensões entre a nova sociedade e os camponeses, que continuavam agarrados à propriedade privada.
A coletivização foi um enorme movimento social que atraiu, ativou e se apoiou nos camponeses mais pobres como base dela, e em que se trabalhou para envolver tantas pessoas quanto possível. Trabalhadores voluntários dedicados vindos das cidades foram para as zonas rurais para criar unidades coletivas. Artistas, escritores e cineastas foram para as linhas da frente para contarem as histórias do que estava a acontecer. Foram enviadas bibliotecas ambulantes para as equipas de trabalho nos campos agrícolas. Em algumas regiões, as quintas tinham os seus próprios grupos de teatro. A religião, a superstição e as tradições entorpecedoras da mente foram desafiadas.
As pessoas ergueram a cabeça e começaram a ficar em sintonia com o que estava a acontecer na sociedade em geral. Elas discutiam os planos nacionais e os acontecimentos nacionais. As mulheres, cujas vidas tinham sido definidas por uma tradição opressora e por obrigações patriarcais, passaram a ter funções como motoristas de tratores e dirigentes das unidades coletivas.28
P: Mas a coletivização enfrentou muita resistência.
RL: Sim. Por um lado, isso teve a ver com a luta de classes nas zonas rurais — onde os kulaks e outras forças tradicionalmente privilegiadas se estavam a entrincheirar e a mobilizar a resistência às mudanças e às forças sociais de que tenho estado a falar. Esse foi o aspecto principal.
Por outro lado, alguma dessa resistência estava ligada a erros que foram cometidos. Mao escreveu sobre isto nos anos 1950. Ao mesmo tempo que reconhecia o caráter extraordinário e sem precedentes da coletivização na União Soviética, também fez sérias críticas à maneira como Estaline a abordou. A coletivização ocorreu antes de os camponeses terem ganho experiência de cooperação entre eles, de trabalharem os campos e usarem as ferramentas de uma maneira cooperativa. Não tinha sido feito suficiente trabalho político e ideológico para criar uma compreensão e uma atmosfera que permitissem aos camponeses agirem de uma maneira mais consciente para chegarem à propriedade social coletiva. E o estado aprovisionava-se de demasiados cereais das zonas rurais — isto exerceu uma pressão desnecessária sobre os camponeses e criou ressentimento.29
Mudar as circunstâncias e mudar a maneira de pensar
P: Espera, que queres dizer com “trabalho ideológico”?
RL: Quero dizer o trabalho para mudar não só o que as pessoas fazem, mas também para as ganhar para pensarem de novas maneiras e para, com base nisso, libertarem a iniciativa delas para transformarem o mundo. A vida dos pequenos camponeses — em que cada um possui a sua própria terra, sobrevivendo ou não através dos seus próprios esforços, em oposição a outros que competem com eles — coloca-os uns contra os outros, e isto molda a maneira de pensar deles. Estaline tendia a pensar que, se a agricultura fosse mecanizada e coletivizada, a maneira de pensar das pessoas seria transformada mais ou menos naturalmente; mas o processo global é muito mais complexo que isto, e na verdade é necessário trabalhar para transformar não só o que as pessoas pensam, mas também como as pessoas pensam, muito antes da revolução E TAMBÉM ao longo de cada fase dela. Como referi, isto foi assinalado por Mao e é algo sobre o qual Bob Avakian [BA] construiu e elevou a um novo nível na nova síntese do comunismo.
Portanto, para voltar a Estaline, ele estava a tentar resolver problemas reais na sociedade, como a maneira de avançar e sair da agricultura privada numa altura em que a União Soviética enfrentava um cerco internacional. Mas, como mencionei, a abordagem foi algo mecânica; ele via a criação de níveis mais elevados de propriedade e quintas maiores com tecnologia mais avançada como o nó da questão... e menosprezou a dimensão ideológica em geral e não compreendeu que os valores e a maneira de pensar das pessoas têm de mudar, que as relações delas entre si na produção e na sociedade têm de mudar e que a liderança tem de estar a trabalhar nisto.30
O mesmo problema existia na abordagem à planificação industrial — uma visão mecânica de que ao se construir uma indústria pesada socialista se estaria a garantir as bases materiais para o socialismo. Mas, como disse Mao, e isto aconteceu anos depois, “De que serve a propriedade estatal das fábricas e dos armazéns, se não se fomentam os valores de cooperação?” E o desenvolvimento económico socialista tem de ser orientado para a redução das diferenças entre indústria e agricultura, entre trabalho intelectual e trabalho manual, entre operários e camponeses. Estaline deu alguma atenção à eliminação destas contradições, mas isto era visto como uma tarefa secundária em relação à criação de uma base agroindustrial mais moderna.31
Um ponto de viragem: A revolução é esmagada na Alemanha e os nazis chegam ao poder
P: Tal como eu compreendo isto, houve uma clara viragem para políticas mais conservadoras, por assim dizer, na sociedade soviética em geral, a partir de meados dos anos 1930. Isto é verdade? E, nesse caso, por quê?
RL: A liderança e as massas soviéticas não puderam escolher as circunstâncias para fazerem, defenderem e desenvolverem a revolução. E, em meados dos anos 1930, a revolução estava sob um duro ataque e a enfrentar uma situação mundial muito desfavorável e perigosa. Em 1931, o Japão invadiu a Manchúria, na fronteira oriental da União Soviética. Em 1933, o partido nazi, encabeçado por Hitler, consolidou o seu poder na Alemanha.
Como já referi, a liderança soviética tinha estado à espera que houvesse uma revolução na Alemanha. Mas o regime nazi esmagou efetivamente o Partido Comunista da Alemanha e iniciou um programa de militarização. Ao mesmo tempo, as forças pró-fascistas tinham ganho força na Hungria, na Bulgária, na Roménia e nos países bálticos, incluindo na Polónia. Em Espanha, as potências ocidentais mantiveram-se de braços cruzados quando o General Franco encabeçou uma insurreição contra a República Espanhola, com a ajuda ativa de Hitler e Mussolini. A Alemanha e o Japão tinham assinado um Pacto Antissoviético.
