A verdadeira história da revolução maoista no Tibete
por Mike Ely
1. Quando os dalai-lamas governavam — um inferno na Terra
2. O assalto aos céus
3. Os Guardas Vermelhos e as Comunas Populares
4. Regressa a opressão — após o golpe de estado na China
5. A vida sob o domínio do dalai-lama no exílio
6. Os sonhos terrenos do dalai-lama
Outros artigos posteriores sobre o Tibete:
Os protestos no Tibete e o descontentamento vindo de baixo
(6 de Abril de 2008)
Tibete: Da brutal teocracia à libertação socialista e ao pesadelo capitalista
(6 de Abril de 2008)
Se dois alfaiates anunciarem que têm um tecido de linha mágica que só alguns conseguem ver e que quem o consegue ver pode ajudar o povo tibetano, muita gente reconhecerá aí a história de “O rei vai nu”.
Mas os mitos tecidos à volta do dalai-lama são mais enganadores. Em consequência disso, nos países ocidentais muitos intelectuais, estudantes e artistas crêem que o dalai-lama representa uma justa luta de libertação no Tibete. Vários filmes sobre a vida dele e vários espectáculos musicais têm apelado ao regresso dele ao poder.
Segundo a mitologia desse movimento, o Tibete tradicional era uma sociedade harmoniosa e a Revolução Chinesa de 1949 foi uma invasão que iniciou um longo pesadelo para o povo tibetano. Algumas pessoas até acreditam que apoiar o dalai-lama é uma forma de se oporem ao governo norte-americano, por este ter ligações ao governo chinês.
A realidade é bem o contrário.
No antigo Tibete, o dalai-lama era o líder de uma sociedade feudal opressora. Quando a Revolução Chinesa chegou ao Tibete em 1950, os sacerdotes (chamados lamas) e os aristocratas opuseram-se à libertação dos servos, que viviam em condições de escravatura. Durante os anos 50, o dalai-lama (que se manteve no poder) e a família dele estabeleceram uma relação com a CIA, que financiava e abastecia de armas os levantamentos no Tibete e na vizinha região de Kham. Quando o dalai-lama abandonou o país em 1959, foi acompanhado por dois agentes da CIA (o cozinheiro dele e um radiotelegrafista). No exílio, depois de 1959, a família dele conspirou com a CIA para sabotar as mudanças revolucionárias que estavam a transformar a região.
Será que o dalai-lama é um “combatente da liberdade” ou um “humilde monge” (como o mesmo gosta de dizer)? De forma nenhuma! É um fiel servidor de uma ordem social opressora e uma mascote querida da CIA.
Em 1976, um golpe de estado derrubou os revolucionários maoistas na China e, para grande alegria do Ocidente, um novo governo pró-capitalista dirigido por Deng Xiaoping tomou o poder. Esses acontecimentos tiveram graves consequências para o povo tibetano.
Desde essa data, os imperialistas norte-americanos têm aplicado uma táctica “dúplice” face a esse reaccionário governo chinês e nela o dalai-lama tem desempenhado um papel especial.
Por um lado, os imperialistas têm muitos laços, tanto económicos como geoestratégicos, com a China. A restauração capitalista abriu as portas a novos investimentos e formas de domínio e Washington tem feito tudo o que é possível para aproveitar essas oportunidades.
Mas, por outro lado, também pressiona os dirigentes chineses para que sejam mais submissos às suas exigências. Com esse objectivo tem aproveitado a situação no Tibete e promovido o dalai-lama.
Estas tácticas dúplices têm levado muitos progressistas a pensar que apoiar o dalai-lama e a independência do Tibete (ou seja, o Tibete contra a China) é uma posição justa e de oposição ao imperialismo. Na realidade, estão a deixar-se enganar.
O programa do dalai-lama não tem nada a ver com a libertação do povo tibetano. Ele apela a um acordo entre o governo chinês e a antiga classe dominante tibetana (actualmente no exílio). Quer que lhe devolvam alguns privilégios e um certo grau de influência da hierarquia religiosa e, em troca, oferece-se para ajudar a apaziguar a população com a sua filosofia pacifista. Se bem que o governo chinês não tenha mostrado o menor interesse nessas propostas, o dalai-lama continua a apresentá-las em digressões internacionais.
A verdadeira revolução no Tibete, bem como o papel do dalai-lama, não são como a pintam. Na realidade, a única solução para o povo do Tibete é a luta contra os que restauraram o capitalismo na China, contra os imperialistas norte-americanos e contra todas as potências imperialistas que exploram a mão-de-obra e os recursos da região.
Nós, que vivemos nas entranhas da besta imperialista, temos a obrigação de não nos deixarmos enganar; de examinarmos a roupa do imperador.
A 1ª Parte desta série mostra como a antiga sociedade tibetana era um lugar extremamente opressor: a vasta maioria das pessoas vivia escravizada, brutalizada e explorada por uma minúscula classe dominante de aristocratas e altos lamas (sacerdotes budistas).
