Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 28 de Março de 2005, aworldtowinns.co.uk

Maoistas do Irão:
“Derrubar a República Islâmica, defrontar a agressão dos EUA”

O que se segue é uma versão abreviada de um artigo da edição de Março (n.º 21) do Haghighat, uma publicação do Partido Comunista do Irão (Marxista-Leninista-Maoista).

Recentemente, George Bush e o seu Secretário de Estado anunciaram que operações militares contra o Irão não estão na sua agenda. Mas os EUA começaram a efectuar operações militares em segredo dentro das fronteiras do Irão. Quais são os objectivos dos EUA no Irão? Como aplicarão o seu plano? E o que é que deve ser feito?

Os EUA querem ter o controlo directo da situação política no Irão e o acesso incondicional aos seus recursos e à força de trabalho do seu povo. Os EUA não têm nenhuma intenção de libertar o povo do Irão, nem de desenvolver a economia do Irão, nem de criar um governo federal para os curdos, nem de assegurar a igualdade de homens e mulheres, nem de acabar com as prisões e a tortura, nem de garantir a liberdade de imprensa e de comunicação. Nada disso faz parte dos objectivos e das políticas dos EUA para o Irão. Essas afirmações não passam de um punhado de mentiras, de propaganda para justificar a intervenção.

Para legitimar a sua intervenção, os EUA fingem que o seu objectivo é uma “mudança de regime” que traga a democracia ao Irão. Nenhuma pessoa inteligente pode acreditar que, depois de estabelecerem o seu controlo no Iraque, os EUA permitiriam um sistema democrático. Isso não é possível e a História nunca testemunhou tal coisa. [Nota do editor: Aqui quer-se dizer não apenas sob a forma de eleições mas de uma verdadeira libertação do povo. Contudo, recordemos que os EUA derrubaram o único governo eleito do Irão, em 1953.]

Os planos dos EUA para uma mudança de regime no Irão têm três dimensões: operações militares em larga escala, operações secretas de comandos e operações políticas. Os EUA podem não implementar imediatamente estes três aspectos na sua totalidade, mas em todo o caso fazem todos parte de um plano global.

Agressão militar em larga escala

Em Outubro de 2004, George Bush aprovou os planos militares do Pentágono contra o Irão. A sua implementação está prevista começar este próximo verão, segundo Scott Ritter, um ex-oficial dos Marines dos EUA e antigo alto-responsável pelas inspecções de armas da ONU no Iraque. Numa intervenção a 19 de Fevereiro em Washington, ele disse que segundo informações secretas que lhe foram fornecidas por uma fonte fidedigna dentro do governo dos EUA, Bush aprovou operações militares no Irão com início em Junho! Isso não significa que essas operações irão necessariamente ter lugar nessa altura, mas quando os planificadores militares avançam com uma data, mesmo que provisória, isso é sério!

Seymour Hersh, um famoso e influente jornalista, publicou um relato completo dos objectivos militares e das operações dos EUA no Irão. O relato baseia-se em informações que recebeu de um antigo alto-funcionário de segurança dos EUA. Hersh escreveu na revista New Yorker (Janeiro de 2005) que o alto-funcionário lhe disse: “Trata-se de uma guerra contra o terrorismo e o Iraque é apenas uma batalha. A Administração Bush está a olhar para [o Médio Oriente] como uma enorme zona de guerra.” Hersh relata que o Pentágono mudou o seu anterior plano militar principal contra o Irão porque, com a ocupação do Afeganistão e do Iraque, a geografia militar do Médio Oriente foi alterada. Os EUA podem agora usar esses países e as suas novas bases militares nas repúblicas centro-asiáticas, bem como as suas bases navais e a armada de navios estacionados no Golfo para montar uma extensa agressão militar contra o Irão. Alguns analistas dizem que os EUA podem lançar apenas parte desse ataque e invadir apenas parte do sul do Irão. Para isso, usariam o gigantesco poderio naval que juntaram no Golfo durante a invasão do Iraque, que nessa altura funcionou essencialmente como apoio.