O crescente perigo de uma guerra inter-imperialista e a probabilidade de um massivo ataque imperialista contra a União Soviética estavam a moldar profundamente a política económica e social na União Soviética.
P: Então, quais foram as implicações disso?
RL: A guerra estava a aproximar-se. E, tal como aconteceu com todos os desafios que a revolução soviética enfrentou, não havia nenhuma experiência histórica anterior de lidar com a magnitude de uma situação como essa — a probabilidade de um ataque total do imperialismo alemão contra a União Soviética. Estaline e a liderança soviética abordaram isto de uma certa maneira. A avaliação deles era que tinha havido um grande salto na propriedade estatal socialista e no desenvolvimento das forças produtivas. E que era tempo de porem mãos à obra e se prepararem para a eventualidade de uma guerra.
Houve um ímpeto para uma maior disciplina e uma aceleração da produção nas fábricas para que tivessem capacidade de fazer a guerra. Houve uma grande ênfase em medidas administrativas, em incentivos materiais (pagando mais às pessoas para trabalharem mais arduamente) e em técnicas de gestão e na tecnologia.
A experimentação radical social e cultural dos anos 1920 e início dos anos 1930 foi restringida. Foi vista como sendo demasiado afastada das tarefas urgentes da produção e da política e demasiado alienantes para as vastas fileiras dos trabalhadores e dos novos estratos técnicos recém-instruídos que se estavam a unir em torno do regime.
Foi dada prioridade à unidade face à crescente ameaça de guerra — e a unidade estava a ser forjada em torno de uma espécie de patriotismo nacional.
A nível internacional, a União Soviética estava a apelar e a tentar construir uma frente única global contra as potências imperialistas fascistas. Isto subordinou, e sacrificou mesmo, as lutas revolucionárias em vários pontos do mundo à meta da defesa da União Soviética. A liderança soviética via a defesa da União Soviética como a mesma coisa que os interesses da revolução mundial.
Tudo isto era muito problemático. Ia contra, e estava em contradição com, o que a revolução representava e com o seu caráter principal global. A revolução enfrentava a necessidade de se preparar para um ataque e uma guerra que poderiam destruir toda a revolução. Isto era algo real e monumental. Mas a abordagem de Estaline tinha sérias falhas.
Erros e reveses
P: Podes elaborar um pouco mais sobre isso — ou seja, como é que justificaram essa mudança de abordagem?
RL: Bem, já falei sobre a tendência de Estaline para ver as coisas de uma maneira mecânica e estática — ou seja, para não ver que há contradições no interior das sociedades, dos processos, dos indivíduos — na realidade, de tudo — que podem não estar à superfície, mas que de facto estão a impulsionar a mudança no interior de uma coisa. Sabem, é como se estivéssemos a olhar para um ovo e só a ver o que está à superfície, e assim não é possível saber que lá dentro está uma galinha potencial, a qual cresce e cresce e por fim sai para fora desse ovo e se transforma numa coisa completamente diferente.
Esta espécie de maneira de pensar mecânica ou estática infiltrou-se e começou a colorir cada vez mais a conceção dele do socialismo — de que havia um estado socialista que tinha de ser defendido a todo o custo contra a investida que ele via que estava a chegar, e muitas coisas foram justificadas em nome dessa defesa, o que de facto estava a escavar pela base o caráter socialista do estado.
Por exemplo, Estaline começou a fazer concessões a setores da população que ainda eram muito religiosos e tradicionais na sua maneira de pensar, ou que eram fortemente influenciados pelo nacionalismo russo, ou ambas as coisas. Bem, sim, a nova sociedade tinha 15 anos — mas uma coisa que aprendemos é que há grandes setores do povo que não abdicam dessa velha maneira de pensar da noite para o dia. Portanto, isto cria desafios em termos de se levar a cabo a luta ideológica, de se fazer o trabalho educativo e de se promover uma mundivisão científica na sociedade, ao mesmo tempo que se defende o direito ao culto religioso. Mas, da maneira como Estaline via isto, era necessário fazer concessões a esse tipo de maneiras de pensar e a esse tipo de forças, como a Igreja Ortodoxa Russa, para, da maneira como Estaline via isto, se fortalecer a unidade para o esforço de guerra.
O governo também começou a fazer marcha atrás em alguns dos avanços anteriores em relação às mulheres e aos homossexuais, por exemplo. Alguns dos tremendos avanços de que falei antes, e que nessa altura eram únicos no mundo — incluindo o direito ao aborto —, foram invertidos. Também foram invertidos os direitos dos homossexuais. E, de uma maneira mais geral, a família tradicional começou a ser enaltecida e as relações tradicionais começaram a ser reforçadas. Isto foi simultaneamente um erro muito grave e um indício de uma certa falta de profundidade na compreensão da importância das relações de género na transformação global da sociedade. E este tipo de coisas baseava-se, repito, no pressuposto de que o caráter socialista da sociedade estava mais ou menos assegurado e de que a principal coisa que era necessário fazer era defendê-la.
Bem, não quero de maneira nenhuma minimizar a dimensão da ameaça que a União Soviética enfrentava. Estaline e as pessoas à volta dele foram as primeiras pessoas a dirigir um estado socialista, tinham a enorme responsabilidade de o defender e tinham o mais poderoso exército do mundo estacionado à porta com o chefe desse exército a deixar muito claro que tencionava destruir esse país socialista. E recordemos que os nazis estiveram muito próximo de concretizar essa ameaça e que mataram cerca de 26 milhões — sim, 26 milhões! — de habitantes da União Soviética no processo de tentarem fazê-lo.