As 2ª e 3ª Partes descrevem como os maoistas organizaram as classes oprimidas do Tibete para se libertarem — tomando as terras dos antigos exploradores, abolindo privilégios e superstições feudais com séculos de existência e desenvolvendo novas formas colectivas de propriedade e poder.
Na 4ª Parte desta série mostramos que o golpe de estado reaccionário na China em 1976, após a morte de Mao, levou ao poder forças ANTI-maoistas. Esta restauração do capitalismo inverteu as políticas de Mao em todas as áreas. Em resultado disso, a divisão entre ricos e pobres reemergiu nos campos do Tibete, as políticas chauvinistas da maioria étnica chinesa (han) ameaçaram a cultura e os direitos de minorias étnicas como a tibetana e o poder militar do estado voltou-se contra o próprio povo.
Na 5ª Parte discutimos a natureza de classe das forças do dalai-lama no exílio — descrevendo como a classe dominante tibetana exilada ajudou a criar um exército apoiado pela CIA ao estilo dos contras nicaraguenses e como eles organizaram uma sociedade opressora nos campos de exilados tibetanos na Índia.
Na 6ª Parte continuamos essa análise da natureza de classe do dalai-lama — focando especificamente as suas recentes propostas para o Tibete e mostrando como elas nada têm a ver com a libertação do povo tibetano.
As 6 partes desta série estão disponíveis em formato PDF:
Esta série em 6 partes surgiu originalmente em inglês e em castelhano no jornal Revolutionary Worker/Obrero Revolucionario, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (revcom.us), nos números, datas e ligações abaixo indicados. Tradução: paginavermelha.org. Revisão: Julho de 2024
Título | N.º | Data | Idioma | Ligação |
Introdução/índice | inglês | revcom.us/a/firstvol/tibet/tib-in.htm | ||
castelhano | revcom.us/a/firstvol/tibet/tib-in_s.htm | |||
1ª Parte | 748 e 944 |
20 de Março de 1994 e 15 de Fevereiro de 1998 |
inglês | revcom.us/a/firstvol/tibet/tibet1.htm |
castelhano | revcom.us/a/firstvol/tibet/tibet1s.htm | |||
A vida de uma escrava no Tibete | 748 | 20 de Março de 1994 | inglês | revcom.us/a/firstvol/tibet/tibetsd.htm |
castelhano | revcom.us/a/firstvol/tibet/tbetsd_s.htm | |||
2ª Parte | 749 e 945 |
27 de Março de 1994 e 22 de Fevereiro de 1998 |
inglês | revcom.us/a/firstvol/tibet/tibet2.htm |
castelhano | revcom.us/a/firstvol/tibet/tibet2s.htm | |||
Recrutando jovens rebeldes para a revolução | 749 | 27 de Março de 1994 | inglês | revcom.us/a/firstvol/tibet/rev2.htm |
castelhano | revcom.us/a/firstvol/tibet/rev2_s.htm | |||
3ª Parte | 752 | 17 de Abril de 1994 | inglês | revcom.us/a/firstvol/tibet/tibet3.htm |
castelhano | revcom.us/a/firstvol/tibet/tibet3s.htm | |||
4ª Parte | 764 | 10 de Julho de 1994 | inglês | revcom.us/a/firstvol/tibet/tibet4.htm |
castelhano | revcom.us/a/firstvol/tibet/tibet4s.htm | |||
A devastação revisionista | 764 | 10 de Julho de 1994 | inglês | revcom.us/a/firstvol/tibet/ecol4.htm |
As falsas acusações de “genocídio no tempo de Mao” | 764 | 10 de Julho de 1994 | inglês | revcom.us/a/firstvol/tibet/mao4.htm |
5ª Parte | 765 | 17 de Julho de 1994 | inglês | revcom.us/a/firstvol/tibet/tibet5.htm |
766 | 24 de Julho de 1994 | castelhano | revcom.us/a/firstvol/tibet/tibet5s.htm | |
O dalai-lama e a CIA | 765 | 17 de Julho de 1994 | inglês | revcom.us/a/firstvol/tibet/cia5.htm |
6ª Parte | 767 | 7 de Agosto de 1994 | inglês | revcom.us/a/firstvol/tibet/tibet6.htm |
769 | 21 de Agosto de 1994 | castelhano | revcom.us/a/firstvol/tibet/tibet6s.htm | |
O Dalai-CIA-Lama* | 985 | 6 de Dezembro de 1998 | inglês | revcom.us/a/v20/980-89/985/tibet.htm |
986 | 13 de Dezembro de 1998 | castelhano | revcom.us/a/v20/980-89/986/tibet_s.htm |
* O artigo “O Dalai-CIA-Lama”, apesar de posterior a esta série, foi aqui incluído como anexo para ajudar a ilustrar o verdadeiro papel do dalai-lama.