Operações secretas

Quando e quanto desse extenso plano será posto em acção, ainda não é claro. Mas os EUA já iniciaram as operações secretas. Equipas de comandos norte-americanos e israelitas entraram no Irão de modo a “preparar o campo de batalha”, como eles dizem. Hersh escreveu: “O Presidente assinou [...] uma ordem que autoriza os grupos de comandos secretos e outras unidades das Forças Especiais a levar a cabo operações encobertas contra objectivos terroristas suspeitos em dez países do Médio Oriente e do Sul da Ásia.” E continuou: “A Administração tem organizado missões secretas de reconhecimento dentro do Irão pelo menos desde o verão passado. Muito centradas na acumulação de informações, visam informações sobre as instalações nucleares, químicas e de mísseis iranianos. [...] O objectivo é identificar e isolar três dúzias, ou talvez mais, de objectivos que possam ser destruídos em ataques de precisão e em acções rápidas de comandos.”

Hersh relata que um consultor governamental com ligações ao Pentágono lhe disse: “Os civis do Pentágono querem que se entre no Irão e se destrua tantas infra-estruturas militares quanto possível.” Um antigo alto-funcionário dos serviços secretos contou a Hersh: “Não se trata de saber se vão fazer alguma coisa contra o Irão. Eles já o estão a fazer.”

Hersh escreveu que essas operações estão a ser levadas a cabo em íntima cooperação entre os EUA e forças especiais paquistanesas que usam a fronteira do Afeganistão para entrar no Irão. Também há uma íntima cooperação entre forças norte-americanas e israelitas. Os responsáveis com que Hersh falou para escrever esse artigo mantiveram-nas em segredo, mas Hersh já detalhara as operações de comandos israelitas no Curdistão num anterior artigo na New Yorker.

A maioria dessas operações secretas envolve criar “equipas operacionais” nos países “alvo”. É crucial que os revolucionários conheçam este aspecto dos planos dos EUA. Essas equipas são constituídas por forças locais que levam a cabo operações sob a supervisão de oficiais dos EUA. Parte da sua tarefa é levar a cabo assassinatos, incluindo de figuras da oposição. Explicando quem e que tipo de pessoas formam essas equipas, um antigo alto-funcionário dos serviços secretos disse a Hersh: “As novas regras permitirão à comunidade das Forças Especiais montar o que chamam de ‘equipas de acção’ nos países estrangeiros alvo que podem ser usados para descobrir e eliminar organizações terroristas. Lembra-se dos esquadrões da morte direitistas em El Salvador? [...] Nós criámo-los e financiámo-los. [...] O objectivo deles agora é recrutar gente local em qualquer área que queiramos. [...] Vamos estar a trabalhar com os maus.”

É esta a natureza do tipo de “liberdades” e “democracia” que os EUA querem impor nos países “alvo”. Esquadrões da morte e urnas de voto! O povo iraniano já experimentou esse tipo de “democracia” durante 26 anos!

Operações políticas

Há três anos, Bush denominou o Irão, o Iraque e a Coreia do Norte de “eixo do mal”. Desde então, os EUA têm-se preparado politicamente para uma intervenção política e militar directa no Irão. Uma parte importante desses preparativos tem sido dividir a República Islâmica e conquistar o apoio de uma parte dos membros do regime, bem como de algumas das forças da oposição dentro da República Islâmica, e aliá-los aos elementos monárquicos, abrindo caminho à cooperação política, militar e de segurança entre essas forças e o Pentágono. Mesmo a Organização Mujaheddin Khalq faz parte de toda esta operação, apesar de os EUA a terem colocado na sua lista dita de terroristas.

As operações políticas dos EUA pretendem atingir simultaneamente dois objectivos: desestabilizar a República Islâmica e preparar o regime com que a querem substituir.

Segundo algumas fontes noticiosas norte-americanas, ainda se discute dentro de vários círculos da classe dominante dos EUA a extensão dessa “mudança de regime” e os métodos para a provocar. Um exemplo dessas discussões é o plano recentemente publicado pelo “Comité Sobre o Perigo Actual”.