De maneira nenhuma estou a dizer isto para justificar esses erros. Estou a dizer isto para que de facto compreendamos o que eles enfrentaram e como, face a esse tipo de enorme pressão, devemos e podemos fazer melhor no futuro. E, sem entrar em tudo isto agora, isto sublinha a importância do trabalho desenvolvido por Bob Avakian ao se debater com toda esta experiência, da maneira como ele a abordou, e como, através desse processo, desenvolveu a nova síntese do comunismo.
P: E em relação aos gulags32 e às execuções? Quando se fala em Estaline, esta é provavelmente a primeira coisa de que as pessoas começam a falar.
RL: A situação internacional que acabei de descrever — em que a própria existência da União Soviética estava em risco — também determinou o contexto para as purgas e a repressão de finais dos anos 1930.
Reparem, quando falamos de erros literalmente dolorosos, estamos a referir-nos a parte do que aconteceu no período entre 1936 e 1938. Muitas pessoas inocentes foram alvo da repressão: responsáveis económicos, oficiais militares, membros do partido que tinham estado na oposição nos anos anteriores e outros que foram considerados potenciais fontes de oposição, incluindo pessoas da intelectualidade. Os direitos legais básicos das pessoas foram violados e houve pessoas executadas com base nessas violações. Portanto, isto foi, como referi, doloroso.33
Ora, há duas maneiras diferentes de compreender o que estava a acontecer — e só uma delas serve para se chegar à verdade. Pode declarar-se que Estaline era um monstro, um déspota paranoico que só queria acumular um “poder absoluto” — fim de discussão. Esta é a linha de ataque dos historiadores anticomunistas e dos propagandistas da guerra fria.
Ou pode aplicar-se uma abordagem científica a este momento da história da revolução comunista para se compreender o que aconteceu e por quê. Olha-se para o que Estaline e a liderança soviética estavam de facto a enfrentar nesse momento em termos da certeza virtual de um ataque massivo, olha-se para o facto de que havia efetivamente alguns grupos contrarrevolucionários e alguns elementos no partido e no exército que, perante isso, aparentemente estavam a intrigar com uma ou outra potência imperialista, analisa-se o enquadramento que eles estavam a usar para compreender tudo isso e depois avalia-se o que foi feito politicamente face a isso. E se houve erros — e, como referi, houve, alguns deles muito sérios —, então esforçamo-nos por entender o que é que na compreensão e na abordagem deles a esses problemas deu lugar a esses erros.
Um ponto de orientação
Portanto, quero passar ao que levou a esses erros. Mas antes de o fazer, há outra coisa que quero trazer a esta discussão — como ponto de orientação básica. Mesmo reconhecendo que houve excessos graves, ainda assim, o que aconteceu na União Soviética não se compara minimamente com o que aconteceu em resultado de apenas um evento na história dos EUA: a decisão de Thomas Jefferson de fazer a Compra do Luisiana, a qual desempenhou um papel chave na expansão e no prolongamento da escravatura nos Estados Unidos.
Cem mil escravos, um terço deles crianças, foram vendidos nos mercados de Nova Orleães antes da Guerra da Secessão.34 Os escravos colhiam algodão desde antes do amanhecer a depois do anoitecer. Eles desbravaram pântanos infestados de doenças. Eram obrigados a trabalhar como se fossem bestas de carga. Os esclavagistas parceiros de Jefferson praticaram de uma maneira generalizada e massiva violações, punições bárbaras e mesmo a venda de crianças para longe dos pais delas. Os proprietários de escravos na costa leste dos EUA, incluindo o próprio Jefferson, lucraram enormemente com a expansão dos territórios de escravos. E, no território recém-adquirido, o genocídio contra os povos indígenas ganhou um novo ímpeto terrível.
Thomas Jefferson agiu consciente e metodicamente para expandir e consolidar o sistema de escravatura, literalmente um sistema de propriedade de seres humanos. Ele criou um inferno sobre a Terra que iria durar quase seis décadas, tudo em busca do império e do lucro.35
Ou veja-se a enorme quantidade de assassinatos cometidos pelos EUA durante as últimas décadas num período em que ninguém poderia alegar que eles estavam a enfrentar nenhum tipo de ameaça séria à sua própria existência — e estou a falar dos vários milhões de mortos na Coreia, dos vários milhões mais de mortos na Indochina, das centenas de milhares de mortos e dos milhões de deslocados no Iraque, tudo isto em resultado de intervenções militares diretas dos EUA — e isto sem sequer mencionar as muitas e mortíferas guerras por procuração que patrocinaram na América Latina e em África — e, repito, para quê? Para manterem um sistema mundial de exploração e miséria.
Estaline, por outro lado, cometeu erros, e mesmo erros sérios, numa situação em que a União Soviética estava em condições desesperadas e enfrentava ameaças terríveis. Mas ele fez esses erros no contexto da defesa de uma revolução que abalou o mundo e que visava libertar o mundo da escravatura na sua forma moderna.36
Para se determinar a essência da questão, é preciso julgar qualquer figura histórica, ou qualquer acontecimento histórico, no contexto global do que estava a acontecer, de que interesses vitais estavam em ação e em jogo e de quais eram as metas e os objetivos da pessoa ou grupo em questão. Ao mesmo tempo, como referi, é preciso avaliar a maneira como Estaline e grande parte da liderança soviética compreendiam as tensões e contradições na sociedade e a abordagem deles ao lidarem com isso. E isso tinha problemas sérios.
Dois tipos diferentes de contradições
P: Que queres dizer com isso? Problemas na maneira como ele compreendia as coisas? Isto está ligado ao que referiste antes sobre uma visão estática do socialismo?
RL: Sim. Mencionei antes que, em meados dos anos 1930, a propriedade socialista e coletiva tinha sido estabelecida nos principais setores da economia. As antigas classes proprietárias tinham sido derrubadas e o capitalismo privado tinha sido praticamente transformado.
Estaline concluiu que já não havia uma base económica para a exploração — e portanto já não havia classes antagónicas na sociedade socialista. A compreensão era que havia duas classes não antagónicas: os operários e os camponeses coletivizados, e depois um estrato da nova e velha intelectualidade e de profissionais de colarinho branco. A antiga classe dominante fora derrubada pela revolução e pela guerra civil. Da maneira como Estaline via isto, havia restos da velha ordem — mas, como referi, não havia classes antagónicas, não havia nenhuma força burguesa no interior da sociedade. E esses restos da velha ordem — repito, estou a caracterizar essa compreensão — só poderiam estar a ser apoiados externamente.
Portanto, a ameaça à sociedade soviética era vista como vinda de agentes das classes derrubadas, alimentada e apoiada pelo capital estrangeiro. E havia todo este discurso de espiões e sabotadores estrangeiros, de complôs e conspirações vindas de fora. Havia uma subversão real, mas Estaline tendeu a ver toda a oposição na sociedade como vinda, de alguma maneira, do exterior. E a luta contra a contrarrevolução era vista como uma espécie de operação de contraespionagem. Foi esta maneira de pensar que conduziu aos sérios erros que descrevi anteriormente.
Mas a análise de Estaline era errada. De facto, na sociedade abundavam diferenças de classe e contradições. E nem todas elas vinham do exterior — embora, como tenho vindo a realçar, houvesse uma ameaça de intervenção e de guerra e aquilo que está a acontecer no mundo molda profundamente as lutas na sociedade socialista. Tudo isto foi descoberto por Mao e, com base nisso, ele pôde liderar a Revolução Chinesa com uma maneira profundamente diferente de lidar com estas contradições e os diferentes tipos de luta que elas originam.37 Voltarei a isto mais à frente na entrevista.
Estaline estava a confundir estes dois tipos de contradições. Na sociedade soviética dos anos 1930, havia pessoas que estavam a levantar objeções a diversas políticas do estado socialista — pessoas que de facto estavam em dissensão. Mas Estaline estava a tratar todas estas diferenças como sendo antagónicas, e ligou tudo isso às ameaças externas — à subversão externa. A repressão só deveria ter sido dirigida contra os inimigos. Mas foi usada contra pessoas que estavam a exprimir discordância e contra pessoas que estavam a cometer erros em certas posições de responsabilidade. Como referi, Mao compreendeu este problema e analisou-o de uma maneira mais profunda para chegar à verdade da dinâmica da sociedade socialista. E Bob Avakian tomou por base esta conceção pioneira de Mao, e a experiência da sociedade socialista de uma maneira mais geral, e desenvolveu uma compreensão científica mais profunda da sociedade socialista e uma perspetiva mais alargada da importância da dissensão e da luta entre ideias diferentes nessa sociedade.
Mas Estaline não tinha esta compreensão. E baseou-se em purgas e ações policiais para resolver os problemas — em vez de, e isto foi o que aconteceu durante a Revolução Cultural na China, em vez de mobilizar as massas para tomarem como suas as candentes questões políticas e ideológicas do rumo global da sociedade e para abrir mais as coisas. Em vez disso, houve toda uma abordagem de se entrincheirarem para defenderem o estado socialista.
E houve um sério afastamento do internacionalismo — a União Soviética afastou-se da responsabilidade do estado socialista de promover a revolução mundial. Havia uma perspetiva de que nada era mais importante que proteger o estado socialista e de que, para se fazer isso, quase tudo se justificava — incluindo começar a fazer uma espécie de realpolitik, ou intriga política, com os imperialistas. Bem, só para que fique claro, há um papel para as relações diplomáticas que os estados socialistas estabelecem com os imperialistas — não seria possível esses estados existirem num estado de guerra permanente, por uma razão: é necessário que haja relações comerciais, e outras — mas estas têm de ser na base de princípios, com base na ideia de que essas relações fiquem subordinadas ao avanço da revolução. Mas, com demasiada frequência, ao navegarem durante esse período, isto foi perdido de vista.38
Uma relação crucial:
Fazer avançar a revolução mundial, defender o estado socialista
P: Mas tens vindo a realçar a necessidade real de defender a União Soviética e como isto estava a ter um impacto nas decisões que Estaline estava a tomar.
RL: Sim, mas não havia uma correta compreensão científica disso. Reparem, Bob Avakian identificou — e nenhum líder e teórico comunista antes dele sequer conceptualizou as coisas nestes termos — que há uma contradição real entre defender o estado socialista e fazer avançar a revolução mundial, e isto por vezes pode manifestar-se de uma maneira muito aguda. Isto é um elemento chave da nova síntese do comunismo, no seu maior desenvolvimento da ciência do comunismo.
Não se pode deixar que os imperialistas simplesmente destruam a nova sociedade socialista. Ela tem de ser defendida. Mas isto pode entrar em contradição com o apoio à revolução noutras partes do mundo — em termos de onde estamos a colocar recursos, de como se faz a diplomacia e de como se organiza a sociedade socialista e se preparam as pessoas no plano ideológico em termos de fazerem sacrifícios pela revolução mundial em geral. Portanto, é necessário reconhecer esta contradição e aprender a lidar com ela.
Estaline — e mesmo Mao, mais tarde, quando liderou a revolução na China — tendia a equiparar a defesa do estado socialista com uma atuação em defesa dos interesses do avanço da revolução mundial. E, repito, ao se avaliar isto, é preciso recordar que esta foi a primeira vez que alguém alguma vez teve de enfrentar uma situação destas e que não havia nenhuma experiência anterior em que se basearem, é preciso recordar a ameaça real e existencial que eles enfrentavam e é preciso recordar que estes dois líderes nunca vacilaram perante o imperialismo e que Mao, em particular, lutou pela revolução e produziu avanços na revolução até à sua própria morte. Mas isto equivalia objetivamente a pôr a defesa do estado socialista acima do avanço da revolução mundial.