Este comité é composto por alguns Republicanos influentes. O seu co-presidente é George Shultz, Secretário de Estado durante os anos Reagan. O filho de Shultz é sócio empresarial de Mohsen Rafsanjani [filho de Akbar Rafsanjani, influente mulá iraniano e ex-presidente do Irão] e tem relações chegadas à família de Rafsanjani. O plano desse “comité” pede o afastamento do “Líder Supremo” da República Islâmica, Ali Khamenei [o sucessor de Aiatola Khomeini]. Os autores desse documento dizem que implementando-o talvez possam afastar Khamenei pacificamente e “democratizar” o Irão tal como a Indonésia e o Chile [dois países em que os EUA derrubaram os governos eleitos e instituíram ditaduras militares fascistas]. Esse documento visa Khamenei e os seus apoiantes e promete protecção aos outros líderes da República Islâmica. Diz: “o Líder Supremo Ali Khamenei é uma ameaça fundamental à paz, dado que todos os sinais indicam a sua determinação em desenvolver armas nucleares. [...] Várias estratégias podem ser desenvolvidas rapidamente para fazer pressão no sentido da redução da ameaça e da promoção das mudanças democráticas no Irão.” Os autores sugerem que os EUA tomem as seguintes medidas: 1) Dar a Khamenei um ultimato para suspender as actividades nucleares do Irão e, se essas actividades continuarem, destruir as suas instalações nucleares; 2) apoiar certas forças de oposição e os “democratas” no afastamento de Khamenei e tornar claro que essas pessoas são os novos parceiros escolhidos pelos EUA; 3) Dizer a ONGs para iniciarem actividades no Irão, e a organizações privadas e governamentais norte-americanas de direitos humanos para tornarem o Irão uma prioridade orçamental; 4) A Embaixada dos EUA em Teerão deve ser reaberta para facilitar o desenvolvimento deste plano.

Este é um dos planos. Talvez também haja outros. Em todo o caso, o objectivo dos EUA é monopolizar o controlo sobre os acontecimentos políticos do Irão e manter a iniciativa nas suas próprias mãos. Claramente, os EUA acreditam que a República Islâmica do Irão está à beira de ser derrubada. Os EUA querem tornar-se no líder e arquitecto de todas as “mudanças de regime” que aconteçam no Irão. O objectivo é, em primeiro lugar, impedir o desenvolvimento das forças do povo e, em segundo lugar, impor a sua vontade e fortalecer as suas forças seleccionando e unindo certas facções da República Islâmica, os monárquicos e as forças da oposição. O objectivo principal de tudo isso é assegurar uma presença militar norte-americana sem restrições sob qualquer futuro governo iraniano.

O que é que deve ser feito?

A República Islâmica do Irão deve ser derrubada o mais cedo possível pelas forças do povo e a agressão e a intervenção dos EUA devem ser defrontadas. Esta orientação geral deve guiar a actividade dos partidos e organizações de esquerda, dos intelectuais e trabalhadores progressistas e dos movimentos de massas de estudantes e mulheres.

Os EUA são o país mais poderoso do mundo mas enfrentam perigos mortais a cada passo que dão. O regime iraniano está à beira de ser derrubado, mas isso não significa que o sistema que gerou a República Islâmica vá ser eliminado.

A natureza sanguessuga e exploradora do imperialismo norte-americano não é desconhecida dos comunistas e de um grande sector do povo e dos partidos e organizações amantes da liberdade. Temos a experiência do sequestro da revolução de 1979 [quando os EUA decidiram apoiar Khomeini para não arriscarem um resultado revolucionário depois do derrube do Xá apoiado pelos norte-americanos]. É claro que o imperialismo norte-americano está a trabalhar de mãos dadas com novos e velhos reaccionários, tentando impor uma caricatura de mudança, em vez de verdadeiras mudanças, e impedir o nascimento de uma verdadeira revolução que provocaria mudanças políticas e económicas fundamentais. Uma luta dura e complexa está à nossa frente. As massas populares com as suas aspirações e através dos esforços da sua vanguarda comunista, juntamente com todos os amantes da liberdade, devem ser os iniciadores e organizadores do derrube do regime da República Islâmica e têm que destruir os seus órgãos de poder e o seu exército e agências de segurança. Não podemos permitir que nenhuma potência imperialista dite o grau, a medida e a profundidade da mudança na sociedade iraniana para enganar e redireccionar o movimento popular para o caminho que pretendem. É tarefa das forças militantes organizar – a um ritmo muito acelerado – movimentos de massas dos trabalhadores, estudantes, mulheres e nacionalidades oprimidas com claras posições anti-reaccionárias e anti-imperialistas, para que as próprias massas possam derrubar a República Islâmica e defrontar os planos dos EUA.

Com as suas próprias mãos, o imperialismo norte-americano criou uma enorme crise e fendas dentro das estruturas dos estados do Médio Oriente. Não é claro que os EUA possam colher os resultados a favor dos seus próprios interesses. Um novo capítulo da luta de classes começou no Irão. Há um longo caminho a percorrer antes que possamos chegar à sua conclusão e não é claro que classe a escreverá. Mas a classe operária e as massas do Irão sob a direcção da sua vanguarda comunista estão face a grandes oportunidades para serem eles próprios a escrever essa conclusão. Temos que ousar agarrar esta oportunidade.

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