Não é que Estaline e Mao se tenham proposto, de uma maneira consciente, a subordinar a revolução mundial à defesa de um país socialista. Em vez disso, dado que eles compreenderam esta contradição extremamente complexa e aguda de uma determinada maneira linear — a revolução triunfaria neste país, depois naquele país, e a revolução mundial prosseguiria através de um processo de defender e acrescentar novos países socialistas — devido a essa compreensão, eles cometeram erros de política.
Ao penetrar profundamente nisto, Bob Avakian desenvolveu uma nova compreensão científica: o principal papel do estado socialista é ser uma zona libertada para o avanço da revolução mundial. Tem de se defender a si mesmo com base nisso e estar preparado para arriscar a sua sobrevivência nos períodos em que a revolução mundial possa fazer grandes avanços. E, em tudo isto, tem de lidar corretamente com as contradições reais e muito difíceis que estão envolvidas.39
Portanto, estas são algumas lições importantes do que estava a acontecer na União Soviética nos anos 1930.
P: E, claro, depois a União Soviética foi invadida pelo imperialismo alemão em 1941.
RL: Sabem, a história da União Soviética, quando ela era socialista, foi a história de uma sociedade a fazer a guerra, a preparar-se para a guerra, ou a sarar as feridas da guerra. Em junho de 1941, os nazis invadiram a União Soviética. Lançaram o exército mais moderno do mundo e a maior parte do seu poderio militar contra os soviéticos. Hitler deixou bem claro às tropas dele que esperava que elas abandonassem todos os princípios de humanidade no que iria ser uma guerra de aniquilação total.40
Os soviéticos lutaram com incrível heroísmo. Vinte e seis milhões de cidadãos soviéticos perderam a vida na Segunda Guerra Mundial, mais de um em cada oito habitantes.
Mas havia esta contradição. A União Soviética saiu militarmente vitoriosa da Segunda Guerra Mundial. Mas a revolução estava política e ideologicamente debilitada. Com isto quero dizer que os erros que antes descrevi tinham corroído e minado a maneira como as pessoas compreendiam as metas da revolução comunista e tinham reforçado de facto as debilidades na maneira como as pessoas estavam a tentar compreender o mundo e como o transformar. As pessoas continuavam a lutar pela construção do socialismo e a recusar-se a ceder ao imperialismo, e isto estava definitivamente a ser liderado por Estaline. Mas elas também tinham sido confundidas na sua compreensão da diferença entre nacionalismo e internacionalismo, entre revolução e reforma, e sobre o que realmente constituiu uma abordagem científica à natureza e à sociedade.
Depois da morte de Estaline em 1953, novas forças burguesas dentro do Partido Comunista manobraram para tomar o poder; e, em 1956, Nikita Khrushchev, um alto responsável do partido e do governo, tomou as rédeas do poder, consolidou o domínio de uma nova classe capitalista e dirigiu a reestruturação sistemática da União Soviética numa sociedade de capitalismo de estado.41 Isto representou o fim do primeiro estado proletário.
P: Então, como pões isto em perspetiva?
RL: A revolução soviética foi um levantamento de escravos com uma liderança comunista de vanguarda — e para forjar uma maneira completamente nova de organizar e administrar a sociedade, uma maneira completamente nova de se relacionarem com o mundo — não para o saquear e conquistar, mas para contribuir para a emancipação da humanidade. A sua derrota foi um amargo revés, e foi-o ainda mais devido ao facto de nessa altura as pessoas não terem as ferramentas científicas para compreenderem o caráter e a fonte dessa derrota.
Apesar dos erros que descrevi, a revolução de 1917–56 representou os primeiros passos, à parte a efémera Comuna de Paris, no caminho da emancipação, rumo a um mundo livre da opressão e da exploração. Inspirou as pessoas em todo o mundo. Mas esse caminho tem de ser forjado — a compreensão do que vai ser necessário fazer tem de ser aprofundada e alargada. Não ocorre de uma maneira automática ou espontânea. Há uma “curva de aprendizagem”, por assim dizer.
Mas para se aprender, e aprender profundamente, é necessária uma compreensão científica da sociedade e de como a transformar. É necessário um maior desenvolvimento dessa ciência... Estou a falar da ciência do comunismo. É uma questão de identificar e analisar os problemas e desafios no processo de chegar a um mundo sem classes — e de forjar soluções e desenvolver novos discernimentos de como compreender o que se está a enfrentar.
Isso foi o que fez Mao Tsétung, o líder da revolução chinesa — ele elevou o projeto da emancipação, a revolução comunista, a todo um novo nível de compreensão e prática. Isso constituiu um novo avanço para a humanidade, mais radical e mais emancipador. E é disso que vamos falar a seguir.
Notas
11 Sobre o contexto da Primeira Guerra Mundial, ver Eric Hobsbawm, A Era do Império 1875–1914 (Lisboa: Editorial Presença, 1990), Cap. 13; e Raymond Lotta, America in Decline [América em Declínio] (Chicago: Banner Press, 1984), p. 174–187.
12 Para uma breve explicação do contexto social da Revolução Bolchevique, ver Sheila Fitzpatrick, A Revolução Russa (Lisboa: Tinta da China, 2017), Cap. 1.
13 Para um relato de um participante na Revolução de Outubro, ver John Reed, Dez Dias Que Abalaram o Mundo (Edição portuguesa: Jornal do Fundão, 1974. Edição brasileira: Penguin-Companhia, 2010). O filme de 1928 realizado por Sergei M. Eisenstein, Outubro, está disponível online em archive.org/details/Eisenstein-October (em inglês). O filme de Warren Beatty de 1981, Reds [Vermelhos, distribuído em Portugal e no Brasil em 1982 com o título original em inglês — NT], é um relato ficcionado da vida de Reed tendo como pano de fundo o extraordinário alcance da Revolução Russa e está disponível dublado em português do Brasil em ok.ru/video/209240263232.
Ver também The History of the Civil War in the USSR [A História da Guerra Civil na URSS], Vol. 1 (New York: International Publishers, 1937); e John L. H. Keep, The Russian Revolution: A Study in Mass Mobilization [A Revolução Russa: Um Estudo sobre a Mobilização de Massas] (New York: W.W. Norton, 1976).
14 Sobre a Guerra Civil, ver E. H. Carr, Historia da Rússia Soviética: A Revolução Bolchevique 1917–1923, Vol. 2 (Porto: Edições Afrontamento, 1977); e Bruce W. Lincoln, Red Victory: A History of the Russian Civil War [Vitória Vermelha: Uma História da Guerra Civil Russa] (New York: Simon & Schuster, 1989).
15 Sobre a política e a prática bolcheviques, ver por exemplo, Richard Stites, The Women’s Liberation Movement in Russia: Feminism, Nihilism, and Bolshevism, 1860–1930 [O Movimento de Libertação da Mulher na Rússia: Feminismo, Niilismo e Bolchevismo, 1860–1930] (Princeton, NJ: Princeton Univ. Press, 1978); e Wendy Z. Goldman, Mulher, Estado e Revolução: Política Familiar e Vida Social Soviéticas, 1917–1936 (São Paulo: Boitempo/Iskra Edições, 2014).
16 O telefilme de 2004 de Katja von Garnier, Iron Jawed Angels (Pulsos de Ferro em Portugal, Anjos Rebeldes no Brasil), centra-se no movimento das sufragistas da década de 1910 nos Estados Unidos e conta a história verídica da prisão de um grupo de mulheres manifestantes e a maneira como, quando entraram em greve da fome, as autoridades as alimentaram à força.
17 Ver, por exemplo, Marianne Kamp, The New Woman in Uzbekistan: Islam, Modernity, and Unveiling under Communism [A Nova Mulher no Uzbequistão: Islão, Modernidade e o Abandono do Véu no Comunismo] (Seattle, WA: Univ. of Washington Press, 2008); ver também Adrienne Lynn Edgar, “Emancipation of the Unveiled: Turkmen Women Under Soviet Rule, 1924–29” [“A emancipação das mulheres sem véu: As mulheres turcomanas no regime soviético, 1924–29”], The Russian Review 62 (Janeiro de 2003) para uma análise da luta contra o “dote nupcial” e outras práticas feudais e patriarcais semelhantes na Ásia Central.
18 Sobre a abordagem e os sucessos da revolução bolchevique na expansão do ensino às minorias nacionais, na garantia da igualdade de idiomas e na promoção do ensino nos idiomas nativos, ver por exemplo, Jeremy Smith, “The Education of National Minorities: The Early Soviet Experience” [“O Ensino nas Minorias Nacionais: A Experiência Soviética Inicial”], Slavonic and East European Review 75, n.º 2 (Abril de 1997).
19 Ver Terry Martin, Affirmative Action Empire: Nations and Nationalism in the Soviet Union, 1923–1939 [O Império da Ação Afirmativa: Nações e Nacionalismo na União Soviética, 1923–1939] (Ithaca, NY: Cornell Univ. Press, 2001) para conhecer importante material factual sobre a política e a prática em relação às nacionalidades na União Soviética desde 1917 até ao final da Segunda Guerra Mundial.
20 Ver Arno Mayer, Why Did The Heavens Not Darken [Por Que não Escureceram os Céus] (New York: Pantheon, 1988), p. 55–89. Para uma narrativa e um relato visual da criação da Região Autónoma Judaica na União Soviética, ver Robert Weinberg, Stalin’s Forgotten Zion: Birobidzhan and the Making of a Soviet Jewish Homeland [O Sião Esquecido de Estaline: Birobidzhan e a Criação de Uma Pátria Judaica Soviética] (Berkeley: Univ. of California Press, 1998).
21 Ver Cameron McWhirter, Red Summer: The Summer of 1919 and the Awakening of Black America [Verão Vermelho: O Verão de 1919 e o Despertar da América Negra] (New York: St. Martin’s Griffin, 2012); e Robert Whitaker, On the Laps of Gods: The Red Summer of 1919 and the Struggle for Justice That Remade a Nation [Ao Colo dos Deuses: O Verão Vermelho de 1919 e a Luta pela Justiça Que Refez Uma Nação] (New York: Random House, Inc., 2008).
22 Ver Philip Foner, ed., Paul Robeson Speaks: The Negro and the Soviet Union [Fala Paul Robeson: Os Negros e a União Soviética] (New York: Citadel, 2002), p. 240; e Martin Duberman, Paul Robeson (New York: Knopf, 1989).
23 Aleksander Mikhailovich Rodchenko (1891–1956) foi um pintor, escultor, fotógrafo e designer gráfico, um dos fundadores do construtivismo e do design russo. Kazimir Severinovich Malevich (1879–1935), pintor e teórico de arte, foi um pioneiro da arte abstrata geométrica. Sergei Mikhailovich Eisenstein (1898–1948) foi realizador e teórico do cinema. Alexander Petrovich Dovzhenko (1894–1956) foi guionista, realizador e produtor de cinema. Eisenstein e Dovzhenko foram pioneiros na teoria da montagem soviética — a técnica cinematográfica de justaposição brusca e rápida de imagens através da edição.
24 Sobre a experimentação nas artes, ver Vladimir Tolstoy, Irina Bibikova e Catherine Cooke (eds.), Street Art of the Revolution: Festivals and Celebrations in Russia, 1918–1933 [A Arte de Rua da Revolução: Festivais e Celebrações na Rússia, 1918–1933] (New York: The Vendome Press, 1990); William G. Rosenberg, ed., Bolshevik Visions: First Phase of the Cultural Revolution in Soviet Russia [Visões Bolcheviques: A Primeira Fase da Revolução Cultural na Rússia Soviética], 2ª Parte (Ann Arbor: Univ. of Michigan Press, 1990); e Richard Stites, Revolutionary Dreams: Utopian Vision and Experimental Life in the Russian Revolution [Sonhos Revolucionários: Visão Utópica e Vida Experimental na Revolução Russa] (New York: Oxford Univ. Press, 1989), chinhnghia.com/Stites_Richard_Revolutionary_Dreams_Utopian_Vision_and_Experimental_Life_in_the_Russian_Revolution.pdf (em inglês). Para ver obras de arte representativas deste período, ver o sitio internet da exposição de 2013 no Museu de Arte Moderna, Inventing Abstraction, 1910–1925: How a Radical Idea Changed Modern Art [Inventando a Abstração, 1910–1925: Como a Ideia Radical Mudou a Arte Moderna], moma.org/interactives/exhibitions/2012/inventingabstraction/ (em inglês).
25 Arno Mayer, The Furies: Violence and Terror in the French and Russian Revolutions [As Fúrias: Violência e Terror nas Revoluções Francesa e Russa] (Princeton, NJ: Princeton Univ. Press, 2001), p. 607.
26 Sobre a experiência inicial da planificação e industrialização socialistas, ver Maurice Dobb, Soviet Economic Development [O Desenvolvimento Económico Soviético] (London: Routledge & Kegan Paul, 1948), capítulos sobre o primeiro e segundo planos quinquenais; E. H. Carr e R. W. Davies, A History of Soviet Russia: Volume 4: Foundations of a Planned Economy 1926–1929 [História da Rússia Soviética, Vol. 4: As Bases de Uma Economia Planificada 1926–1929] (New York: Penguin, 1974); e o livro esgotado de Anna Louise Strong, The Stalin Era [A Era de Estaline] (New York: Mainstream Publishers, 1956), prisoncensorship.info/archive/books/SovietUnion/StalinEra_StrongAL.pdf (em inglês).
27 Dobb, Soviet Economic Development, Cap. 9.
28 Para relatos informativos ver, por exemplo, Maurice Hindus, Red Bread: Collectivization in a Russian Village [Pão Vermelho: A Coletivização numa Aldeia Russa] (Bloomington, IN: Indiana Univ. Press, 1988); Lynne Viola, The Best Sons of the Fatherland: Workers in the Vanguard of Soviet Collectivization [Os Melhores Filhos da Pátria: Os Operários na Vanguarda da Coletivização Soviética] (New York: Oxford Univ. Press, 1989); e Strong, The Stalin Era.
29 Ver, por exemplo, Mao Tsétung, A Critique of Soviet Economics [Uma Crítica da Economia Soviética] (New York: Monthly Review Press, 1977), marx2mao.com/Mao/CSE58.html (em inglês): e “Sobre as dez grandes relações”, em Mao Tsétung, Obras Escolhidas, Vol. V, (Lisboa: Editora Vento de Leste, 1977), p. 339–365.
30 Houve uma fome na União Soviética em 1932–1933. Estaline tem sido acusado de provocar intencionalmente a fome para punir os ucranianos. A razão por que isto é falso e não se baseia em factos é abordada em Raymond Lotta, “The Famine of 1933 in the Soviet Union: What Really Happened, Why it was NOT an ‘Intentional Famine’” [“A fome de 1933 na União Soviética: O que realmente aconteceu e por que NÃO foi uma ‘fome intencional’”], disponível no sítio internet do Projeto “Repor a Verdade”, thisiscommunism.org/ThisIsCommunism/ResearchNotes.html (em inglês).
31 Sobre a abordagem soviética à construção do socialismo e como Mao viria a romper com ela de uma maneira muito significativa, ver Raymond Lotta, Introduction: “Maoist Economics and the Future of Socialism” [Introdução: “A economia maoista e o futuro do socialismo”], em Maoist Economics and the Revolutionary Road to Communism: The Shanghai Textbook on Political Economy [A Economia Maoista e a Via Revolucionária para o Comunismo: O Manual de Xangai sobre Economia Política], Raymond Lotta, ed. (Chicago: Banner Press, 1994), p. iii-xlv, thisiscommunism.org/ThisIsCommunism/ShanghaiTextbookIntroduction.html (em inglês).
32 A palavra gulag é o acrónimo em russo de “Direção Geral de Campos Correcionais de Trabalho e Colonatos de Trabalho”, um sistema de campos de detenção e trabalho.
33 Em parte devido à experiência das anteriores sociedades socialistas e ao que Bob Avakian analisou acerca da importância do estado de direito e da proteção dos direitos individuais, a Constitution for the New Socialist Republic in North America (Draft Proposal) [Constituição para a Nova República Socialista na América do Norte (Projeto de Texto)] (Chicago: RCP Publications, 2010) abole a pena de morte e estabelece procedimentos estritos para a sua utilização temporária unicamente em caso de guerra, invasão, insurreição e outras circunstancias extraordinárias semelhantes. Além disso, as pessoas não seriam detidas nem reprimidas simplesmente por manifestarem desacordo com a política do governo ou com a forma socialista de governo — teria de ser provado um delito concreto. Para saber mais sobre o sistema jurídico proposto nesta Constituição — uma vez mais, a partir do balanço feito por Bob Avakian dos sucessos e também das debilidades das anteriores sociedades socialistas —, ver a Constituição em:
- revcom.us/socialistconstitution/ (em inglês) ou
- revcom.us/constitucionsocialista/ (em castelhano).
Para um ensaio exploratório sobre o que estava a acontecer na União Soviética durante o período das purgas, ver An Historic Contradiction: Fundamentally Changing The World Without “Turning Out the Lights” [Uma contradição histórica: Mudar o mundo de uma maneira fundamental sem “apagar as luzes”], Carta 9: “When the Lights Went Out... Really Went Out: Further Findings and Reflections on the 1930s” [“Quando as luzes se apagaram... realmente se apagaram: Descobertas e reflexões adicionais sobre os anos 1930”]:
- revcom.us/a/193online/lights_out09-en.html (em inglês) e
- revcom.us/a/209/lights_out09-es.html (em castelhano).
34 Walter Johnson, Soul by Soul: Life Inside the Antebellum Slave Market [Alma a Alma: A Vida nos Mercados de Escravos antes da Guerra Civil Norte-Americana] (Cambridge, MA: Harvard Univ. Press, 2001).
35 Sobre Jefferson e a escravatura, ver Henry Wiencek, Master of the Mountain: Thomas Jefferson and His Slaves [O Senhor da Montanha: Thomas Jefferson e os Escravos dele] (New York: Farrar, Straus and Giroux, 2013); e Bob Avakian, “A Question Sharply Posed: Nat Turner or Thomas Jefferson” [“Uma pergunta agudamente colocada: Nat Turner ou Thomas Jefferson”], Revolution/Revolución n.º 301, 14 de abril de 2013:
- revcom.us/a/301/avakian-a-question-sharply-posed-en.html (em inglês) e
- revcom.us/a/301/avakian-una-pregunta-agudamente-planteada-es.html (em castelhano).
36 A espúria teoria anticomunista do “totalitarismo” equipara Estaline a Hitler, a ideologia comunista à ideologia fascista e a ditadura do proletariado aos regimes fascistas. Esta teoria é construída sobre distorções grotescas da verdadeira experiência histórica e das verdadeiras metas e métodos da revolução comunista. E é parte crucial do arsenal ideológico da burguesia, em particular a ideia de que o comunismo só pode levar a uma “utopia transformada em pesadelo”.
Para compreender por que esta teoria é errada, e a conceção do mundo que lhe dá forma, ver a refutação global a Hannah Arendt, talvez a principal proponente desta teoria, em Bob Avakian, Democracy: Can’t We Do Better Than That? [Democracia: Será o Melhor Que Conseguimos?] (Chicago: Banner Press, 1986), p. 167–190; ver também a refutação a Karl Popper, um outro teórico influente do “totalitarismo”, em Bob Avakian, “Marxism as a Science—Refuting Karl Popper” [“O marxismo como ciência — Refutando Karl Popper”], em Making Revolution And Emancipating Humanity [Fazer a Revolução e Emancipar a Humanidade], Revolution/Revolución n.º 110, 25 de novembro de 2007:
- revcom.us/a/110/makingrevolution06-en.html (em inglês) e
- revcom.us/a/110/makingrevolution06-es.html (em castelhano).
37 Mao Tsétung, “Da justa solução das contradições no seio do povo”, em Obras Escolhidas, Vol. V (Lisboa: Editora Vento de Leste, 1977), p. 459–502.
38 Para uma avaliação global de Estaline, ver Bob Avakian, “The Question of Stalin and ‘Stalinism’” [“A questão de Estaline e do ‘estalinismo’”], em The End of a Stage—The Beginning of a New Stage [O Fim de Uma Etapa — O Início de Uma Nova Etapa], revista Revolution n.º 60, outono de 1990 (Chicago: RCP Publications, 1990), p. 13–18:
- revcom.us/avakian/end_beginning.pdf (em inglês) e
- revcom.us/avakian-es/BA-El-fin-de-una-etapa-el-comienzo-de-una-nueva-etapa.pdf (em castelhano).
39 Bob Avakian, “Conquer The World? The International Proletariat Must and Will” [“Conquistar o Mundo? Dever e Destino do Proletariado Internacional”] (1981):
- revcom.us/bob_avakian/conquerworld/ (em inglês) e
- revcom.us/avakian-es/ba-conquistar-el-mundo-deber-y-destino-del-proletariado-internacional-es.html (em castelhano);
Bob Avakian, “Advancing the World Revolutionary Movement: Questions of Strategic Orientation” [“Fazer avançar o movimento revolucionário mundial: Questões de orientação estratégica”], revista Revolution n.º 51, primavera de 1984:
- revcom.us/bob_avakian/advancingworldrevolution/advancingworldrevolution.htm (em inglês) e
- revcom.us/avakian-es/ba-avanzar-el-movimiento-revolucionario-mundial.html (em castelhano);
e a Constituição para a Nova República Socialista na América do Norte (Projeto de Texto).
40 Sobre a União Soviética na Segunda Guerra Mundial, a luta militar contra o imperialismo alemão e o papel de Estaline na liderança do esforço de guerra soviético, ver Geoffrey Roberts, Stalin’s Wars: From World War to Cold War, 1939–1953 [As Guerras de Estaline: Da Guerra Mundial à Guerra Fria, 1939–1953] (New Haven: Yale Univ. Press, 2006). Sobre as raízes e o caráter da Segunda Guerra Mundial, ver Raymond Lotta, America in Decline, p. 205–219.
41 Sobre a restauração do capitalismo na União Soviética em 1956 e o posterior desenvolvimento da União Soviética numa estrutura social-imperialista, ver Raymond Lotta, “Realities of Social Imperialism Versus Dogmas of Cynical Realism: The Dynamics of the Soviet Capital Formation” [“As realidades do social-imperialismo versus os dogmas do realismo cínico: A dinâmica da formação do capital soviético”], em Raymond Lotta vs Albert Szymanski, The Soviet Union: Socialist or Social-Imperialist? Part II, The Question Is Joined [A União Soviética: Socialista ou Social-Imperialista? 2ª Parte, A Questão é Respondida] (Chicago: RCP Publications, 1983), bannedthought.net/USSR/RCP-Docs/SUSoSI/SUSoSI-Lotta-Main.pdf (em inglês).